sexta-feira, 27 de abril de 2007

NOVIDADES A CAMINHO

"NOVIDADES":
Jornal católico pode ser reactivado em breve
O título "Novidades", propriedade da Igreja Católica, poderá brevemente ser reactivado. A notícia foi avançada por João Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Renascença, que falava no âmbito do terceiro e último dia das Jornadas Teológicas de Braga, organizadas pela revista "Cenáculo" e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, em cujas instalações decorreu a iniciativa, subordinada ao tema "Religião: marca de sucesso?".
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quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ares da Primavera

Foto enviada pelo Manuel Olívio, da cidade invicta

PRIMAVERA MENOS FRIA, PRECISA-SE

Já era tempo de a Primavera se instalar de vez perto de nós. As flores, bonitas, desta fotografia que o colaborador Manuel Olívio me enviou lá vão dizendo que os tempos primaveris estiveram na base delas. Mas que o frio ainda não deixou, também é verdade. Podemos concluir que os genes destas flores são bem mais fortes do que a Primavera, que ainda não quis dar uma ajuda.

Um artigo de D. António Marcelino

SELVA DESENCORAJANTE
PARA UM VIVER NORMAL
O rumo que está a levar uma sociedade que prescinde dos valores que humanizam as relações pessoais e dão credibilidade à vida em sociedade não pode deixar de preocupar quem está atento e quer viver com paz, alegria e esperança. Já não falta quem chame a tudo isto uma selva, onde o que de bom e de belo da natureza ainda resta, coexiste com o matagal selvagem que cresce descontroladamente, com a ameaça de tudo sufocar. A selva disfarça bem. Nela há de tudo: animais e plantas raras, feras e pássaros de raça, lagos apaixonantes e pântanos perigosos. Uma sociedade difícil para quem raciocina, fácil para quem especula. Difícil para quem procura o bem comum, cada vez mais fácil para quem pensa apenas nos seus interesses. Fechada para gente com princípios, aberta para extravagâncias e corrupção. Até já é fácil matar com o apoio das leis e o dinheiro do erário público. Continua muito difícil para se responder a situações de pobreza extrema e de vergonhosa incultura. Há nesta sociedade campos de vida que se tornaram desertos áridos, por via de incêndios programados. Campos a descoberto, semeados de venenosas e variadas cicutas, que dão para usar e exportar. Ainda outros, que julgamos baldios abandonados, mas que apenas esperam vez para receber novas culturas de morte. Aqui e além, espaços longos armadilhados por onde uns têm de caminhar temerosos e outros passeiam, com um à vontade desconcertante. Restam, é certo, pequenos jardins, cuidados com amor e zelo e oásis de alguma esperança, que podem, de um momento para o outro, dar lugar a construções vistosas de mero interesse pessoal, a aumentar a riqueza de quem já tem muito, e guarda, por detrás de muros altos, os paraísos do seu deleite e dos convívios reservados aos amigos. O que nos chega todos os dias deixa-nos perplexos sobre a segurança do presente e a esperança do futuro. A nossa sociedade, com os poderes que a governam, sempre preocupada em afinar com a Europa progressista, está perdendo a alma e transforma-se num espaço sem vida e sem interesse. Corre veloz atrás das novidades que surgem, nascidas do engenho de quem tem vocação de incendiário e coração vazio de princípios éticos. Os propósitos inconfessáveis ou, por um tempo, muito bem disfarçados, são gato roubado que não escondeu o rabo e facilmente dá sentido de si. Pelo caminho arrastam ingénuos que só tarde se sentem ludibriados. Haja em vista a recente campanha do referendo e a lei que se seguiu, com a falta de memória de quem não consegue agora engolir o que disse e prometeu, restando-lhe o caminho de se impor por via da força ou com base na lógica de maiorias sem suco. Há tanto para fazer, se quisermos. Convicções com base são mais decisivas que emoções passageiras. É sempre tempo para o mostrar.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

