ACTIVIDADE CINEMATOGRÁFICA
EM PORTUGAL
A venda, em data recente, do catálogo de 90 filmes portugueses da Madragoa Filme ao grupo PT (Lusomundo), terá sido uma surpresa para muito cinéfilos. Em Portugal, apesar de tudo, vão sendo produzidos alguns filmes. Por que será então que se mantém o seu divórcio com o público?Os filmes produzidos, salvo raras excepções, só se tornam possíveis através de uma significativa comparticipação estatal, através do ICAM. E como tal participação é limitada e os cineastas são muitos, dificilmente haverá quem disponha de tal apoio com a necessária frequência para conseguir exercer o cinema como actividade profissional regular.
Há excepções, é certo, de que Manoel de Oliveira é a mais evidente, mas para a generalidade dos concorrentes ganhar um concurso de atribuição de um subsídio do ICAM não é fácil, e muitas vezes nem é barato para quem concorre sem garantia de vitória. Há que entregar todo o projecto, argumento redigido ou já planificado, desenvolver múltiplos contactos, comprovar situação perante o fisco, etc., etc. Entregue o projecto, depois se verá.
Para vencer tais limitações é frequente o mesmo projecto ser apresentado ano após ano, burilando defeitos, alterando o título ou refundindo boa parte do conteúdo. Mas os resultados, em termos de continuidade de trabalho, não são ideais.Vejamos um exemplo.
Acaba de estrear "Lavado em Lágrimas" de Rosa Coutinho Cabral. Desde há muito ligada ao cinema esta cineasta realizou "Serenidade", sua primeira obra, em 1989. Não foi um êxito, mas era um trabalho promissor. Só cinco anos depois correu em sala e passou por três vezes na RTP. Em 1996 voltou a poder realizar, mas apenas um documentário de 60 minutos, "Cães sem Coleira", esperando depois mais dez anos para ver estrear "Lavado em Lágrimas", em que trabalhou nos tempos mais recentes. Daqui se vê como a falta de treino não poderá deixar de afectar o resultado de cada filme produzido.Francisco Perestrello