domingo, 6 de março de 2005

LEITURAS

Como habitualmente, sugerimos a leitura de dois bons artigos, dos bem conhecidos Frei Bento Domingues, “Deus não fecha ao sábado”, e António Barreto, “Interesses. Ligações”, ambos publicados no PÚBLICO. Neste mesmo jornal, pode ainda ler o artigo de António Marujo, intitulado “Papa terá de reduzir a sua actividade se quiser continuar a liderar a Igreja

JACINTA canta e encanta

Tributo a Bessie Smith
Cantora de jazz Jacinta
Os CD não são como alguns livros, que ficam guardados na estante depois de serem lidos. Os CD são para serem ouvidos com frequência, ou seja, sempre que os apetites musicais os convoquem ou os ritmos nos venham à memória. É assim que costumo fazer. E hoje, num domingo de muita tranquilidade interior, vou ouvir, mais uma vez, Jacinta e o seu Tributo a Bessie Smith. É o seu primeiro CD, mas há outro na forja, para quem gosta de jazz. Jacinta é uma cantora de jazz da Gafanha da Nazaré. Estudou piano e composição na Universidade de Aveiro, onde se licenciou, e distinguiu-se no Chuva de Estrelas. Mais tarde, em 1997, rumou a Nova Iorque, para frequentar a Manhattan School of Music, onde foi premiada com bolsa de estudos. Concluiu o mestrado em Jazz Vocal e tornou-se cantora profissional. A partir daí, começou a cantar, tendo merecido os mais elevados elogios, pela voz potente e bem timbrada e pela forma como a domina. José Duarte, o autor e apresentador do programa "Um, Dois, Três... Cinco Minutos Jazz", considerou Jacinta como "A cantora de jazz portuguesa". O maior elogio que uma artista pode ouvir. Jacinta foi a primeira cantora de jazz do nosso País a gravar na conceituada editora discográfica Blue Note, augurando-se-lhe largo futuro nesta área musical, tal é força da sua arte e da sua vontade. Entretanto, para além de concertos, por Portugal e pelo estrangeiro, Jacinta ainda tem tempo para dar aulas numa escola particular de Aveiro. No próximo dia 10 de Março, participará no Festival de Jazz de Braga.
E agora vou ouvir o CD de Jacinta. E não me canso. F.M.

PORTO: cidade liberal

Pintura da capela da paramentação Estive no Porto, há dias. Nunca me canso de visitar a cidade liberal e invicta. A que recebeu como herança o coração de D. Pedro IV, Rei de Portugal e Imperador do Brasil, a que não permitia que a aristocracia por lá permanecesse mais de três noites e três dias, a capital do trabalho como há tanto se apregoa, e com alguma razão, a dos monumentos carregados de história. Foi uma visita a correr, mas valeu a pena. Olhei de perto o ex-libris da cidade, a Torre dos Clérigos, barroca, original criação de Nasoni, reparei na cadeia da Relação, onde esteve preso o Camilo e sua Ana Plácido, contemplei a igreja dos Congregados que tanto frequentei para participar na missa, quando estudante, e entrei na Sé, que tem ao lado o Paço Episcopal. A Sé é fácil de visitar. Quem for de comboio, pode sair em São Bento e dirigir-se para lá a pé. A Sé vê-se bem, pela sua imponência e antiguidade. De origem românica, data do segundo quartel do século XII, tendo recebido ao longo do tempo diversas alterações. Existe desde os primórdios da nacionalidade. Tudo pode ser apreciado com calma. Há cicerone que explica o essencial, mas temos de fazer perguntas. Na capela do Santíssimo Sacramento podemos admirar um retábulo de prata, cujo sacrário se deve aos ourives Manuel Teixeira, Manuel Guedes e Bartolomeu Nunes e data de 1632 a 1651. É um trabalho muito belo e valioso. Diz-se que os portuenses o pintaram aquando das invasões francesas para esconder a prata. Depois há o museu que nos oferece à vista preciosidades ímpares. Alfaias litúrgicas de várias épocas, paramentos trabalhados a fios de ouro e prata e outras peças de regalar os olhos estão à espera de quem sabe contemplar o belo. Pinturas de diversas épocas e estilos podem ser apreciadas por todo o templo e nas salas e capelas anexas. Numa delas, que hoje é local de paramentação em dias festivos, vimos um conjunto de pinturas laterais de uma beleza rara (ver foto). Vale a pena sair de casa de vez em quando para visitar o que nos enche a alma e nos lembra a história de gente de fé e de trabalho. Voltarei a falar do Porto num dos próximos dias. Fernando Martins Posted by Hello

