quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

POSTAL ILUSTRADO: Praia da Barra - Farol

 


Mesmo no Inverno, é sempre agradável passear por recantos bonitos, como este da Praia da Barra, onde o Farol, dos mais altos de Portugal, é o centro de muitas atenções.

Um artigo de Francisco Sarsfiel Cabral, no DN

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ESTADO
Anda toda a gente preocupada com o futuro da protecção social. Mesmo nos Estados Unidos, onde é baixo o nível da protecção, há recuos nos benefícios da segurança social e da saúde. Em Portugal, com uma economia bem mais pobre, temos redobrados motivos para receios. O fraco crescimento económico e o envelhecimento da população, com cada vez menos activos a pagarem as reformas de cada vez mais pensionistas, ensombram o horizonte. Mas pouco se fala do reforço da autoridade democrática do Estado, condição de igualdade e protecção essencial dos mais desfavorecidos. E até não envolve muito dinheiro.
A esquerda tem esquecido essa frente decisiva da justiça social. Talvez pela sua alergia à ideia de autoridade. Ora um Estado fraco, como o nosso, está à mercê das pressões dos poderosos, à custa dos mais fracos. É o terreno ideal para as corporações fazerem vingar os seus interesses sectoriais contra o interesse geral. E para o esbater das fronteiras entre negócios e política. Quando a corrupção é grande, como infelizmente é o caso português, lucra quem tem meios - dinheiro e influência política e social. Perdem os que são pobres e não dispõem de recursos para pressionar a máquina estatal, incluindo as autarquias. Exemplo desta iniquidade está no facto de termos uma justiça para ricos e outra para pobres.
Por isso reforçar o Estado não deveria ser apenas uma ideia para discursos de circunstância. Ao encerrar o debate orçamental, o ministro das Finanças prometeu "mudanças profundas na forma como o Estado se organiza e funciona". Mas parece que o Governo tem vergonha de proclamar, e assumir, o imperativo de dotar o País de um Estado digno desse nome. Esta deveria ser a prioridade. Não é apenas uma questão financeira e política. É sobretudo uma exigência de justiça social.

PELA-POSITIVA aposta em novos colaboradores

A partir do próximo domingo, 1 de Janeiro, PELA-POSITIVA vai contar com mais um colaborador. É ele Manuel Olívio da Rocha, um amigo que se mantém fidelíssimo desde a juventude e que é dono de uma escrita muito saborosa, ou não fosse ela cheia de optimismo.
Radicado no Porto há muitos anos, nunca esqueceu as suas raízes gafanhoas, que tantas vezes recorda com graça e arte, por escrito ou de viva voz, quando evoca a sua meninice ou juventude, passadas no lugar da Cambeia da Gafanha da Nazaré, com o esteiro da Ria a acariciá-lo tantas vezes.
Um bem-haja pela sua disponibilidade para oferecer a todos os meus leitores as suas reflexões, os seus comentários, as suas memórias, os seus gostos e as suas opções espirituais, mas não só. Todos os domingos aqui vai estar, entre nós, sempre pela positiva, porque só assim dá gosto viver, neste mundo onde o pessimismo teima em ficar. Outros colaboradores, por certo, hão-de surgir neste espaço, porque acredito que ainda há quem sinta prazer em partilhar ideias e impressões, sentimentos e emoções.
O futuro o dirá. Fernando Martins

Ética ao serviço da competitividade

José Roquette traça um breve balanço do projecto de Código de Ética da ACEGE
Mentiria se dissesse que esperava uma tão grande receptividade e uma tão pronta adesão ao Código de Ética dos Empresários e Gestores que em boa hora a ACEGE promoveu junto da comunidade empresarial portuguesa.
De facto, centenas de empresários e gestores assumiram já, de forma totalmente voluntária, o compromisso público de respeitar os princípios orientadores enunciados no Código, abrindo assim a reconfortante perspectiva de as nossas empresas verem melhorada a qualidade do seu quotidiano, com reflexos positivos evidentes no seu relacionamento com a comunidade envolvente.
Como coordenador do trabalho que conduziu à elaboração deste Código, sinto-me desde já amplamente recompensado pelo movimento de adesão espontânea que o projecto mereceu, na certeza de que os principais interessados e beneficiados serão os empresários portugueses, cuja imagem é tantas vezes apresentada de forma injustamente distorcida, nomeadamente através de uma generalização de aspectos negativos que a realidade não confirma.
Mas, afinal, o que é este Código de Ética e qual a sua importância no contexto actual do mundo dos negócios?
Em termos muito simples, direi que o Código é um conjunto formador de princípios que deve estimular cada empresário e cada organização a criar o seu próprio código de ética, aquele que melhor se adapte às suas especificidades, na certeza de que a ética empresarial significa confrontar, permanentemente, a procura de uma maior rentabilidade com a defesa intransigente do Homem.
Estamos pois perante um conjunto de normas de conduta que têm o Homem e a Empresa como principais pilares, tentando orientar a resposta dos decisores perante as várias situações de conflitos de interesses que o quotidiano empresarial coloca e que implicam opções complicadas nos mais diversos planos, incluindo o moral e o ético.
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Um texto de António Pinheiro



