domingo, 24 de dezembro de 2006

NATAL - 20

A Sara Reis da Silva enviou-me este "presente de palavras", com votos de um Natal muito luminoso. Aqui o partilho, com os mesmos votos, com os meus amigos.
DIA DE NATAL
::
Hoje é dia de Natal
Mas o Menino Jesus
nem sequer tem uma cama,
Dorme na palha onde o pus.
Recebi cinco brinquedos
Mais um casaco comprido.
Pobre Menino Jesus,
Faz anos e está despido.
Comi bacalhau e bolos,
Peru, pinhões e pudim.
Só ele não comeu nada
Do que me deram a mim.
Os reis de longe lhe trazem
Tesouros, incenso e mirra.
Se me dessem tais presentes,
Eu cá fazia uma birra.
Às escondidas de todos
Vou pegar-lhe pela mão
E sentá-lo no meu colo
Para ver televisão.
:::
(Poema de Luísa Ducla Soares,
incluído na colectânea «Conto Estrelas em Ti»
- org. por José António Gomes, Campo das Letras, 2000).

sábado, 23 de dezembro de 2006

NATAL - 19

A Virgem Gloriosa e as Sibilas
- Livro de Horas da Duquesa de Borgonha.
Museu Condé, Chantilly
ÚLTIMO NATAL
::
Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça,
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.
In "POESIA COMPLETA", de Miguel Torga

DIREITOS HUMANOS

Bento XVI defendeu que os crentes "devem opor-se a uma ditadura da razão positivista que exclui Deus da vida pública"
Papa diz que mundo muçulmano
deve respeitar os direitos humanos

O mundo muçulmano deve aceitar os direitos humanos e a liberdade religiosa, tal como a Igreja Católica foi pressionada a fazer no passado, defendeu ontem o Papa Bento XVI, no seu discurso de final de ano perante a cúria, que reúne todas as administrações do Vaticano. "O mundo muçulmano encontra-se hoje perante uma missão particularmente urgente, muito semelhante à que foi imposta aos cristãos a partir da época do Iluminismo", disse Bento XVI. Perante este desafio, os crentes "devem opor-se a uma ditadura da razão positivista que exclui Deus da vida pública", acolhendo "as verdades conquistadas pelo Iluminismo, que são os direitos humanos, nomeadamente a liberdade de fé e o seu exercício". Estes valores, sublinhou, "são os elementos essenciais para uma religião autêntica". Três meses após a crise suscitada pelas alusões ao Islão durante uma palestra na Universidade alemã de Ratisbona, e três semanas depois da sua polémica viagem à Turquia, Bento XVI afirmou-se "solidário com todos os que, com base na sua convicção religiosa muçulmana, se empenham contra a violência e a favor de uma sinergia entre a fé e a razão, entre a religião e a liberdade". :

Leia mais no PÚBLICO

NATAL - 18

Relatos dos Evangelhos
na análise do Pe. Carreira das Neves
Posted by Picasa
Adoração dos Magos - Mestre do Sardoal.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
O NASCIMENTO DE JESUS
Jesus nasceu a 25 de Dezembro, foi dado à luz numa gruta, havia burros ou vacas a assistir, os magos eram reis e eram três, houve pastores a adorá-lo, fugiu para o Egipto? As respostas são dadas pelo especialista em Sagrada Escritura, Pe. Joaquim Carreira das Neves:
: Todos os anos, ao celebrarmos o Natal de Jesus, nos encontramos com figuras e factos que evocam a memória desse Natal de há dois mil anos. Vivemos de memórias e somos uma memória viva. Não há história sem memória nem memória sem história. Ao lermos o Evangelho de S. Mateus, nos dois primeiros capítulos, cheios de encanto e significado, passam por nós os reis magos, a estrela, o encontro dos magos com Herodes, a adoração do Menino, a fuga para o Egipto, o massacre dos inocentes, o regresso do Egipto e a vinda para Nazaré, dois anos e tal depois de se refugiarem no Egipto. Porém, ao lermos o Evangelho de S. Lucas, também nos dois primeiros capítulos, deparamos com figuras e factos completamente distintos dos de S. Mateus: o anúncio do nascimento de S. João Baptista a seu pai Zacarias, o anúncio do nascimento e Jesus a sua mãe, através do arcanjo S. Gabriel, a visita de Maria a Santa Isabel, o nascimento e circuncisão de Jesus no Templo de Jerusalém, juntamente com Simeão e Ana, o regresso da Sagrada Família a Nazaré, apenas uns quinze dias depois do nascimento, e, finalmente, o encontro de Jesus no Templo. A apresentação destas figuras e factos tem um objectivo: fazer com que o leitor perceba que as figuras e factos narrados em S. Mateus não são os mesmos que em S. Lucas. De comum, os dois evangelistas só têm a conceição virginal de Jesus e o nascimento em Belém. Não seria mais normal que ambos apresentassem as mesmas figuras e factos?
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Leia mais na ECCLESIA

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

NATAL - 17


A ÁRVORE DE NATAL 



Este Natal, faz uma árvore dentro do teu coração
e pendura nela os nomes
de todos os teus amigos e familiares:
dos que te são próximos e dos mais afastados,
dos antigos e dos recentes,
dos que vês todos os dias
e dos que raramente encontras,
dos que sempre lembras
e dos que por vezes esqueces,
os das horas difíceis
e os dos momentos felizes,
os que magoaste sem querer
ou sem querer te magoaram,
os que conheces profundamente
e aqueles de quem conheces as aparências,
os que pouco te devem
e aqueles a quem deves muito,
os jovens e os mais velhos,
os teus amigos humildes
e os teus amigos importantes,
os que te estimam e admiram sem saberes
e os que amas sem lhes dares a entender.
Pendura os nomes de todos
os que passaram pela tua vida.
Neste Natal arma uma árvore
de raízes profundas,
para que estes nomes não sejam nunca
arrancados da tua vida.
Uma árvore de ramos muito longos,
para que novos nomes vindos de todos os lados
se juntem aos que já existem.
Uma árvore de sombra agradável,
para que a amizade seja
um momento de repouso
no meio das lutas da vida.


