segunda-feira, 2 de maio de 2005

DN entrevista D. Jorge Ortiga

Igreja fará campanha pelo 'não' ao aborto
O Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, garante que a Igreja fará campanha pelo "não" ao aborto e rejeita ainda o uso da pílula do dia seguinte. Também reforça oposição ao casamento entre homossexuais e adopção por estes de crianças.
(Para ler a entrevista, clique DN)

Um artigo de João César das Neves no DN

O Orçamento e a dispensa do indispensável
Toda a gente sabe que uma das medidas mais indispensáveis hoje em Portugal é a solução do desequilíbrio nas contas públicas, que cria endividamento, sobrecarrega a economia, atrasa o progresso. Mas muitos cometem, em seguida, um erro simples mas fatal procuram os malfeitores que geraram tal situação. Esquecem assim o princípio da velha sabedoria que diz que um mal deste tamanho não pode ser causado apenas pela maldade de alguns, mas nasce da conivência de todos. Roubos ou assassínios são cometidos por bandidos, mas uma guerra só existe com a participação das boas pessoas. Também o descalabro financeiro português é tão grande que só pode ser feito por toda a gente. É precisamente por causa disto que o problema é tão difícil de resolver. Se fossem criminosos os culpados, há muito que o défice estava controlado.
É difícil compreender que o nosso pior drama possa ser causado por cidadãos sensatos e empenhados, que apenas pretendem o bem do País. No entanto, todos conhecemos este mecanismo. Quando, por exemplo, convidamos amigos para uma festa ou planeamos um fim-de-semana livre, se não tomarmos cuidado, em breve a dimensão do indispensável ultrapassa em muito os lugares ou o tempo disponíveis. É precisamente o mesmo que se dá no Orçamento de Estado. O País está cheio de justas reinvindicações, gastos imprescindíveis, despesas incompressíveis. Todas estas exigência são boas, mas a sua soma é muito superior às receitas.
A lista é infindável. Na Saúde, por exemplo, que dizer do direito inalienável de todos os portugueses a cuidados dignos e acessíveis? E na Educação, como esquecer este instrumento vital do desenvolvimento e formação da personalidade das nossas crianças e jovens? A Polícia precisa imediatamente de mais meios, porque está em causa a segurança de pessoas e bens. Da Defesa, nem se fala, pois é a própria dignidade nacional que se joga nos recursos para as nossas forças armadas. O mesmo se diga, aliás, dos diplomatas, representantes nacionais no mundo, da Cultura e Património, fundamentos da alma lusa, do Ambiente, suporte da sobrevivência populacional. E ainda não falámos de Justiça, sectores produtivos, etc, etc. Mas todas estas coisas empalidecem perante o gravíssimo problema dos pobres, idosos, marginalizados, das injustiças sociais. A lista é mesmo infindável.
Qualquer estimativa, mesmo comedida, destas despesas exigiria um produto nacional várias vezes superior ao que existe. Mas onde cortar? Cada uma delas é, sem dúvida, vital, basilar, insubstituível. Como é possível não acudir a cada uma destas urgências e a mais miríades de outras de igual gravidade? No entanto, ainda há poucos anos nós gastávamos muito menos e, dispensando esses "indispensáveis", conseguíamos sobreviver. O total da despesa pública portuguesa mais que duplicou em termos reais nos últimos 20 anos. Mas isso, em vez de resolver os problemas, aumentou ainda mais as necessidades. Quanto mais temos, mais queremos. Portugal entrou neste círculo vicioso, onde as despesas geram mais necessidades "indispensáveis", que crescem mais depressa que os recursos disponíveis.
É curioso que os debates comuns nunca falem deste elemento. A eterna discussão é à volta da evasão fiscal, da corrupção de funcionários, da azelhice dos ministros. Estes abusos são reais e influentes, mas mesmo que fossem milagrosamente resolvidos esta noite, o défice permaneceria descontrolado. As críticas mais violentas e as políticas mais vigorosas foram sucessivamente anunciadas contra esses facínoras, acompanhadas por sucessivos agravamentos do défice. Porquê? Porque a questão é outra. Temos critérios europeus e recursos portugueses. Assim, por mais ricos que sejamos, haverá sempre desequilíbrio orçamental.
É preciso mudar radicalmente o debate sobre o nosso défice. Os portugueses têm de modelar as suas exigências ao seu nível de vida. O senhor ministro das Finanças tem de dispensar o indispensável para atingir o equilíbrio que, esse sim, é mesmo indispensável.

Preços dos medicamentos

Quando há dias comprei numa farmácia os medicamentos que um médico me prescreveu, fiquei impressionado com a conta, depois das deduções feitas e que são por conta do Estado. Não tanto por mim, que ainda vou podendo pagar, mas pelos que não têm capacidade para suportar as despesas com a sua saúde. Numa semana, médico especialista e medicamentos levaram-me o correspondente a uma pensão de reforma de muitos portugueses. Já me tinham dito que alguns idosos, dos tais que têm para sobreviver uma pensão ridícula, não vão aviar a receita à farmácia, porque, se o fizerem, ficam sem dinheiro para comer, não lautas refeições, mas coisas muito simples, como pão, leite e a tradicional sopinha. Depois de uma vida de trabalho e de sacrifícios, muitos reformados são obrigados a vegetar, quantas vezes à custa de familiares e de amigos e até de instituições de solidariedade social, a maioria delas ligadas à Igreja Católica. Num país, como o nosso, em que a Constituição garante o direito à Saúde, penso que o Governo tem de repensar a situação dos mais desfavorecidos e dos que têm de viver com pensões baixíssimas. Há despesas de farmácia que muita gente não consegue suportar e a Saúde não se cuida apenas nos hospitais. Por outro lado, penso que os genéricos têm de ser implementados, mas também os médicos têm a obrigação, a meu ver, de receitar, dentro da gama de medicamentos que há no mercado, os mais baratos, para os mesmos resultados. Não podem prescrever medicamentos de olhos fechados e alheios às posses de cada um. Fernando Martins

