sábado, 26 de julho de 2008

A RIA DE AVEIRO

(...) Ria sonhadora e esquiva Que o Mar não sabe entender É ele quem lhe dá vida No Mar ela vai morrer (...)
Prof. Guilhermino Ramalheira
NOTA: Quadra enviada pela Marieke

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PARA O DIÁLOGO

1. Realizou-se em Madrid, na semana passada, com a presença de muçulmanos, cristãos (o cardeal J.-L. Tauran representou o Vaticano), judeus, budistas, hindus e membros de outras religiões, uma conferência sobre o diálogo inter-religioso. Inédito: a iniciativa partiu do rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz Al Saud, guardião dos lugares santos do islão em Meca e Medina, após um encontro, também ele inédito, com Bento XVI no Vaticano. Na sessão de abertura, o rei Abdullah apelou ao diálogo para fazer frente à "perda de valores" e "confusão de conceitos", frutos, no seu entender, do "vazio espiritual". O islão "é a religião da moderação, da ponderação e da tolerância". Para o monarca saudita, a diversidade de religiões há- -de ser um meio para a "felicidade" dos humanos, porque se Deus tivesse querido outra coisa, "teria imposto uma só religião à Humanidade". "As tragédias vividas não foram causadas pelas religiões, mas pelos extremismos adoptados por alguns dos seus seguidores e pelas crenças políticas." Também o rei de Espanha, Juan Carlos, defendeu o diálogo inter-religioso e intercultural, fazendo votos para que a Conferência contribua para um mundo "mais justo, mais próspero e solidário" e "que acabe com a inaceitável barbárie terrorista, lute contra a fome, a doença e a pobreza, respeite os direitos do ser humano e promova a defesa do meio ambiente". A Conferência concluiu com uma Declaração, que afirma que "as mensagens divinas rejeitam o extremismo, o fanatismo e o terrorismo" e recomenda que "se promova uma cultura de tolerância e compreensão". Para isso, convida a Assembleia Geral das Nações Unidas a "impulsionar o diálogo entre os seguidores de todas as religiões, civilizações e culturas, organizando uma sessão especial para o diálogo".
Anselmo Borges
Leia todo o artigo em DN

ENQUANTO CADA UM OLHAR PARA O SEU UMBIGO...

Enquanto cada um olhar apenas para o seu umbigo, não haverá resistência que valha a pena.
João Marçal
Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão-me levando Mas já é tarde Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo
Bertold Brecht (1898-1956)
Nota: Enviado pelo João Marçal

