domingo, 24 de setembro de 2006

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

Bento XVI contra o Irão
Tudo aconteceu no contexto de uma Vorlesung (lição universitária) e, mesmo admitindo que Bento XVI tenha sido talvez imprudente ao apresentar, no desenvolvimento da sua tese, a já famosa citação e que poderia fazer também uma referência à violência dos cristãos ao longo da História, deve-se reconhecer que não há razões objectivas para a indignação e os protestos do mundo islâmico.
Como se sabe, nas universidades públicas alemãs, há duas faculdades de Teologia: uma católica e outra protestante. Ora, se a fé nada tivesse a ver com a razão, com que direito se justificaria a presença da Teologia na universidade? Daí o tema da lição do professor Joseph Ratzinger na Universidade de Regensburg: "Fé, razão e universidade.
"O conceito moderno de razão baseia-se na síntese entre platonismo (cartesianismo) e empirismo. Só as ciências naturais poderão reivindicar certeza, pois detêm o monopólio da cientificidade, que deriva da sinergia de matemática e experiência. Assim, não admira que as ciências humanas tenham procurado aproximar-se deste critério. Por outro lado, este método exclui o problema de Deus, "fazendo-o aparecer como problema a-científico ou pré-científico".
Torna-se, porém, claro que, nesta concepção, o próprio homem sofre uma redução, já que as perguntas radicais sobre o fundamento e fim últimos e as questões da religião e da ética não encontrariam lugar no espaço da razão universal, devendo ser deslocadas para o âmbito da mera subjectividade.
Não se pode voltar atrás em relação ao iluminismo. Mas impõe-se superar a limitação da ciência ao que é verificável na experimentação e abrir a razão à amplidão de todas as suas dimensões, isto é, não se pode ficar encerrado na razão positivista.
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FLORES

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Com a chuva que aí está, mais o vento, ora brando ora bravo, teremos de nos habituar a uma vida mais triste? Penso que não.
Há flores que murcham e caem, mas outras, mais dadas ao frio, hão-de resistir. Que a vida, como é habitual, precisa da alegria e da beleza que as flores nos dão.
Mas se elas se forem com o vento, que ao menos saibamos alimentar o prazer da espera pelo seu regresso. E até lá, aprendamos a cultivar outras flores, daquelas que nos enchem a alma com as suas cores e aromas: a amizade, a partilha da nossa alegria, o bem que podemos fazer a quem nos cerca, a aposta na construção de um mundo melhor.
F.M.

Gotas do Arco-Íris – 32

ONDE ESTÁ
O COR DE ROSA
NA NOSSA VIDA?
Caríssimo/a: “Nada mais encantador...”
Com estas palavras também a mim me apetece iniciar, pois este gosto por descobrir papéis amarelados leva-me , por vezes, a encontrar iguarias bem inesperadas (ou pelo assunto, ou pela forma da abordagem, ou por quem o escreve, ou por tantas e tantas outras válidas razões....). Desta vez, vou dar voz a Guerra Junqueiro e sereis vós a dizer o que pensais sobre este mais do que invulgar escrito. Vem comigo e delicia-te, pois, por causa das dúvidas, até mantenho a ortografia. É assim: “Nada mais encantador de que essa bela quadra da vida denominada a «lua de mel». A existencia é então uma suave melodia, uma doce ecloga cantada pelo coração, um sonho côr de rosa, um constante sorriso, um extase arrebatador. Nesse alegre arroubamento, as horas deslisam sem as sentirmos, porque do alto da felicidade não se ouvem os remores do mundo; ouvem-se apenas as harmonias celestiais. Os entes embriagados da ventura, esquecem os relogios e os almanaques e tudo o que se prende á vida comum. No poético priodo chamado «lua de mel» dilata-se o coração com a plenitude dos intimos gosos, que são os que mais satisfazem. Quando a igreja sancciona o amor que inspira o ente que nos fez vibrar o coração, o amor augmenta os enthusiasmos por vel-os mais justificados. O amor sanccionado pela igreja é santo, puro, ethéreo e angélico. Os seres dominados por este sentimento immaterialisam-se e aperfeiçoam-se, porque sendo o amor legitimo uma virtude inspira tudo quanto há de bom. Os nossos sentimentos purificam-se nesse fogo sagrado e convertem-se em grinaldas de castas e nacaradas ilusões. Oh! amor santo! Sê sempre o nosso pharol para não nos perdermos no oceano das paixões bastardas. As paixões bastardas nascem na discórdia do mundo; o amor conjugal, no céu. Esse amor de origem tão elevada é sereno e tranquilo; as más paixões são agitadas e tempestuosas. Casar sem amor é profanar o mais respeitavel de todos os sentimentos; casar sem amor é suicidio moral. Os desgraçados que contráem este laço por frios calculos nunca terão «lua de mel». O matrimonio teve por base o afecto mutuo de dois corações. Os seres estreitados por este suave laço reduzem os pezares da vida á metade e centuplicam as felicidades.” O recorte de jornal, onde se encontra o que aí está, tem para mim um sabor muito especial, porque foi extraído de um jornal luso-americano e guardado por meu estimado Sogro (que mourejou como emigrante, nos Estados Unidos, nas décadas de vinte e trinta do século XX). Fica, pois, como um apelo ao cor de rosa na nossa vida. Como está o meu cor de rosa? E o teu? Manuel