AINDA HÁ TANTO QUE FAZER
PARA SERMOS DIGNOS DE ABRIL
Somos uns eternos insatisfeitos. Está-nos na massa do sangue. E até será bom, se isso for um ponto de partida para ir mais longe, no campo da valorização pessoal e colectiva, seguindo caminhos de respeito pelos outros, pela democracia, pela liberdade, pelo progresso sustentável e pelos valores que enformam a nossa cultura. Nesse pressuposto, o 25 de Abril, que veio abrir caminhos à democracia, à descolonização e ao desenvolvimento, foi uma ocasião única para acertarmos o passo com a Europa e com o mundo, connosco próprios e com as diversas culturas, a quem tínhamos fechado as portas, ao abrigo da máxima de Salazar que defendia o “orgulhosamente sós”. Nem tudo, porém, foi um mar de rosas. Houve progressos, notórios e indiscutíveis, mas muito há ainda por fazer, em todos os campos. Se é verdade que há mais democracia, também é verdade que aí deixamos muito a desejar, quando se sente que a voz do povo nem sempre é ouvida com a devida atenção. Há frequentemente uns tantos que, julgando-se iluminados, querem pensar por todos nós e decidir a seu bel-prazer, tomando decisões que estão a leste dos reais interesses do povo. Aproveitam-se das circunstâncias que os puseram no poder e daí partem para tentarem criar uma sociedade à sua maneira. Foi sempre assim desde o 25 de Abril de 1974. A descolonização deixou traumas que podiam ser evitados. Diz-se que foi a descolonização possível. Não sei se foi. Só sei que ainda hoje há muitos portugueses que sofrem na pele e na alma o facto de terem perdido tudo quanto construíram nas ex-colónias, sem que o Estado português tenha feito seja o que for, de relevante, para minimizar o sofrimento dos que fugiram de terras que julgavam suas também. Quanto ao desenvolvimento, não posso negar o óbvio. Portugal é outro. Já não somos o povo do pé-descalço, do analfabetismo, do atraso a todos os níveis. Um povo fechado ao mundo, temeroso de lutar pela sua dignidade e pelo seu progresso. O Portugal rico era de uns tantos e a maioria comia o pão-que-o-diabo-amassou. Acontece que, mais de 30 anos de democracia e de desenvolvimento deixaram que 20 por cento da população portuguesa continuasse no limiar da pobreza, a passar fome e a não ter capacidade para sair desse fosso. O 25 de Abril, que hoje se celebra por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos. Para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana. Fernando Martins

Uma canção de Abril


SOMOS LIVRES


Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.


Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.


Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.


Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.


Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.


Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.



Letra e música
de Ermelinda Duarte

Um artigo de Alexandre Cruz


A (re)construção
da liberdade


1. Qual presente oferecido que precisa de ser reconhecido e apreciado, na noção de LIBERDADE dos nossos dias encontra-se o decisivo caminho do futuro. As democracias contemporâneas que “acharam” este valor fundamental da liberdade buscam hoje a sua própria preservação. No cuidar da democracia está o zelo pela liberdade; no garantir saudável da liberdade estará a própria essência democrática. Hoje, talvez mais que nunca nesta impressionante mobilidade das ideias e das práticas, ergue-se como premente desfio às sociedades ocidentais a estratégia de não desprestigiar a liberdade alcançada. A própria reflexão dos âmbitos sócio-políticos neste início de século XXI tem dado lugar (e deve dar sempre mais) a este aprofundamento do “valor” dos valores e neste dos alcances da “liberdade”.
2. Há uma geração que sofreu e lutou por ela; há uma outra, mais nova, que a recebe de mão beijada, sem ter a mínima noção do quanto ela custou. Para a geração que a construiu pode-se correr o perigo de se ficar nesse passado, diluindo a responsabilidade cuidada que cada dia essa liberdade exige; para os mais novos, gravemente, pode não se dar o mínimo valor ao presente da liberdade social que se tem o privilégio de viver todos os dias. Novas pontes, novos entendimentos, serão fundamentais para o reequilibrar do barco da liberdade, por um lado não ditando a perder a história que se construiu, mas, por outro, não se ficando na história passada pois cada dia a cada cidadão é pedido o zelo de um mundo livre na responsabilidade.
3. Acolhermos a “liberdade” significará a abertura multifacetada às dimensões fundamentais do ser pessoal e social. Ser livre é ser-com-os-outros! Quantos sistemas sociais, políticos e económicos (construíram e) constroem outras formas de ler a vida em que o “lugar do outro” é apropriação, exploração e exclusão?! Quantas faces demolidoras têm as novas escravaturas que das coisas tecnológicas à não aceitação de pontes com o “outro” e emergência do “medo” vão erguendo barreiras e distâncias?! Quanta (con)fusão entre a autêntica liberdade solidária e a libertinagem individualista que apaga as noções da ética e dos deveres para com a comunidade?! Que noção de liberdade perpassa nas publicitadas formas de comunicar, educar, estar, viver? Como conseguimos “segurar” os referenciais de sempre (para uma plena realização humana) garantindo futuro à própria liberdade?
4. Se há valor transversal que é caminho de plena dignidade humana e horizonte de reconhecimento dos direitos humanos, a LIBERDADE estará sempre nesse patamar urgente que não se pode descurar. Em países e em sociedades onde ela não existe que todos os canais e correntes abram as portas à liberdade humana. Onde a liberdade felizmente é um “hábito” diário, que desperte a atenção na consciência de que há muito caminho para andar carecendo as nossas sociedades ocidentais de um maior aprofundamento social e pessoal da liberdade, que tenha ecos numa ética de justiça social para todos. O caminho da liberdade, na sua verdadeira essência, é um caminho sempre inacabado, pois esta implicará uma reconstrução permanente. Só na base do pensar e querer com seriedade dedicada o bem de todos, e olhando sempre para o futuro, haverá sustentabilidade para a liberdade.
5. Porque é que, muitas vezes, em países que a muito custo, rigor e exigência, “conquistaram” a sua autonomia e liberdade democrática, na fase posterior dá-se a decadência e desagregação social? Havendo na fase de “resistência” toda uma energia motivada na busca desse ideal livre, quando esse ideal se alcança vem ao de cima a verdadeira raiz da noção de liberdade… Tantas vezes essa liberdade (inconsistente) não tem raiz profunda e dá origem a sistemas desviados de corrupção, de conluios de poder, de libertinagem oportunista. Também será de reconhecer que nunca será com liberdade responsável “à força” que o rumo da história atinge o progresso desejado. Só na base da educação (social e pessoal) a liberdade que se procura e alcança terá raiz para (contra os ventos alienantes e as marés do vazio) triunfar aproximando-nos de uma DIGNIDADE HUMANA acolhida, esta que será o expoente máximo da liberdade.
6. Até chegar a esse ideal, e não de forma virtual mas real, a EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE será das tarefas fundamentais das sociedades que desejarem ter futuro a sério! É que a mesma invenção com boa liberdade pode gerar cura, com má liberdade pode iniciar uma calamidade… É importante demais para não haver tempo! Se, por descuido ou inércia, perdermos a grandeza da liberdade, o que nos fica? Como viveremos? Quantos dias sobreviverá a própria democracia? De pais para filhos, de educadores para educandos, conversar sobre as histórias da verdade da vida será gerar e reconstruir as fronteiras da liberdade, nestas garantimos um saudável amanhã!