PONTES DE ENCONTRO

Língua portuguesa: casa comum para um projecto de todos!
A frase de Fernando Pessoa (1888-1935) “a minha pátria é a língua portuguesa” é por demais conhecida e traduz bem o que a língua de qualquer país pode representar para cada um dos seus cidadãos. A língua pátria é como uma segunda mãe que não é só nossa pertença, mas algo de real a quem também pertencemos. Algo que nos identifica nas mais variadas dimensões que à vida de cada ser humano dizem respeito e nos situa, singularmente, na comunidade das nações. Ao contrário de que se possa pensar, a língua não só está associada a todos os domínios da actividade humana, como até lhes dá sentido, corpo e alma. Um destes domínios é o da cultura, no sentido geral do termo. Cultura enquanto expressão de tudo o que é e foi criado pelo homem, mulher ou criança, nas suas relações, recíprocas, com tudo o que os envolve, através do falar comum e da natureza real e simbólica com que se relacionam. Deste modo, ao falar uma língua, uma pessoa não utiliza apenas um código abstracto de sons ou sinais. As palavras e as frases referem-se a algo mais; significam alguma coisa que existe. Só por si, não podiam subsistir no vazio. Significam e representam imagens de uma realidade de partilha, independentemente do lugar onde se esteja. Quando profiro uma determinada palavra, quem me ouve não ouve apenas um som. Também visualiza na sua mente uma determinada imagem viva daquilo que eu digo. De qualquer modo, como dizia Pessoa, o mundo a que se referem as palavras é mais importante do que elas, daí que falar em palavra nos introduza na realidade matricial de uma pátria linguística que nos une e também fala por cada um de nós. Dos portugueses diz-se, em regra, que são um povo com baixa auto-estima, pessimistas e medíocres. Não me vou debruçar sobre estes e outros epítetos de como somos tratados ou nos julgam, mas, antes falar da imensidão pátria em que estamos inseridos e à qual me parece que as autoridades portuguesas não têm dado o devido tratamento. Ter pátria é sentir que se pertence a uma casa e a um futuro comum, que tanto maior será quanto mais for acarinhada, incentivada e reconhecida como o cimento que congrega todas as partes desta habitação sem fronteiras, que a todos acolhe e lhes dá sentido. Li, há dias, que “o português está na moda”. Bem pode estar, mas as modas suscitam reservas e são sempre passageiras. Por isso, o importante é que a língua portuguesa não só esteja na moda como represente uma realidade viva, real e simbólica de um todo intemporal e transpacial, seja em que domínio for, através do dia-a-dia de quem a fala. Presentemente, o português é falado por 239,6 milhões de pessoas, na chamada CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que integra o Brasil (191.908.598), Moçambique (21.284.701), Angola (12.531.357), Portugal (10.676.910), Guiné-Bissau (1.503.182), Timor-Leste (1.108.777), Cabo Verde (426.998) e São Tomé (206.178), a que se juntam mais de 5 milhões de portugueses que se encontram dispersos em países como os EUA, França, Brasil, Canadá, Reino Unido, Alemanha, entre muitos outros, o que perfaz o número impressionante de cerca de 244 milhões de pessoas a falar o português e o torna a 5ª língua mais falada no mundo. A estes números, há que acrescentar o interesse, cada vez maior, que a aprendizagem do português está a suscitar em vários países, casos da Espanha, China ou África do Sul. Em termos de Internet, e segundo dados do ano de 2007, o português ocupa o 7º lugar, depois do inglês, chinês, espanhol, japonês, francês e alemão. Deste modo, existe um potencial enorme a explorar no incremento da língua portuguesa, mas, para tal suceder, é necessário que as entidades governamentais se empenhem, seriamente, em programas de desenvolvimento e de apoio ao seu ensino e divulgação, a todos os seus níveis, seja em que latitude for. Continuar a construção desta enorme casa comum que a língua de Camões nos faculta e propõe, onde todos se possam sentir parte integrante deste grande família universalista, multifacetada, nas suas experiências e culturas, é um desafio para todos os tempos e que constitui a medida padrão para uma relação afectiva de cada um com todos.
Vítor Amorim

sexta-feira, 25 de julho de 2008

HUMANAE VITAE

Alguns aplausos e um lamento
A encíclica Humanae Vitae é um caso de popularidade, por bons e por maus motivos. Entre as razões que justificam esta popularidade está o facto de dizer respeito a uma matéria, a chamada "regulação dos nascimentos", que concerne a vida de quase todas as famílias em todo o mundo. Além disso, o ano 1968, em que foi publicada, é um ano charneira a muitos títulos: a nova mentalidade relativa ao sexo depois da comercialização da pílula contraceptiva, a conhecida turbulência de Maio, o auge dos gloriosos trinta anos de desenvolvimento europeu, o momento em que a televisão começa a globalizar o mundo, o entusiasmo do programa espacial, a reforma do Concílio Vaticano II que prosseguia nos vários sectores da Igreja. O texto caiu como um duche gelado sobre as costas da geração de sessenta! A história de efeitos que desencadeou, desde a primeira hora, com discussões mediáticas e teológicas, pronunciamentos amortecedores de Conferências Episcopais, tem que ver com o confronto doloroso que se joga no seu interior entre dois modelos de justificar a moral cristã. Jorge Teixeira da Cunha, Director-Adjunto Faculdade de Teologia da UCP NOTA: Um comentário (ver post A RIA DE AVEIRO) levou-me a ler este texto, na Ecclesia. Aqui o partilho com os meus leitores, na certeza de que há quem concorde e quem discorde. Como sempre, em qualquer sector da vida.

A RIA DE AVEIRO

Ao falar de férias, alguém me dizia ontem, com convicção, que não há nada como a nossa zona. Temos grandes praias e mar chão, onde se pode andar à vontade, sem perigo, por tão bonançoso ser ele quando se confronta com a areia branca, e logo a seguir, se lhe virarmos as costas, com apetência por outros horizontes, deparamos com a ria de águas límpidas e mornas, com espaços e desafios para toda a gente. É verdade. Porém, nós, os da beira-ria, nem sempre nos damos conta das riquezas que temos. Como esta, está bem de ver, de acordar ao som do mar, que rola e rola, e da ria que nos atira cheiros salgados, como que a convidarem-nos para que a apreciemos e desfrutemos. Todo o ano, mas sobretudo nas férias.