O ENCONTRO

ANTIGOS ALUNOS
DA EICA
CONFRATERNIZAM
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No sábado, tive o prazer de participar num encontro de colegas de escola. Da velha Escola Industrial e Comercial de Aveiro, a EICA como era conhecida, e cujo edifício definitivo foi inaugurado fez no passado dia 24 de Maio 50 anos, para substituir instalações provisórias e inadequadas que muitos de nós frequentámos. À roda da mesa, foram desfiadas recordações de há décadas, que o tempo não apaga completamente. Estão bem armazenadas no cofre dos objectos mais preciosos, que foram as nossas vivências de infância e juventude. Umas estão quietas no inconsciente ou subconsciente, acamadas e acomodadas em gavetas que se abrem mais nestas circunstâncias. Outras saltam logo para a luz do dia em encontros ocasionais e nestas confraternizações, como se fossem vividas há meses. Os cabelos ralos ou inexistentes, os bigodes esbranquiçados e as rugas a cobrirem rostos, que há muito tempo eram plenos de jovialidade, não conseguiram esconder os sorrisos e as gargalhadas de sempre, que foram e ainda são as marcas indeléveis das amizades que perduram. Depois das habituais queixas das maleitas que atormentam alguns, de mistura com acepipes saborosos ao gosto da nossa cozinha tradicional, sem arrebiques de modernidades que muito pouco nos dizem, foi agradável recordar professores que nos ensinaram e prepararam para a vida, indicando-nos caminhos de formação contínua, de justiça, de verdade e de paz. Também foi saboroso perguntar por muitos que não puderam estar e foi bonito saber que a grande maioria soube reger-se por critérios de trabalho e de honestidade. Mas comovente foi a evocação dos que já partiram. Para cada nome proferido, para cada nome que nos fez voltar atrás para rir e folgar com esses que agora nos esperam, não faltaram as palmas da saudade que não se esvai. Depois foi o regresso a casa, com a promessa e a garantia do próximo encontro. Para breve. Porque recordar é viver. Fernando Martins

sábado, 23 de setembro de 2006

Um artigo de Francisco Sarsfield Cabral, no DN

Do comunismo
à ameaça islâmica
Estão na moda os paralelismos entre a presente ameaça extremista islâmica ao chamado Ocidente e a ameaça comunista que marcou a guerra fria. Sigamos, então, a onda.
Sendo ideológica, a ameaça comunista era sobretudo militar e geostratégica. Vinha da poderosa União Soviética. Hoje, a revolta do islão fundamentalista contra o Ocidente tem o apoio de alguns Estados, como o Irão, mas parte da "sociedade civil". E inclui nos alvos a abater governantes de países islâmicos, como os da Arábia Saudita.
Sem força militar, o"fascismo islâmico" recorre ao terrorismo, ainda por cima com suicidas. Os comunistas do passado iam menos por aí. Era nas franjas anti-soviéticas da contestação ao capitalismo que surgiam os principais grupos terroristas, como o Baader- Meinhof na Alemanha ou as Brigadas Vermelhas em Itália.
Doutrina ocidental, o marxismo tomou corpo em países atrasados, como a Rússia e a China. Até como via aparentemente rápida para o desenvolvimento, o comunismo atraía povos que se sentiam colonizados e oprimidos pelos Ocidente rico.
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sexta-feira, 22 de setembro de 2006

