terça-feira, 4 de abril de 2006

Um artigo de António Rego

A glória de João Paulo II
A celebração do primeiro aniversário da morte de João Paulo II seguiu, por inteiro, o dinamismo pessoal e pastoral de Karol Wojtyla: exposto ao mundo do primeiro ao último momento, tão visível nas horas de brilho e festa como nos momentos frágeis no aspecto, no andar, no falar, no encontro com os povos, com os governos, as Igrejas, e com esse universo incontável de interesseiros que não quiseram perder a oportunidade de serem fotografados com o Papa como peça de currículo. Bento XVI expressou bem todo o percurso, acentuando o seu despojamento progressivo: “Nos últimos anos, o Senhor foi a pouco e pouco privando-o de tudo, para que a Ele se lhe assemelhasse. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé que tocou o coração de tantos homens de boa vontade”. Esteve em pleno na sua imagem, depois apenas no gesto e na voz como aconteceu na última Via Sacra a que presidiu na sua Capela particular onde nem o seu rosto foi mostrado ao público. O mundo seguiu o drama e a festa da vida deste homem que sempre vibrou ao ritmo das comunidades a que presidiu e à Igreja Universal que, como pastor, confirmou vigorosamente na fé.
Dado o seu longo Pontificado, as últimas gerações já não se aperceberão inteiramente das mudanças e sobretudo do ritmo e estilo que ele imprimiu à Igreja no seu original pastoreio.
Tudo mudou. Se o essencial é o mesmo, a forma de o apreender, transmitir e aplicar, altera-se com o tempo, as revoluções culturais, políticas, técnicas e religiosas.
João Paulo II não é isento dos contextos da história na sua vida pessoal, nas perturbações da Polónia, da Europa, no choque da modernidade que ganhou uma explicitação e visibilidade nunca antes vistas, dos dramas de guerra e dos progressos de paz que nunca deixaram de acontecer.
Este todo teceu o seu Pontificado a que imprimiu uma tónica particular. É mais fácil a homenagem que a análise objectiva e pedagógica para a Igreja e para o mundo. Por isso o esfumar-se do tempo ajuda melhor à percepção distanciada da realidade.
Abre-se agora esse período. Da transição do afecto para a clareza dos factos. À frente dos quais está o próprio processo de beatificação que não é alheio a todo o itinerário do Papa Wojtyla.

A Gafanha vista por Júlio Dinis

"IMAGINEI-ME TRANSPORTADO À HOLANDA"
“Escrevo-te de Aveiro. São 7 horas da manhã do histórico dia de S. Miguel. Acabo de me levantar. Acordou-me o silvo da locomotiva. Abri de par em par as janelas a um sol desmaiado que me anuncia o Inverno. A primeira coisa que este sol alumiou para mim, foi a folha de papel em que te escrevo; aproveito-a, como vês, consagrando-te neste dia os meus primeiros pensamentos e o meu primeira quarto de hora. Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela. Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui. A casa em que eu moro fica fronteira à que pertenceu ao José Estêvão. Há ainda vestígios das obras que ele projectava fazer-lhe e que, por sua morte, ficaram incompletas. Tudo isto se vendeu, e dizem que por uma ninharia. Chequei a Aveiro um pouco dominado pela apreensão de que talvez viesse ser infeccionado pelos eflúvios pantanosos da terra e cair atacado por sezões, circunstância que não obstante o colorido local que me havia de dar, nem por isso me havia de ser muito agradável. Nada porém de novo me tem por enquanto sucedido, e continuo passando bem, e, o que é mais, engordando”.
:
Carta escrita em Aveiro,
em 28 de Setembro de 1864,
e dirigida ao seu amigo Custódio Passos

Visita à Costa Nova

COSTA NOVA, RENOVADA, À ESPERA DE VERANEANTES (Para ver melhor clique na foto)

MENSAGEM DE PÁSCOA DO BISPO DE VISEU

Páscoa, Festa da Vida A Páscoa acontece no tempo da primavera, quando a natureza desperta e a vida ressurge e refloresce como que por milagre. Neste contexto natural do ressurgir da vida, a Páscoa cristã celebra a vida ressuscitada de Cristo como explosão de vida nova para o mundo: é, ao mesmo tempo, a festa da vida de Deus em nós, a festa da vida humana renovada em Cristo, a festa da esperança mais forte do que a morte. Por isso, esta festa expande-se: sai das igrejas para as ruas, através da visita pascal, para levar o canto do Aleluia a todas as casas e a todos os corações; comunica-se com um sorriso e um gesto de amizade nas ruas, nos autocarros, no trabalho, na escola, na família, na paróquia, nos hospitais.
O canto pascal do Aleluia mostra que a voz humana não sabe apenas gritar, gemer, chorar, mas também cantar a vida e a sua beleza. Afirma que Jesus Cristo vive, que vale a pena viver e gritar a bondade e a beleza da vida humana, protegê-la, defendê-la e promovê-la em todas as circunstâncias.
A Páscoa propõe-nos pois um programa de vida que compete a cada um acolher e realizar. Anuncio-o e ofereço-o a todos vós, com os votos de que vos ajude a compreender e a viver a alegria da Vida em Cristo e a beleza de levar apoio fraterno a cada existência humana.
Feliz Páscoa em Cristo Ressuscitado! Aleluia!
D. António Marto,
Bispo de Viseu

segunda-feira, 3 de abril de 2006

As nossas paisagens

FAROL DA BARRA DE AVEIRO
Hoje, no meu passeio matinal, um pouco antes de o Sol se ver na sua plenitude, cruzei-me com amigos na Praia da Barra. Captei, na fotografia, o casamento entre o Farol e o Obelisco, cujas inscrições valem como lição de história.
Vi que muitos passavam a correr sem as ler e senti a falta de curiosidade que algumas pessoas ostentam. Acho que não podemos nem devemos andar sempre a correr. De quando em vez vale bem a pena parar e ler o que nos é oferecido, sem nada nos exigirem em troca. Aqui fica a sugestão.

ARTE SACRA: Restauros

RESTAUROS: Todo o cuidado é pouco
Há muitas histórias de restauros (?) de Arte Sacra que me deixam perplexo. Por ignorância de quem os encomenda e por incom-petência de quem os faz. Daí que se exija a uns e a outros que não brinquem com coisas sérias e que consultem quem sabe do assunto, para se evitarem erros que podem levar a perdas irreparáveis.
Portugal é rico em Arte Sacra, o que tem de levar a um redobrado cuidado para se não perder ou prejudicar um património de valor incalculável, normalmente na posse da Igreja Católica. A Arte Sacra exposta nos museus e que, em muitos casos, é património do Estado, está, em princípio, salvaguardada dos ataques de curiosos e de incompetentes. Mas a outra, a que ainda ornamente alguns templos, essa deve merecer de todas as comunidades e dos seus primeiros responsáveis um carinho muito especial e um esforço muito grande de preservação.
Quando for chegada a hora do restauro, que é uma forma de se evitar a morte lenta das peças artísticas, então que se siga a via da consulta a quem sabe, para que o trabalho seja executado com todo o rigor e apoiado em bases científicas.
F.M.

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