Ainda o caso Meddie

A TELENOVELA VAI CONTINUAR...
A telenovela vai continuar, pelos vistos. Quando tudo fazia prever que o caso estava arrumado, por falta de provas, eis que um simples livro vem acordar toda a gente para a história dramática da menina desaparecida há mais de um ano sem deixar rasto. A comunicação social, ávida de temas de cartaz, aí está a reconstruir todo o drama. São precisos temas escaldantes para o Verão arrancar em grande, agora que o sol chegou, com assuntos que envolvam as pessoas. Claro que é o Caso Meddie, a menina inglesa. Os casos, que os há, de muitos outros meninos e meninas desaparecidos continuarão no silêncio dos gabinetes policiais. Ninguém repara neles. Ninguém sabe se foram assassinados ou envolvidos pelas redes pedófilas. Não interessa. Só interessa o Caso Meddie. Não me canso de magicar sobre o porquê de tudo isto. Mas sempre vou pensando que, afinal, a “virtude” desta situação está, simplesmente, nos “negócios” de muita comunicação social. Sem casos, não se vendem notícias… No fundo, quer fazer-se passar a ideia de que houve erros graves que dificultaram a descoberta do crime, se é que houve crime. O espectáculo das acusações mútuas, mesmo entre polícias, vai marcar esta época estival. Cá para mim, os erros foram protagonizados por toda a gente: pais que abandonaram os filhos para jantar com os amigos; polícias e demais autoridades que não terão agido com perspicácia e prontidão necessários; comunicação social que apostou friamente em ganhar notoriedade e dinheiro com um drama, alimentando a “telenovela” com capítulos e mais capítulos da história e com repetições de cenas e de coisa nenhuma, até à exaustão; e nós todos que fomos na onda dos manipuladores de opinião. É triste que, de dramas familiares, que envolvem pessoas e sentimentos, se alimentem juízos temerários, enquanto, porventura, se descura o trabalho de investigação, que deve ser feito em silêncio, muito longe dos holofotes dos industriais e comerciantes de notícias. FM

ABBA: Chiquitita

Aqui está Chiquitita, dos ABBA, que ainda ontem ouvi, recordando melodias de sempre. Boas férias com boa música.

FÉRIAS

Uma boa leitura… Uma boa música
Dei conta, há dias, neste meu espaço, do prazer que senti ao ouvir velhos discos de vinil, encontrados no meu sótão. Por ali estavam há anos, sem ninguém os ouvir. E ao ouvi-los, levando outros, cá em casa, a ouvi-los também, dei comigo a pensar que tudo isto foi possível por estar eu de alguma forma livre de responsabilidades profissionais ou outras, que foram, para mim, sempre muito absorventes. Frequentemente dou comigo, ainda, a pegar em livros que estão arrumados e até perdidos nas estantes. Pego neles e recuo às épocas em que os adquiri e li, e não resisto, então, à força que me leva a reler algumas passagens. Gosto disto. Penso que em férias podemos muito bem viver estas pequenas ou grandes emoções sem gastar um cêntimo. Temos tudo à mão, tempo e objectos que nos fazem reviver vivências passadas, que nos ajudaram a construir o nosso futuro, que é o nosso presente. Férias não têm de ser, necessariamente, tempos de correrias, de desgaste físico e mental, de canseiras enervantes, de sacos cheios de futilidades. Férias podem ser momentos de encontro com os nossos gostos nem sempre usufruídos, com leituras repousantes. Se possível, ao som, tranquilo, de melodias que foram, porventura, abafadas, nem sabemos porquê. Boas Férias para todos.
FM