sábado, 5 de março de 2005

NOVO GOVERNO alimenta esperança num futuro melhor

Saindo do maior sigilo de sempre, em Portugal, José Sócrates anunciou ao País as suas escolhas ministeriais. Oito ministros vieram do PS e outros tantos são independentes. Apenas duas mulheres fazem parte do elenco. Mas a maior curiosidade está na escolha de Freitas do Amaral, um dos fundadores do CDS, para a pasta dos Negócios Estrangeiros, área que conhece muito bem, ou não tivesse sido presidente da Assembleia Geral da ONU. Outra curiosidade está no facto de 50 por cento dos ministros serem professores universitários. É, ainda, um dos mais pequenos Governos de sempre. Alguns ministros têm experiência governativa, ligada ao eng. Guterres, e até há quem já pertenceu ao PCP. Será, para muitos comentadores, um Governo sem grandes vedetas, mas suficientemente capaz de nos levar a alimentar a esperança em dias melhores. Nesta fase da vida nacional, acho que não temos o direito de ser derrotistas. Acho que devemos dar ao novo Governo, liderado pelo único político que conseguiu, no PS, uma maioria absoluta, o apoio indispensável para que possa tirar-nos do beco sem saída aparente, em que temos estado. Não se ganha nada em começar a dizer mal das escolhas do eng. Guterres. Se o PS lhe deu carta branca para formar um Governo credível e com capacidade para governar com competência, não podem nem devem os adversários iniciar ataques por tudo e por nada, só porque é bonito dizer mal. Urge cultivarmos um ambiente político responsável e sempre pela positiva. Isso não exclui a crítica na hora própria, mas com consistência. Também não gostei de ver, à direita e à esquerda, ataques a Freitas do Amaral, pelo simples facto de ter sido fundador e dirigente do CDS. Afinal, quem é que neste mundo, e em particular na política, não admite mudar de ideias? Não há tantos exemplos em vários partidos? F.M.

Um livro de Sara Reis da Silva

"Dez Réis de Gente... e de Livros - Notas sobre Literatura Infantil"
Sara Reis da Silva, docente da Universidade do Minho, acaba de publicar o seu segundo livro, "Dez Réis de Gente... e de Livros - Notas sobre Literatura Infantil". O primeiro, sua tese de mestrado na Universidade de Aveiro, tem por título "A identidade ibérica em Miguel Torga". Segundo a Editorial Caminho, responsável pela edição de "Dez Réis de Gente... e de Livros - Notas sobre Literatura Infantil", este volume reúne um conjunto de textos críticos acerca de livros infanto-juvenis, de diversos autores portugueses, "originalmente destinados a um público de ouvintes e leitores de uma rádio e de um jornal regionais, a quem Sara Reis da Silva pretendeu despertar o gosto pelos livros e pela leitura literária". São ensaios que surgem, por isso, "num registo intencionalmente coloquial" e próximo dos seus destinatários. A editora sublinha, ainda, que, "na multiplicidade de textos seleccionados e nas abordagens aqui coligidas, pressentem-se visões mais ou menos afectivas ou gostos pessoais". Sara Reis da Silva, que bem conheço e aprecio pelo seu labor quotidiano em prol da cultura, na vertente do ensaio e da reflexão crítica do que se vai publicando, é suficientemente jovem para que possamos contar com a sua entrada na ficção. O apelo, de quem sabe do que ela é capaz, aqui fica registado.
A obra será apresentada no próximo dia 12, sábado, na Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, às 17 horas, e na livraria O Navio de Espelhos, às 21.30 horas . Fernando Martins

Para pensar

Exclusão racial continua entre nós
Fui educado no respeito por toda a gente, independentemente da sua raça, religião, posição social e opção política democrática. Foi uma educação de matriz cristã, que, ao longo da vida, continuei a cultivar. Por isso, é com mágoa que vejo, neste país que se considerava multirracial e multicultural na minha infância e juventude, a exclusão de portugueses da vida pública, nomeadamente da vida política. Nas sucessivas eleições, de âmbito nacional ou local, é raro serem eleitos compatriotas nossos de raça negra para o Parlamento e para as autarquias, como também não se vêem a ocupar cargos ministeriais. E no entanto, toda a gente sabe que há portugueses de diversas raças, que estudaram e tiraram os seus cursos como os portugueses de raça branca, que são tão capazes como quaisquer outros. Mas a verdade é que nas estruturas do Governo e das autarquias, e até nos quadros partidários, os negros ou de outras etnias ficam excluídos. Quando há tanto tempo se fala entre nós da necessidade de dinamizarmos a inclusão, quando há tanto tempo se condena a exclusão a qualquer nível, quando há organismos criados e vocacionados para promoverem a integração e para contribuírem para a erradicação da xenofobia e do racismo, estranha-se que os dirigentes partidários não dêem o exemplo de integrarem nas suas listas, em posições elegível, cidadãos portugueses, independentemente da sua raça. E também, que no Governo não haja nunca um lugar para os eternos excluídos da vida política portuguesa.
Fernando Martins

LEITURAS

À conversa com… Roberto Carneiro Em entrevista ao semanário Voz Portucalense, da Diocese do Porto, Roberto Carneiro, ministro da Educação de Cavaco Silva, fala de “A didáctica do esforço, do rigor, da disciplina e da responsabilidade. No site do semanário, ver Tema Vivo.