2005 – o ano em revista Janeiro


: 2005 iniciou-se com a celebração do XXXVIII Dia Mundial da Paz, à volta do tema “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com bem”. Neste ano assinalavam-se os 60 anos da libertação dos prisioneiros dos campos de concentração de Auschwitz e, mais adiante, os 40 anos da promulgação da declaração Nostra aetate que, de facto, abriu caminho ao diálogo entre judeus e católicos. O Papa não podia deixar de sublinhar os dois aniversários: fá-lo publicando uma mensagem. Fevereiro 


: No início deste mês começou a dramática sequência que em menos de noventa dias levaria à morte de Karol Wojtyla, e à eleição de Bento XVI, absorvendo, praticamente, toda a actividade da Santa Sé. Entre os dois internamentos de João Paulo II, é publicada a carta apostólica «O rápido desenvolvimento» que celebra, o 40º aniversário do decreto conciliar Inter Mirifica, dedicado aos meios de comunicação social. O mês regista também a morte de duas personalidades da Igreja muito ligadas, por razões diferentes, a João Paulo II: a Irmã Lúcia, a última vidente de Fátima, no dia 13 e Mons. Luis Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, no dia 22.~ Março 


: O internamento de João Paulo II, até ao dia 13, mostra à Igreja e ao mundo a possibilidade de que a longa batalha do Papa com a doença tenha entrado numa fase crítica. Um facto que se pode observar com maior clareza quando, após o regresso ao Vaticano, não se conseguiu ouvi-lo falar em público, não obstante as repetidas tentativas. No dia 31 de Março, pouco depois das 11 horas, o Papa, na capela para a celebração da Missa, é colhido por um arrepio devastador, ao qual se segue uma subida de temperatura com febre a 39,6º. É uma complicação, bastante temida para os doentes como ele, uma infecção das vias urinárias, com gravíssimo choque séptico e colapso cardio-circulatório. Abril 


: O dia 1 de Abril contou com três declarações do director da Sala de Imprensa da Santa Sé: o Papa está muito sereno. Mais tarde, as suas condições gerais e cardio-respiratórias agravam-se, ao ponto de se difundir nos ambientes do Vaticano a convicção de que dificilmente João Paulo iria superar a noite. No dia 2, às 07h30 é celebrada a Missa na presença de João Paulo II, que no fim da manhã recebe a visita do Cardeal Sodano. Por volta das 15h30 com voz muitíssimo débil e palavras quase incompreensíveis, em polaco pede : «deixem-me ir para a casa do Pai». Entra em estado de coma antes das 19 horas: segundo uma tradição polaca uma pequena vela acesa ilumina a penumbra do quarto. Ás 20 o secretário D. Dziwisz, o Cardeal Jaworski, Mons. Rylko e Mons. Mokrzycki celebram, aos pés da cama do Papa, a Missa da festa da Divina Misericórdia. Às 21h37 João Paulo II adormece no Senhor. A 18 de Abril, 112 Cardeais eleitores entram em Conclave para eleger um novo Papa, o que acontece no dia 19: é eleito o Cardeal Joseph Ratzinger, desde 1981 prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, como 264º sucessor de São Pedro, assumindo o nome de Bento XVI. Maio 


: A primeira e, até agora, mais importante decisão de governo do novo Papa foi tornada pública no dia 13, e refere-se à nomeação do seu sucessor como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A escolha caiu sobre D. William J. Levada, norte-americano de origem portuguesa, 69 anos, arcebispo de São Francisco desde 1995. No dia 14 celebram-se em São Pedro as primeiras beatificações do novo pontificado, mas não são presididas por Bento XVI, antes pelo seu delegado o Cardeal D. José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Junho


: O empenho que Bento XVI quer reservar à promoção da unidade entre os cristãos encontra uma confirmação no dia 16, quando recebe o Secretário do Conselho Ecuménico das Igrejas, pastor Samuel Kobia. No dia 28 é apresentado o Com-pêndio do Catecismo da Igreja Católica, fruto de uma iniciativa que Bento XVI, quando ainda era Cardeal, tinha patrocinado junto de João Paulo II. 