PONTES DE ENCONTRO

A verdade da fome e a mentira da fartura!
“Estamos no século XXI. Devemos e podemos alimentar o planeta e não o fazemos. A cada 30 segundos, há uma criança que morre de fome, a cada dia há 25 000 seres humanos que perdem a vida porque têm fome. E há 850 milhões que sofrem com a fome. Esta é a situação. Ninguém, seja do Norte ou do Sul, pode aceitar esta situação. Ninguém. É preciso, portanto, agir e agir imediatamente. Agir significa o quê? Significa um objectivo simples: dobrar a produção alimentar mundial até 2050. Esta é a condição. E nós devemos dobrar a produção alimentar mundial preservando ao mesmo tempo o planeta.” Já há algum tempo que não escrevia sobre a falta de alimentos e da fome que daí resulta, neste espaço do Pela Positiva. De quando em quando, na vida, há a necessidade de deixarmos assentar as coisas, para que elas se tornem mais perceptíveis e óbvias, a fim de se evitar cair num nível de incompreensão, desorientação e de saturação pessoal e colectiva, que acabam por nos tirar o discernimento necessário para compreender o que nos rodeia e torna-nos insensíveis e indiferentes, mesmo perante os mais horríveis e cruéis problemas humanos de que falamos ou ouvimos falar. Tudo passa a ser banal! O ser humano, em regra e numa primeira fase, perante os factos negativos, tende a funcionar por impulsos momentâneos, passageiros e inconsequentes, recusando, negando ou até manipulando a sua existência e realidade. Procura, assim, mesmo que o possa fazer de uma forma não programada, não se comprometer com aquilo que verdadeiramente o incomoda e aflige. Por outro lado, quando não consegue abstrair-se das situações negativas ou estas se tornam uma presença constante, tende a resignar-se e a aceitá-las como naturais e inevitáveis, pelo que deixa de lutar contra elas, ou melhor, deixa de lutar por aquilo que é ou já desistiu de ser. Já não vale a pena. A excepção passou a ser a normalidade. Basta-nos recordar quando alguém é atingido por uma doença grave, para compreender melhor este tipo de comportamentos. No caso da fome, ela contínua aí, e em força! E para que não se diga que eu sou o mensageiro das desgraças, comecei este texto com uma citação do discurso do Presidente francês, Nicolas Sarkosy, proferida em Roma, em 3 de Junho, durante a Conferência de Alto Nível Sobre Segurança Alimentar da FAO (Organização da ONU Para a Agricultura e Alimentação), onde 181 países, durante três dias, procuram encontrar respostas e soluções para o drama humanitário e civilizacional da fome. Não se está, pois, perante um perigoso pacifista, um simples idealista ou um lunático de causas perdidas, rótulos que alguns não se coíbem de colocar, muito facilmente, em quem defende e luta por algumas das causas do sofrimento humano e das injustiças que lhes estão subjacentes. Nicolas Sarkozy, durante o seu discurso, reconheceu que as políticas alimentares do passado recente fracassaram. Diz ele: “Essa estratégia [dar subsídios aos países pobres] não deu certo. Ela era generosa, mas fracassou. A segunda estratégia, a do futuro, deve repousar no desenvolvimento das agriculturas locais. Esta é a única solução.” Mas, como diz o provérbio da sabedoria popular, “de boas intenções está o inferno cheio” e esta reunião da FAO veio, mais uma vez a confirmá-lo, já que nada de concreto saiu dela, assim como foram bem visíveis os múltiplos interesses em confronto, por parte dos países desenvolvidos que estiveram representados em Roma. Nós somos assim: complicados e pouco dados a querer perceber, ou a fazer que não percebemos, a verdadeira razão das coisas, sejam as nossas ou a dos outros. Sarkozy sabe disso. Por isso, ele fez o discurso que fez: correcto nos princípios e na análise, mas sem consequências práticas. Nada disto é fruto do acaso ou do infortúnio. É, antes, próprio de uma sociedade que vai preferindo uma boa mentira do que uma má verdade e onde poucos são os que se querem incomodar com o que realmente conta para um futuro melhor para todos. Até quando, ainda, é possível manter tudo isto?
Vítor Amorim

quinta-feira, 24 de julho de 2008

POR UM MUNDO MELHOR…

Ana Teresa Silva
O Pela Positiva nasceu com o propósito de apostar no que a vida nos oferece de bom. O projecto, embora muito simples, continua a fazer-me crer de que é possível e necessário ir por aí… Porém, nem sempre terei cumprido com rigor esse objectivo. Obviamente, por incapacidade minha. Depois de férias, quero dar mais um passo, convidando mais amigos para me ajudarem nessa tarefa de contribuir para um mundo mais harmonioso, de gente mais feliz. Hoje, contudo, fui alertado para mais uma aposta, nessa linha, de acreditar que há acções e projectos que reflectem o bom que a vida nos dá. Chama-se IM Magazine, de Ana Teresa Silva, jornalista, que se fez reunir de muitos amigos e colaboradores com ideias positivas, no sentido de oferecer “O melhor que se faz no mundo para um mundo melhor”. Aqui ao lado, em CULTURA, pode consultar o IM MAGAZINE todos os dias.