Movimentos da Igreja Católica - 1

FOCOLARES
Foi no tempo de ódio e de violência do segundo conflito mundial que teve início este movimento de unidade e de fraternidade universal. Em 1943, Chiara Lubich com as suas primeiras companheiras, em Trento, redescobriu o Evangelho. Juntas, puseram-no em prática no dia-a-dia, começando pelos bairros mais pobres da cidade. A vida delas, pessoal e colectiva, deu um salto de qualidade. Aquele primeiro grupo tornou-se logo um Movimento, que se espalhou inicialmente pela Europa e, depois, pelo mundo. O Movimento dos Focolares gera um estilo de vida que, inspirando-se no Evangelho, responde ao tão difundido questionamento sobre o sentido da vida e sua autenticidade, e contribui para a realização da paz e da unidade no mundo. Caem preconceitos e as sementes de verdade e de amor inerentes às diversas culturas tornam-se riqueza recíproca. Abrem-se novos horizontes nos diversos âmbitos da sociedade, nomeadamente da cultura, política, economia e arte. Através desta espiritualidade, vivida nos mais diversos ambientes e culturas, abriram-se diálogos fecundos no mundo católico, e não só, com indivíduos e grupos, Movimentos e associações, para cooperar na consolidação da unidade; com cristãos de diversas Igrejas, para contribuir para a plena comunhão; com fiéis de várias religiões e convicções, para caminhar rumo àquela fraternidade universal, pela qual todos aspiramos. O Movimento, pela diversidade das pessoas que o compõem (jovens e adultos, crianças e adolescentes, famílias e sacerdotes, religiosos e religiosas de várias congregações e até bispos), embora sendo um só, articula-se em 18 ramificações. Aos poucos, foram-se desenvolvendo várias concretizações entre as quais, no campo da cultura, a escola Abba, para a elaboração de uma cultura renovada; no da economia, o projecto por uma Economia de Comunhão, ao qual estão vinculadas mais de 700 empresas, pequenas cidades de testemunho, obras sociais, editoras e revistas. O Movimento dos Focolares, que foi aprovado pela Santa Sé em 1962, faz parte daquele fenómeno de florescimento dos Movimentos eclesiais que o Papa definiu como uma "resposta suscitada pelo Espírito Santo a este dramático desafio de final de milénio". Para saber mais sobre o Movimento dos Focolares, pode consultar http://www.focolares.org/

Há sempre portas que se abrem

Há sempre portas que se abrem para entrar na blogosfera. Como vai ser o caso, durante uns dias, enquanto estou longe do meu habitual local de trabalho. Motivos também não faltarão. Só os recursos técnicos é que escasseiam, nomeadamente a nível de fotografia. Depois apresentarei alguns Postais Ilustrados do que vi. F.M.

domingo, 1 de maio de 2005

POSTAL ILUSTRADO

Posted by Hello Foto de Crixtina, pseudónimo de Dora Bio

Um artigo de Alice Vieira, escritora, no Jornal de Notícias

Pó e fé
Tinha chegado cedo demais ao encontro, a minha obsessão da pontualidade dá sempre nisto e, de repente, aquela igreja da Baixa, onde eu já não entrava há tanto tempo, pareceu-me o lugar ideal para esperar pelas dez horas. Estava uma manhã nublada, não tinha sido uma semana fácil, e apetecia-me uns momentos de serenidade e recolhimento, pensar na vida, essas coisas. Lá dentro não estariam mais do que três pessoas e sento-me pelo meio. De repente, vindo sabe-se lá donde, um ronco entra pelos meus ouvidos dentro e é então que descubro junto ao altar, uma jovem loira desembaraçadíssima, de bata azul e mangas arregaçadas, na saudável missão de limpar a igreja com um potente aspirador aos pés. De certeza que não houve recanto nem santo que lhe escapasse, e o aspirador lá era atirado nave acima nave abaixo, numa barulheira ensurdecedora, mais um empurrão e lá vai ele contra os lugares da nave central, e mais outro empurrão e lá vai ele contra os das naves laterais, e tudo aquilo na maior barulheira, e eu quero abstrair-me, pensar na vida, essas coisas, mas é impossível, e mudo então de lugar, sento-me a um canto, e penso mesmo muito, muito na vida, e fecho os olhos, pode ser que assim. Mas nem assim. O barulho do aspirador não termina mais, entra pelos nossos ouvidos, abafa o pensamento - e de repente alguém me bate no ombro. É a rapariga loira, no seu afã de não deixar nem um grão de poeira, "olhe, faz favor passe para outro lado que eu preciso de ligar o aspirador à ficha que está aí nesse canto".
Nada a fazer. Acabo por sair, juntamente com uma velhota que abana a cabeça furiosamente e se perde pelas ruas a falar sozinha. Eu sei que a rapariga estava a fazer o seu serviço, e que as igrejas têm, evidentemente, de ser limpas. Mas não poderiam sê-lo durante as horas em que têm as portas fechadas? É que não há fé, por mais forte, que resista ao ronco de um aspirador.