terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Pintura de Almada Negreiros

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Primeiro estudo para a decoração do proscénio do
Teatro Muñoz Seca de Madrid (1929)
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ALMADA NEGREIROS:
ARTISTA POLIVALENTE
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Almada Negreiros, que nasceu e faleceu em Lisboa (1893 e 1970), dedicou toda a sua vida à arte. Foi poeta, teatrólogo, romancista, desenhador e pintor, tendo atingido altos níveis em tudo o que se envolveu, nos mais diversos domínios artísticos. Este estudo foi elaborado para decorar o proscénio do Teatro Muños Seca de Madrid, em 1929, revelando, como em tantas outras das suas obras, um realismo mágico e cheio de geometrias, que justifica a admiração e a consagração que recebeu ainda em vida.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

MAIORIA DE CRIANÇAS FORA DA ESCOLA SÃO MENINAS

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CENTO E QUINZE MILHÕES
DE CRIANÇAS, NO MUNDO,
NÃO FREQUENTAM A ESCOLA PRIMÁRIA
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Cento e quinze milhões de crianças em todo o mundo, a maioria do sexo feminino, não frequentam a escola primária, assinala um relatório da UNICEF sobre os desequilíbrios no acesso à educação de rapazes e raparigas. De acordo com o relatório da organização das Nações Unidas dedicada às crianças, divulgado em Pequim, 46 países estão abaixo da meta de paridade estabelecida para 2005 e noutros o número de crianças na escola continua "inaceitavelmente baixo". A UNICEF estima que apenas os Camarões, o Gabão, o Gana, a Mauritânia e São Tomé e Príncipe poderão alcançar a paridade nas escolas em 2015.
(Para ler mais, clique SOLIDARIEDADE)

SÍMBOLOS NACIONAIS

OS SÍMBOLOS DA PÁTRIA
DEVIAM MERECER-NOS
O MAIS PROFUNDO RESPEITO
Desde muito novo, fui educado no respeito pelos símbolos nacionais. Em pequeno, para mim, Pátria era o Chefe de Estado, a Bandeira e o Hino Nacionais. Quando os via, apoderava-se de mim um sentimento profundo de admiração, de contemplação, por ver neles significados que nem sabia explicar, de tão profundos eles serem. O mesmo se passava comigo no que diz respeito à religião. O Papa, o Bispo e o meu Prior eram a Igreja Católica, que devíamos amar sem condições. Hoje tudo é diferente, eu sei, mas também sei que há símbolos que deveriam manter-se sempre numa posição elevada, para que infundissem respeito a todos. Acho que os símbolos da Pátria podiam, portanto, ser olhados desse modo. Presentemente, no que diz respeito aos símbolos pátrios, continuo a nutrir por eles grande veneração. Mesmo quando o Presidente da República não mereceu o meu voto na hora da eleição, nem assim deixo de o respeitar com toda a sinceridade. E o mesmo se passa com a Bandeira Nacional, que até houve outras muito mais bonitas, e com o Hino Nacional, que inclui na letra versos sem sentido para os nossos dias. Aqui, partilho da ideia do escritor Alçada Baptista, quando defende que a letra do Hino deveria ser revista. Para quê, por exemplo, versos que incitam “às armas” e a lutar “contra os canhões”, quando todos devemos pugnar pelo pacifismo?
Quanto à Bandeira Nacional, choca-me vê-la esfarrapada por aí. A onda do Europeu de Futebol conseguiu acicatar os ânimos dos portugueses e muitos, mas mesmo muitos, mostraram o seu patriotismo içando bandeiras por qualquer canto, nos sítios mais incríveis, deixando-as depois ao abandono. Que bom seria se todos canalizassem o seu amor à Pátria para outros fins, bem mais urgentes do que ganhar um campeonato de futebol. Mas enfim. Vem isto a propósito de um anúncio publicitário que é envolvido, na televisão, pelo Hino Nacional. Não me parece bem. Já viram como se abriu um precedente que pode levar a resultados muito tristes? E se qualquer dia uma marca de cerveja, de vinho, ou de outra coisa qualquer resolver aproveitar o Hino para as suas campanhas publicitárias? E se outros comerciantes ou industriais habilidosos também quiserem pegar na Bandeira Nacional para promover os seus produtos? E se uma marca de óculos ou de chapéus se lembrar de dizer que o Presidente da República os usa no seu dia-a-dia? Aqui talvez possam dizer: isso é impossível porque não se pode brincar com uma pessoa, que por sinal é o Presidente da República. Mas poderemos, então, utilizar os outros símbolos da nossa Pátria, sem regras?
Penso, com toda a consideração que tenho pelas ideias dos outros, que os símbolos nacionais nos deviam merecer o mais profundo respeito e veneração. Fernando Martins