UM PROJECTO QUE PAROU OU UM PROPÓSITO ESQUECIDO?

Num documento que pretendeu marcar o ritmo da Igreja para o terceiro milénio, João Paulo II, ao falar da ne-cessidade e das exigências de uma espiritualidade de co-munhão, disse textualmente: “Depois do Vaticano II já muito se fez nomeadamente quanto à reforma da Cúria Romana, à organização dos Sínodos, ao funcionamento das Conferências Episcopais; mas certamente há ainda muito que fazer para valorizar o melhor possível as poten-cialidades destes instrumentos de comunhão, hoje parti-cularmente necessários, tendo em vista a exigência de dar resposta pronta e eficaz aos problemas que a Igreja tem de enfrentar nas rápidas mudanças do nosso tempo” (NMI 44). A justeza destas palavras parece estar a esquecer-se ou, então, o projecto parou, não se sabe se por inércia, se por interferência de quem parece não ter entendido ainda nem a razão de ser da Igreja, como serviço ao Povo de Deus e ao mundo a evangelizar, nem os sinais dos tempos, tão eloquentes e exigentes no estímulo a caminhos novos, que não se compadecem com demoras.
António Marcelino Clique aqui para ler todo o artigo

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 4


“AINDA A OLHAR O STELLA MARIS”

Como já aludimos no último número, quedámo-nos de novo junto do Stella Maris. Observara que um dos nossos capitães, cujo nome, ainda que autorizado, omito, estava acompanhado de familiares a prestar atenção ao alçado lateral, onde uma nova varanda, de bom traço, surgiu há pouco tempo.O jornalista quer novidades, pontos de vista, opiniões divergentes, embora! E “pescar” um capitão dos mares brancos e frios da Terra Nova, ao sol da nossa verde Gafanha e a “sonhar” o Stella Maris, era estar “de quarto” em terra, era continuar de vigia…
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PONTES DE ENCONTRO

E depois de Sydney?

O pano caiu sobre a XXIII Jornada Mundial da Juventude, realizada em Sydney, ente 15 e 20 de Julho, o que não significa que o que levou aquelas centenas de milhares de jovens a participarem nesta expressão pública de fé em Jesus Cristo tenha terminado. Bem pelo contrário: os trabalhos “a sério e a doer” começam agora. O dia seguinte, para aqueles que têm uma missão evangélica a cumprir, por norma, é sempre o mais difícil e gratificante. Se assim não for, então, as JMJ não têm qualquer razão de ser. Aliás, creio não escandalizar ninguém ao dizer que as JMJ, só por si, não são, nem pretendem ser, uma varinha mágica para os desafios com que, permanentemente, a Igreja se defronta e para os quais tem que procurar respostas e soluções, neste mundo vertiginoso, em que os jovens e os adultos vivem e devem convergir fraternalmente.
Durante estes dias da XXIII JMJ, tive a curiosidade de ir lendo testemunhos de alguns dos seus participantes e todos eles são a expressão viva e sincera, sem dúvida, de uma experiência pessoal e profunda com a Pessoa de Cristo e isto não é quantificável. Afinal, como dizia o Evangelho, do Domingo passado (dia do encerramento da XXIII JMJ): “O Reino dos Céus é semelhante, a um grão de mostarda, que um homem tomou e semeou no seu campo. É a mais pequena de todas as sementes, mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto, e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos”. (Mt 13,31-32). Isto, sim, é que é desconcertante e provocante e nos deve levar a querer ir mais além, por esses campos fora (o mundo), à maneira de Jesus Cristo (o semeador), que aguardam, ansiosamente, por serem cultivados pela semente (a Palavra de Deus) da esperança, caridade e do amor. É aqui que os jovens devem estar e é por isto que eles fazem tanta falta à Igreja! Eles precisam de sentir e saber do quanto são importantes!
Em 2 Novembro de 2007, a Agência Ecclesia colocava a seguinte questão a D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa: “Todos os anos são crismados milhares de jovens. Como não são aproveitados, é uma espécie de “check-in” para saírem da Igreja?” Reconhecendo que esta é uma das dificuldades da Igreja, D. Jorge Ortiga acrescentou: “Temos de nos interrogar. Temos de alterar a metodologia. Pessoalmente, estou convencido de que vale a pena todo este itinerário catequético, porque é algo que se semeia. Mais tarde ou mais cedo, eles voltarão.” Não sei se estes regressos são assim tão lineares e frequentes e muito menos desconheço, com o rigor exigido, as circunstâncias em que os mesmos ocorrem, quando acontecem. A estes percursos, há que acrescentar e relevar, também, as aulas de EMRC e a Pastoral Universitária.
Seja em Sydney, Madrid ou numa outra qualquer terra situada no mais recôndito local da Terra, a Igreja tem que ser capaz de apontar e levar os jovens ao encontro do sentido e dos valores da vida autêntica, do testemunho sincero da felicidade e do compromisso de fidelidade que só Cristo oferece. Tudo isto só se faz com pessoas concretas, preparadas e maduras, fora dos grandes holofotes mediáticos, através da alegria da Boa-Nova, da segurança da mensagem que transmitem e da autoridade fraterna que exercem, enquanto educadores da fé e na fé.
Quando esta oferta de vida e de futuro sustentado na rocha é feita, aceite e compreendida, os jovens descobrem um novo entusiasmo para as suas vidas e estão dispostos a partilhá-lo e a sofrer por Aquele em quem acreditam e amam Infelizmente, isto nem sempre acontece e, quando tal assim sucede, é mais um tesouro e um semeador que se perdem e uma Igreja que fica mais pobre.

