Páscoa,
o florescer do ideal
1. Se há tempo para tudo, “agora” é Páscoa!
Não é só tradição, agarrada ao passado, como se fosse uma pegada de dinossauro o centro das atenções dos olhares curiosos. Não é isso, é Páscoa, é a vida em jogo! É a “visão pascal”! Ainda que com as doces amêndoas e os cuidadosos folares regionais (com ou sem ovos) a marcarem a sua presença, mas a razão de toda essa rica doçura é mesmo a Páscoa!
São milhares as viagens do norte ao sul, do litoral ao interior, familiares e amigos que nesta quadra encurtam as distâncias e se tornam presentes uns com os outros para partilharem este “momento”. E tudo porque a vida é mesmo para ser vivida, e não para se perder num corre-corre que esqueça as pessoas e os momentos importantes. O ritmo do tempo e dos calendários que marca a nossa vida, traçado no mapa da história que nos precedeu, não existe ao acaso. Em época de florescer da primavera vem a Páscoa lembrar-nos e convidar-nos a robustecer o “ideal”, o “sonho”, a esperança.
É por isso que o tempo não cíclico, não é sempre a mesma “coisa”, os dias de vida por vezes parecendo mas não são iguais; dessa perspectiva do tempo repetitivo, sempre à volta, numa giratória donde não pudéssemos fugir, daí já vimos nós, pois essa foi a fase histórica do pensamento grego que acabaria por ser superada, em qualidade de sentido, pela cultura judeo-cristã. Esta veio dizer-nos que a vida é uma caminhada irrepetível, inclonável, sempre em forma de subida, de aperfeiçoamento histórico até ao (Jesus) Absoluto Pessoal que vence o “tempo” abrindo a história à “eternidade”…
2. Ao falar-se de “Páscoa”, dando significado à palavra e sentido à tradição agora tornada (muitas vezes em excesso) estratégia comercial, quer assinalar-se a pertença a uma continuidade que procura assumir a vida num sentido dinâmico de construção, de “passagem”. É verdade, a vida não é produto descartável, é convite a respirar renovação e esperança! É o maior tesouro e por isso importa bem preservá-lo, cuidá-lo, como a planta…alimentá-lo, regá-lo!
Grandes são as vidas que se conhecem e sabem que no “nada” não se vai a lado nenhum e que só com metas, etapas, itinerários e desafios, se vai subindo a qualidade de vida e do ideal que se procura para ser feliz. Grandes são os que, nesta apressada viagem da história dos nossos dias, vão ganhando sábia equidistância crítica (mas compromisso) em relação a si próprios e à vida da sociedade. O mundo, mesmo o mundo das “rejeições” ao projecto existencial mais profundo de cada ser humano, cada vez mais espera dos que dão sentido pleno à Páscoa, ao Natal, ao Domingo. Estes, simples e inabaláveis nas suas colunas fundamentais do SER, dando sentido ao tempo, encontraram a raiz mais profunda da dignidade humana.
3. “Hoje”, ao acolher-se a “Páscoa”, todas as expressões exteriores de alegria, festa e convívio terão sentido…mas tanto mais pleno quanto mais o tempo que precedeu a Páscoa foi de auto-conhecimento e de exigência construtora. Haverá algum bom atleta que chegue à vitória sem exigente treino?! De modo algum! Assim também nas questões fundamentais da vida e na conquista do ideal que se procura, o “treino” pode-se comparar a este pensar e reforçar do ideal, o que fará florescer sentimentos e dias melhores, que saibam vencer as tempestades da vida.
A “Páscoa”, enquanto “passagem”, faz-nos perguntar sobre “o que fica de nós e em nós(?)” num mundo em que tudo passa. A resposta a esta difícil questão obriga-nos a dar mais valor ao que tem mesmo valor. Haverá Páscoa sem paz e sem sentido renovado de vida e de “fé”? Chegará simplesmente o hábito social?!... Seria como o ir para um banquete de casamento e não comer nem beber nada, tudo ficaria incompleto, a meio do caminho, um puro engano, faltaria o essencial.
A autêntica Páscoa de há dois mil anos, pelo seu “dar a vida” que abre janelas infinitas, ajuda-nos e inspira-nos à renovação de todos os ideais, para que as cores da esperança encham as medidas de cada coração humano!
Paz a todos que habitamos nesta grande casa que é o mundo!...