Um artigo de Tiago Mendes, no Diário Económico

O dever do próximo PR
O próximo Presidente da República deverá contribuir – no quadro das suas actuais competências – para a “mudança de paradigma” de que o país precisa. Trocar o apelo recorrente “a todos os portugueses” pelo singular “a cada português” seria um bom começo.
Há uma coisa que faz acreditar que o Natal pode ser todos os dias: os discursos presidenciais. Eles são presença certa todo o ano. Sabemos que o carácter não-executivo do PR e a sua eleição por voto directo concorrem para um quadro ideal de influência na esfera política - acima das questões partidárias e menos dependente dos ciclos eleitorais. Hoje, o dever do próximo PR é simples: contribuir para a “autonomização” do cidadão perante o Estado. O português médio é uma criança que vive à sombra do pai-Estado. Depende e gosta de depender dele. Mais: não pondera que isso possa algum dia mudar. Fala – sempre confiante e em alta voz – nos “direitos adquiridos”. No que concerne à esfera económica, esta forma de pensar enferma de um erro básico: pensar na riqueza como um “dado garantido”. Sucede que a riqueza precisa de ser criada para poder ser redistribuída. Não cai do céu. É estranho que para muitos candidatos presidenciais isto seja tão incompreendido, passadas que estão quase duas décadas sobre 1989.
A sabedoria popular diz-nos que “a necessidade aguça o engenho”. O português médio, que não é estúpido, compreenderá que com tantas garantias estatais, e sem sentir necessidade de arriscar ou precaver o seu futuro, o engenho resultante não poderá ser grande. É preciso soltar amarras. O paternalismo estatal exagerado compromete o nosso futuro. Reduzir o peso do Estado não chega. Urge discutir e implementar uma nova “matriz relacional” que tenha por base a liberdade e a responsabilidade individuais. Isto não é – ao contrário do que alguns querem fazer crer – incompatível com uma visão contratualista e (razoavelmente) solidária da sociedade.
Esse “meio termo” ideal não é fácil de encontrar nem certamente de agradar a todos. Nele, para além da responsabilidade individual, a liberdade anda de mãos dadas com o risco – duas coisas que desagradam o português que gosta do papel de “vítima” e que é tão avesso ao empreendorismo. Mas ninguém disse que o desafio era fácil. Apenas urgente. Por isto, o próximo PR deverá deixar uma mensagem simples a cada português: “não perguntes pelo que o país pode fazer por ti, pergunta pelo que tu podes fazer por ti próprio”. O que se joga no dia 22 é muito claro: contribuir, ainda que mitigadamente, para a mudança de paradigma de que Portugal precisa, ou deixar que tudo continue na mesma. O resto são pormenores.
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tiago.mendes@st-catherines.oxford.ac.uk

PINTURA DE AMADEO DE SOUZA-CARDOSO

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Cozinha de Manhufe
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AMADEO FOI FIGURA CENTRAL
DO MODENISMO PORTUGUÊS
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Amadeo de Souza-Cardoso nasceu em Manhufe, Amarante, em 1887, e faleceu em Espinho, em 1918, vitimado pela pneumónica. Em Paris, frequentou cursos de preparação para a Escola de Belas-Artes e estudou pintura em várias academias livres e na oficina do pintor espanhol Anglada Camarasa.
Relacionou-se, na capital francesa, com alguns dos grandes nomes da pintura, em especial com Modigliani, e em 1914 fixou-se em Manhufe, onde continuou a pintar.
Amadeo de Souza-Cardoso foi uma figura central do Modernismo, devendo-se à sua intervenção a inserção portuguesa na grande aventura da arte moderna europeia.

ENCONTRO NACIONAL DE APOIO SOCIAL AO IMIGRANTE

É URGENTE VALORIZAR A EDUCAÇÃO
PARA A INTERCULTURALIDADE
E PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Decorreu em Fátima, de 13 a 15 deste mês, o VI Encontro Nacional de Apoio Social ao Imigrante, à volta do tema “Outras culturas, a mesma cidadania”. Participaram técnicos e voluntários das Cáritas Diocesanas e dos Secretariados das Migrações, tendo sobressaído destes três dias de reflexão a importância da educação para a interculturalidade e do diálogo inter-religiosos. Na abertura dos trabalhos, D. António Vitalino, Bispo de Beja e Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, valorizou o enriquecimento que resulta do encontro com os outros povos e com outras culturas, enquanto lembrou a exigência do diálogo ecuménico e inter-religioso. :
(Para ler as conclusões, clique aqui)