Vitor Amorim

terça-feira, 22 de julho de 2008

Zeca Afonso: um cantor das nossas emoções

Já que me referi ao Zeca Afonso, como cantor da nossa liberdade e das nossas emoções, aqui fica um cheirinho para saborearem.

Os velhos LPs

No sótão de minha casa, onde se guarda tralha, há um recanto para a malta estar descontraída a ver filmes e a ouvir CDs. Num dia de alguma nostalgia, que me fez recordar tempos idos, dei de caras com uma velha aparelhagem pouco usada. Pelo menos por mim. Dentro, estavam alguns LPs. Numa prateleira ao lado, lá estavam outros. De várias épocas e para todos os gostos. Daí a transferir a aparelhagem com alguns LPs, os que mais me interessavam, foi um ápice. Depois, seguiu-se a limpeza geral, a afinação, a reparação do gira-discos. Agora, estou na fase dos velhos discos de vinil, a que ninguém, julgo eu, dá grande importância. Mas eu dou. Enquanto não os ouvir todos, não descansarei. Hoje tenho estado a ouvir o Zeca Afonso. São três LPs, com o melhor do Zeca. A brochura de apresentação do álbum, para além dos poemas das suas canções, vem enriquecida com testemunhos eloquentes de João de Freitas Branco, Óscar Lopes, Manuel Louzã Henriques, Fernando Assis Pacheco, Bernardo Santareno e Urbano Tavares Rodrigues. Ler tudo isto e ouvir o intemporal Zeca Afonso foi um enorme prazer. Num tempo assumido como de férias, imaginem como é possível experimentar um dia diferente! Fernando Martins

Perceber a arte

Pintura de Jeremias Bandarra
A arte é dom de quem cria; portanto não é artista aquele que só copia as coisas que tem à vista.
António Aleixo
Quando hoje escolhi esta quadra do nosso maior poeta popular – António Aleixo –, logo me veio à lembrança a reacção de muita gente que tem dificuldades em entender certas expressões artísticas, sobretudo as que fogem do trivial. Olhar para uma pintura abstracta, ouvir uma música clássica e apreciar uma escultura que se situa longe do figurativo são, frequentemente, motivo de desinteresse. Das duas uma: ou os artistas são malucos ou os apreciadores que olham de soslaio para o que eles criam ainda não estão educados para entender o que está acima do normalíssimo. Penso que esta última asserção é que está certa. Sendo verdade que a arte não pode nem deve ser apenas uma cópia do que os nossos olhos vêem ou os nossos ouvidos escutam, há que fazer um esforço, com o intuito de educar os sentidos, para chegarmos mais longe. A arte é, essencialmente, não um retrato bruto e simples do que nos rodeia, mas o reflexo de sentimentos, emoções, perspectivas, imaginações e gosto estético do artista, que tem de ser, como diz Aleixo, um criador. Um criador é um artista que, do nada, faz obra que nos eleva, nos enriquece espiritualmente, nos sublima os instintos primários, nos suscita sentimentos do bem e do belo. FM

