OS SÍMBOLOS DA PÁTRIA
DEVIAM MERECER-NOS
O MAIS PROFUNDO RESPEITO
Desde muito novo, fui educado no respeito pelos símbolos nacionais. Em pequeno, para mim, Pátria era o Chefe de Estado, a Bandeira e o Hino Nacionais. Quando os via, apoderava-se de mim um sentimento profundo de admiração, de contemplação, por ver neles significados que nem sabia explicar, de tão profundos eles serem. O mesmo se passava comigo no que diz respeito à religião. O Papa, o Bispo e o meu Prior eram a Igreja Católica, que devíamos amar sem condições.
Hoje tudo é diferente, eu sei, mas também sei que há símbolos que deveriam manter-se sempre numa posição elevada, para que infundissem respeito a todos. Acho que os símbolos da Pátria podiam, portanto, ser olhados desse modo.
Presentemente, no que diz respeito aos símbolos pátrios, continuo a nutrir por eles grande veneração. Mesmo quando o Presidente da República não mereceu o meu voto na hora da eleição, nem assim deixo de o respeitar com toda a sinceridade. E o mesmo se passa com a Bandeira Nacional, que até houve outras muito mais bonitas, e com o Hino Nacional, que inclui na letra versos sem sentido para os nossos dias. Aqui, partilho da ideia do escritor Alçada Baptista, quando defende que a letra do Hino deveria ser revista. Para quê, por exemplo, versos que incitam “às armas” e a lutar “contra os canhões”, quando todos devemos pugnar pelo pacifismo?
Quanto à Bandeira Nacional, choca-me vê-la esfarrapada por aí. A onda do Europeu de Futebol conseguiu acicatar os ânimos dos portugueses e muitos, mas mesmo muitos, mostraram o seu patriotismo içando bandeiras por qualquer canto, nos sítios mais incríveis, deixando-as depois ao abandono. Que bom seria se todos canalizassem o seu amor à Pátria para outros fins, bem mais urgentes do que ganhar um campeonato de futebol. Mas enfim.
Vem isto a propósito de um anúncio publicitário que é envolvido, na televisão, pelo Hino Nacional. Não me parece bem. Já viram como se abriu um precedente que pode levar a resultados muito tristes? E se qualquer dia uma marca de cerveja, de vinho, ou de outra coisa qualquer resolver aproveitar o Hino para as suas campanhas publicitárias? E se outros comerciantes ou industriais habilidosos também quiserem pegar na Bandeira Nacional para promover os seus produtos? E se uma marca de óculos ou de chapéus se lembrar de dizer que o Presidente da República os usa no seu dia-a-dia? Aqui talvez possam dizer: isso é impossível porque não se pode brincar com uma pessoa, que por sinal é o Presidente da República.
Mas poderemos, então, utilizar os outros símbolos da nossa Pátria, sem regras?
Penso, com toda a consideração que tenho pelas ideias dos outros, que os símbolos nacionais nos deviam merecer o mais profundo respeito e veneração.
Fernando Martins