domingo, 15 de janeiro de 2006

Um artigo de Anselmo Borges, no Diário de Notícias

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Anselmo Borges
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Pastores e magos,
cristianismo e dignidade
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Como tudo o que é finito, a quadra natalícia está marcada pela ambiguidade. Somos "obrigados" a escrever, a telefonar, a este e àquela. Temos de avançar para visitas que nos maçam. Espera-se que se faça o jeito de comer uns pratos e uns doces segundo as convenções. Há uma procissão de presentes que é preciso dar e receber, com alegria disfarçada. Mas também é verdade que há encontros que nos dão o sentimento de plenitude. Parece que nos tornamos melhores durante esses dias. Acontece o pequeno presente de alguém que estimamos sinceramente e que julgávamos definitivamente ausente. Há aconchegos reconfortantes. No meio daquela agitação paralisante, também há ilhas de exultação criadora.
Agora, tudo isso é passado. Regressou o quotidiano, prosaico, baço, exaltante. Já à distância, talvez possamos ir ao que é mais essencial daquela festa mágica, que nos mimou a infância e que alguns dizem que devia ser todos os dias - o Natal.
Mesmo que muitos já se não lembrem disso, o que é facto é que o Natal se refere ao nascimento de Jesus Cristo, figura determinante da história universal. Quer se seja crente quer não, é preciso reconhecer que a ideia de pessoa enquanto dignidade intangível e sujeito de direitos invioláveis, porque divinos, se impôs por causa dos debates à volta da tentativa de compreensão do mistério de Cristo.
Embora, historicamente, os Direitos Humanos tenham tido de abrir caminho contra a Igreja oficial, há quem lembre, não sem razão, que eles têm na sua raiz também a mensagem bíblica, não sendo por acaso que "nasceram" em sociedades marcadas pelo cristianismo.
Pensadores da estatura de Hegel, Ernst Bloch e Jürgen Habermas reconheceram que foi pela fé no Deus feito homem em Jesus Cristo que se explicitou no mundo a consciência da dignidade infinita de ser homem.
Hegel afirmou expressamente que na religião cristã está o princípio de que "o homem tem valor absolutamente infinito".
E. Bloch, o ateu religioso, repetia que foi pelo cristianismo que veio ao mundo a consciência explícita do valor infinito de ser homem, de tal modo que nenhum ser humano pode ser tratado como "gado".
Mais recentemente, J. Habermas, agnóstico e um dos maiores filósofos vivos, escreveu que a democracia se não entende sem a compreensão judaico-cristã da igualdade radical de todos os homens, por causa da "igualdade de cada indivíduo perante Deus".
O núcleo da mensagem de Jesus é este todo o ser humano tem uma dignidade que não pode ser violada, porque o seu fundamento é Deus.
O Deus que Jesus anuncia é aquele cuja causa é a causa do homem e a sua plena realização. Por isso, os Evangelhos proclamam que, logo no nascimento de Jesus, esta mensagem foi anunciada a todos os homens de boa vontade, a começar pelos mais pobres e fracos, concretamente pelos pastores, malvistos porque "impuros" e se encontravam à margem da prática da religião.
Mas esta boa nova é para todos, portanto, para lá do chamado povo eleito ela abrange os pagãos.
É inútil procurar possíveis acontecimentos astronómicos em ordem a esclarecer a estrela dos reis magos, que surge no Oriente, como não tem sentido investigar quantos eram e donde vinham.
De facto, aqui utiliza-se linguagem simbólica para transmitir o essencial do Evangelho Deus manifestou-se como favorável a todos os homens e está do seu lado, também dos pagãos, e sobretudo dos mais fracos, marginalizados e abandonados.
Foi no quadro da influência cristã que Immanuel Kant apresentou como núcleo da moral o respeito para com a humanidade "Trata a humanidade na tua pessoa e na pessoa de todos os outros sempre como fim, nunca como simples meio.
"As coisas são meios e, por isso, compram-se e vendem-se e têm um preço. O homem, porém, não tem preço, porque é fim e não meio. Ele tem dignidade.
Aí está a razão por que é discutível que Portugal seja um país católico.
De facto, a maioria da população declara-se católica nas estatísticas. Ora, talvez seja católica, mas cristã não é com certeza. Se o fosse, não haveria dois milhões de pobres e 200 mil pessoas que lutam com a fome.
Por outro lado, uma sociedade equilibrada e justa caminha para um tipo de figura que se aproxima da do ovo a parte do meio é vasta e as pontas (os ricos e os pobres) são arredondadas. Entre nós, porém, cava-se cada vez mais fundo o abismo entre os muito ricos e os pobres e muito pobres: a ponta da pirâmide aguça-se e a base é cada vez mais ampla.
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Nota: Anselmo Borges é padre católico
e docente de Filosofia na Universidade de Coimbra.