terça-feira, 24 de abril de 2007

Revolução dos Cravos

Um artigo de António Rego

Se as ciências exactas não são tão exactas quanto se fazem crer, as outras, a grande maioria, com uma infinidade de causas, declinações, cruzamentos, hipóteses, evoluções imprevisíveis e desgaste do tempo, são duma enorme fragilidade de análise. À medida que mergulhamos nos dados da história nos apercebemos da grande humildade que se exige para não dizer apenas sim e não, preto e branco, bom e mau. E ainda menos, provisório ou definitivo. Esta procura não é doentia, nem fruto das convulsões dos tempos. Pelo contrário: cada vez há mais gente cansada do momentâneo e incerto, do relativo e volúvel, da dúvida e incerteza. Daí, possivelmente, o recurso aos absolutos do transcendente, preternatural, para não falar dos mistérios caseiros, curas, cartomancias e benzeduras.
Sendo tecnicamente iguais os anos, horas, minutos e segundos em todos os tempos, percebemos que as análises e desenvolvimentos dependem muito das velocidades da mudança, da correria do tempo nas diferentes tábuas da história.
Ao celebrar-se mais um aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974 sempre se precipitam as análises de ar científico nos acontecimentos desenhados nos últimos anos da nossa história. E a verdade vem ao de cima: crescem analistas embrulhados nas suas próprias experiências, ideologias e dogmatismos. Em cada ano fazem parar a história para repetirem as próprias histórias. Recusam submeter a leitura aos critérios do todo, do tempo, dos contextos. Como se a Revolução dos Cravos fosse o único elemento a atravessar-se na nossa caminhada. Tivesse ou não havido a revolução não estaríamos hoje como em 1974. Multiplicam-se as causas das inúmeras transformações que se operaram na família, na cultura, na política, na Igreja. Requisita-se assim, aos sábios, uma leitura serena dos eventos no seu significado integral e não apenas em meia dúzia de foguetes mais vistosos. A história faz-se com a emersão de elementos escondidos e aparentemente insignificantes que alimentam os grandes troncos. Como a água, humilde e casta que alimenta, sem se ver, as grandes florestas. Ainda estamos muito longe de compreender os factos que irrigaram a nossa história, para esta chegar como chegou até nós.

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