OUTONO



O Outono vai chegar, com toda a sua carga de melancolia. Hoje, durante todo o dia, bateu à minha porta para entrar. Fui um pouco arrogante quando lhe disse que ainda era cedo. E era verdade. A sua hora, rigorosa como acontece cada ano, chega logo mais, pelas 5.03 horas da madrugada de sábado. Ele que tenha calma.
Na verdade, porém, o vento e a chuva já me garantiram que ele não vai atrasar-se. E eu cá estou para o receber e aceitar, já a pensar na lareira que me há-de aquecer o corpo e a alma nos serões familiares, com um bom livro e boas conversas a obrigarem-me a viajar pelo mundo dos sonhos.
O começo do Outono não acontece sempre na mesma altura, uma vez que esta data é estabelecida a partir de cálculos matemáticos, para se ajustar ao movimento da Terra. Mas uma coisa é certa: mais minuto menos minuto, ele nunca deixa de nos lembrar que a vida está marcada pelo sortilégio das estações, cada uma com os seus encantos.
Já agora, fique a saber que a entrada na hora de Inverno ocorrerá este ano às 2 horas do dia 29 de Outubro, altura em que os relógios deverão ser atrasados 60 minutos em Portugal Continental e na Madeira. No arquipélago dos Açores, a mudança ocorre à 1 hora, devendo os relógios ser atrasados para as zero horas.

F.M.

Um artigo de D. António Marcelino

QUANDO NA EDUCAÇÃO O AMOR É EXIGÊNCIA DE SERIEDADE
Li e recortei, com a intenção de fazer eco deste facto no início do novo ano escolar. Cá estou a concretizar o propósito. Fala-se de uma atitude que contradiz a mentalidade corrente e por isso merece maior menção, pela sua actualidade, importância e sentido. Veio publicado no jornal Publico (28.04.2006) em editorial do seu director. Trata-se de um pai que, ao levar o seu filho à escola para iniciar a aprendizagem, pede ao professor, entre outras coisas, as que seguem: “Faça-o aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas, por favor, diga-lhe que por cada vilão há um herói, que por cada egoísta há também um líder dedicado. Ensine-lhe que por cada inimigo há também um amigo; ensine-lhe que vale mais uma moeda ganha que uma moeda encontrada; ensine-o a perder, mas também a gozar a vitória. Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales. Ensine-o a acreditar em si próprio, mesmo se sozinho contra todos; ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram; ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho; ensine-o a rir quando está triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram; ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão…” O pai que fazia todos estes pedidos ao professor do seu filho foi Abraham Lincoln, 16º presidente dos EUA. Deixou marcas importantes na história do seu país, como a luta contra a escravatura, que lhe valeram perseguição e morte. Um homem com dimensão Ouvimos por estes dias projectos que falam de uma escola para todos, capaz de preparar os alunos para a vida profissional, de modo a ter resultados que honrem o país. Projectos que formem pessoas e as ajudem a ser e não apenas a fazer, passam pouco na conversa dos pais e dos mais responsáveis. A escola que não ajuda a fazer homens abertos e responsáveis, capazes de colaborar, de dialogar e de conviver, de crescer de modo harmónico, capazes de admirar os outros e a beleza da natureza, sérios e críticos, não realiza a sua função. Isto obriga a escola a rever o que é, o que faz, como e quem o faz e qual o sentido. Remendos em vestido velho não o tornam novo. Ensinar para os exames e para as estatísticas de cá e de fora é tão pouco que é nada. Quando haverá coragem no fim de cada ano para examinar o desenvolvimento da personalidade, a capacidade de relação, o amor ao trabalho, o grau de responsabilidade, o respeito pelos outros, a sensibilidade à injustiça e à mentira, o sentido crítico com base em valores? Lincoln queria que o filho fosse um homem equilibrado e sensível e pedia à escola que o ajudasse nesse sentido. Há pais que o que querem hoje é que o filho passe, mesmo que não saiba e arranje depressa emprego, mesmo que tenha de passar por cima de outros, mais capazes e competentes. Quem saiba apreciar dizeres e projectos de governantes, lutas de sindicatos, preocupações de pais, e vá conjugando o seu juízo com as atitudes negativas e desinteressadas do dia a dia por parte de muitos professores e alunos, se tem alguma esperança num futuro positivo para a sociedade, não pode deixar de ficar preocupado. O futuro joga-se, socialmente em grande parte, na família e na escola. Duas aliadas que não se podem separar, nem ignorar. Não podem caminhar paralelas e muito menos agredindo-se mutuamente. Por infelicidade quem vai fazendo história são as minorias protegidas. O comum das pessoas sensatas, que são a grande maioria, deixou de ser considerado. O país pagará preço elevado pelas inércias, miopias e pressões sociais que atingem o nosso sistema educativo, mesmo com a justeza da algumas medidas tomadas.