In “Advento, Tempo de Oração”,

de Álvaro Ginel e Mari Parxi Ayerra (Edições Salesianas)

CRÓNICA DE VASCO PULIDO VALENTE, NO PÚBLICO

MILHÕES DE POLÍCIAS
Na Inglaterra e na América é politicamente incorrecto, e hoje quase criminoso, festejar o Natal. Porquê? Porque, celebrado com tanta exuberância, o Natal se arrisca a ofender (ou a convencer) os crentes de religiões minoritárias, sobretudo, claro está, os muçulmanos. Mas como não se pode proibir o Natal, coisa que decerto os puristas gostariam de fazer em nome dos direitos do homem, a ortodoxia política tem por enquanto de o camuflar. Isto obriga naturalmente a algumas contorções verbais, a muita hipocrisia e a uma boa dose de intimidação. A "árvore de Natal" passou a "árvore da amizade" e o "jantar de Natal" a "jantar do solstício de Inverno". Os "cartões de Natal" são agora também "cartões da estação" e o "Bom Natal", suponho, "Boa Estação".
Nos países católicos, como Portugal, esta espécie de purga ainda não começou. Mas cá chegará, com o atraso e o zelo do costume. Entretanto, mesmo aqui, o totalitarismo (e uso a palavra deliberadamente) alastra sem sombra de protesto. O comportamento "aceitável" do cidadão comum é regulado e é imposto ao pormenor: e ninguém percebe, ou nota, o que se passa.
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Leia mais no "PÚBLICO"

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

LUTADORES INCANSÁVEIS
NUM MUNDO DESENCONTRADO
Nutri sempre um especial afecto, misturado com uma admiração agradecida, pelos diversos secretários gerais da ONU. Sempre vi neles gente doada a uma causa difícil, se não quase impossível, como é a da justiça, da paz, do entendimento entre os povos, do clamor incómodo dos mais pobres, débeis e indefesos, da verdade sem manobras. O mundo dos grandes é mais dominado por interesses que por projectos de justiça e de paz. Quando falam de paz, com voz de aparente sinceridade, fabricam armas de guerra e de destruição e maquinam formas novas de exploração dos povos indefesos. Dão ajudas de um desvelado patrocínio àqueles a quem antes destruíram vidas e haveres e aos quais mataram, impunemente, os seus sonhos mais que legítimos de ser gente reconhecida e livre. É no meio deste universo de contradições que um secretário geral se move, sempre em sobressalto, sempre consciente que lhe podem retirar o tapete ao primeiro assomo de crítica ou de apelo que vá bulir com interesses constituídos. Muitos dos que se alegram com a sua presença não escondem o incómodo da mesma, porque sabem que a sua tarefa é provocar alarmes de consciência e apontar para quadros sociais que não agradáveis ao olhar, nem convidativos à instalação e ao descartar de responsabilidades. Homens sem tempo para si e para os seus, porque a qualquer momento surgem apelos que não permitem delongas na decisão, nem podem retardar palavras de apoio e gestos de ajuda e compreensão. Só nos Papas dos últimos tempos se pode ver idêntica atenção e imediata intervenção. São todos estes os sempre acordados e atentos, que mostram o rosto de uma Providência que não discrimina, a não ser a favor dos que mais sofrem com as calamidades e os infortúnios da natureza e as injustiças dos homens. Houve nos últimos dias o render da guarda de Kofi Annan. Um africano que, sem complexos, primou por uma disponibilidade sem limites, uma liberdade interior sem peias, uma serenidade lúcida no juízo das situações, uma capacidade de intervenção atempada, sempre frente aos inúmeros incêndios que a política dos interesses, nacionais e internacionais, foi ateando por esse mundo fora. Um homem livre que não dobrou a cerviz ante a força dos grandes, a quem pouco importavam elogios e simpatias. Mais ocupado e rendido aos problemas humanos e sociais, geradores de contínuo sofrimento. Cinco lições para os presumíveis donos do mundo, assim lhes chamou, foram o seu legado de fim de mandato. Nelas insiste na responsabilidade solidária de todos ante as grandes causas da humanidade, do bem-estar à segurança, do respeito pelos direitos humanos à abertura para serem avaliados e prestarem contas pelos actos realizados e deveres não satisfeitos. E não se cala, por fim, ante o escândalo de um Conselho de Segurança que, desde o princípio, quase só existe como garante dos interesses só de alguns, dos grandes como é evidente, mesmo que não dispense outros, ainda que pequenos, como mero ornamento de uma democracia vazia e falsa. Estes não passam de números de favor para se conseguir, com aparente legalidade, efeitos antes já acordados e garantidos. Por via de um testemunho esforçado e apreciável dos sucessivos secretários gerais da ONU, a que os mais honestos da sociedade, a todos os níveis, não podem ficar alheios, os adormecidos vão acordando, os injustiçados tendo voz, os prepotentes descobrindo que têm pés de barro, o mundo desencontrado a ganhar uma crescente consciência de que não é feudo de alguns, mas espaço e oportunidade de todos. O epílogo de um mundo novo em construção, por via dos que não desistem, pode ainda estar longe. Porém, já se vai notando que a esfera vai rodando sem parar e que o sol jamais apagará, enquanto não forem todos, sem privilégios nem discriminações, a beneficiar da mesma luz e calor.

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