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Um artigo de António Rego, na Ecclesia

Posted by Picasa Adivinhações?
Sobre o futuro, tudo se pode dizer. Mas, pergunta-se, como é possível que sobre a mesma névoa do porvir alguns vejam estrelas a brilhar e outros apenas cometas em fim de carreira, ou até borrascas em aproximação de alta velocidade? Andam os astrólogos e cartomantes no encalço de notícias tranquilizantes e passes de magia para apaziguar corações inquietos. Andam investigadores à procura de antivírus que travem doenças humilhantemente incuráveis, ou sustenham ameaças de pandemias que podem abalar os esquemas adquiridos por civilizações inteiras. Tentando adiar a morte para os limites do quase impossível.
E continua por encontrar a pedra filosofal que transforme em felicidade de oiro, os metais perecíveis de todas as inquietações que, em tempos obscuros ou iluminados, nos ameaçam. E assim se olha o futuro: como equação cega e sem dados, ou como somatório inteligente e sequencial, que vai polvilhando a história de factos absurdos ou coerentes, pelo menos na sua leitura imediata ou no possível encaixe das suas múltiplas peças. Como se a história fosse um puzzle feito de acasos com encaixe forçado pelos grandes senhores do poder, da economia, ou das modas preponderante de cada época. Assim se foram construindo compêndios de história que, mais do que um aglomerado de factos, se transforma em edifício humano onde todos têm o seu lugar e o seu dinamismo. É no todo ultra-racional que encaixa o lugar de Deus. Na leitura do tempo em banda larga, na contagem dos séculos e milénios por uma outra escala de densidade, pormenor ínfimo, atómico, ou por milhões de anos luz dum qualquer asteróide dum sistema desconhecido tanto pelos amadores de astronomia como pelos sábios apetrechados dos mais sofisticados instrumentos de observação. Prestar atenção apenas aos dados sociais, económicos ou técnicos do mundo é um erro. As intuições dos artistas e a profecia dos crentes é mais definitivo que todas as adivinhações.
A fé, apenas a fé, consente um sorriso sereno ao olhar da história e ao vislumbrar das estrias do futuro. Sem desresponsabilizar o homem pela feitura do passado e pela configuração do futuro (antes pelo contrário),somente com um olhar benevolamente emprestado por Deus se pode ler o que aconteceu e intuir o que há-de vir. A ciência e a fé completam-se neste dueto de notas sublimes e algumas desafinações. A crendice e a adivinhação apenas complicam as evidências e despistam o peregrino no encalço da montanha.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Um texto de Francisco Sarsfield Cabral, na Ecclesia

O ano do pessimismo
Ao longo do ano predominou em Portugal um clima de pessimismo, decorrente sobretudo da má prestação da economia, ao que se somaram uma terrível seca e uma série de devastadores incêndios florestais. Depois de nos termos aproximado das médias europeias, desde há anos que voltámos a afastar-nos delas. As nossas empresas perderam competitividade e o desemprego naturalmente aumentou.
No ano que agora finda ainda pouco se avançou no sentido das indispensáveis mudanças estruturais. Só estas poderão levar-nos a escapar à tenaz que nos estrangula: já não somos capazes de competir com base nos baixos salários (porque outros países, a começar pela China, dispõem de mão-de-obra muitíssimo mais barata) e ainda não produzimos em escala significativa bens e serviços tecnologicamente evoluídos.
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Maioria absoluta
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Com a nossa atávica dependência do Estado, esperamos dos políticos que nos resolvam este problema. Em 2005 o Partido Socialista teve a primeira maioria absoluta da sua história.
Concorde-se ou não com aquilo que os socialistas preconizam para o País, é bom que um partido possa governar sem ter de fazer acordos mais ou menos pontuais com outras forças políticas, pois só assim poderá ser plenamente responsabilizado. E o Governo de Sócrates tomou já algumas medidas corajosas na redução de certos benefícios em matéria de segurança social e de saúde, em particular dos servidores do Estado.
Mas ainda não se vê no horizonte a viragem que nos coloque, de novo, na rota de aproximação aos níveis médios de bem estar na União Europeia. Quase no final do ano, Portugal conseguiu um bom resultado na negociação dos dinheiros comunitários para o período 2007-2013.
Os fundos que iremos receber apenas ficarão 10 por cento abaixo dos que vieram nos sete anos anteriores, não obstante a União Europeia ter agora mais dez Estados membros, de modesto nível de riqueza. Mas o dinheiro fácil não induz geralmente a boas apostas de investimento. Não será daí que virá a tão desejada recuperação económica.
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