DECIFRAR OS JOVENS

Viajar meio mundo para enfrentar centenas de milhares de jovens não é um desafio fácil, mesmo para quem aparentemente a ele esteja habituado. Bento XVI, aos 81 anos, aparece aos nossos olhos como o completo oposto de uma estrela de rock ou uma vedeta do desporto, mas a viagem à Austrália, para a Jornada Mundial da Juventude, provou à saciedade que não é a sua natural timidez que o impede de ser uma presença marcante no meio da festa das novas gerações católicas. Octávio Carmo

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 5

Uma página da história da Música Velha acaba de ser virada. O desinteres-se de uns e o interesse de outros, com decisões tomadas em local próprio e pelos próprios interessados, para além das circunstâncias atrás referidas, culminam nestas alterações. É então criada a Filarmónica Gafanhense, instituição que, embora sedeada na Gafanha da Nazaré, é, sem dúvida, uma entidade cultural ao serviço do povo e do Concelho de Ílhavo, que muito o dignifica.
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GAFANHA DA NAZARÉ: Centro Cultural vai ser remodelado

Centro Cultural da Gafanha da Nazaré
Li hoje, no Diário de Aveiro , que o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré vai ser remodelado. Não é sem tempo. Mas, afinal, como diz o velho ditado, mais vale tarde do que nunca. Na verdade, nunca gostei muito do nosso Centro Cultural, fundamentalmente por notar a falta de uma sala de espectáculos condigna e de uma ampla, e também condigna, sala de exposições. Porém, quando o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré estiver operacional, importa dotá-lo de condições para se tornar num autêntico espaço multicultural, com direcção própria e dinâmica. Ficar como está, não será solução para o povo desta cidade, o qual não pode continuar a viver como habitante de um qualquer subúrbio, obrigando-se a procurar, nas cidades vizinhas, expressões de arte e de cultura dignas desse nome.
FM

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Pedro Loureiro: Exposição em Lisboa

Muitas vezes estamos longe de saber o que fazem, por esse mundo fora, os nossos conterrâneos. Soube, por estes dias, que Pedro Loureiro, a que me referi no sábado, no meu blogue, apresentou algumas fotografias suas numa exposição, em Lisboa. Sobre esse acontecimento, ofereço aos meus leitores, e eventualmente aos amigos do Pedro Loureiro, este vídeo.

PONTES DE ENCONTRO

Entre o Vira do Minho e o Coral Alentejano
Provavelmente, entusiasmados por estarmos em plena época de festas e romarias, alguns políticos do nosso país têm feito referências à posição dos braços dos portugueses. Lembro-me, por exemplo, que um Vira do Minho tem que ser dançado de uma forma vigorosa, rápida e com os braços bem no ar, enquanto um cantar tradicional alentejano é cantado pausadamente, com o corpo quase imóvel e com os braços cruzados ou caídos. Seja por este espírito festivo ou por eles próprios quererem descansar os seus próprios braços e irem de férias, o certo é que basta recordarmos algumas declarações proferidas neste mês de Julho. Assim, no dia 2, o Primeiro-ministro, José Sócrates, na entrevista que deu à RTP1, dizia que, perante as crises, o que os dirigentes do PSD queriam era que o país baixasse os braços, mas que isso não vai acontecer e a crise vai ser vencida. No dia 16, durante um jantar com o Grupo Parlamentar do PSD, a Dr.ª Manuela Ferreira Leite declarava: “Parece-me que o Governo lançou os braços abaixo…” Por coincidência (ou talvez não), logo no dia seguinte, o Presidente da República, Professor Cavaco Silva, durante uma visita que fez a Celorico de Basto, apelava aos portugueses para “não baixarem os braços”, perante as dificuldades que o país atravessa. Se esta moda dos braços pega, qualquer dia, os portugueses arriscam-se a não saber como trazer ou o que fazer aos seus membros superiores. Brincadeiras à parte (tantas vezes necessárias para descomprimir, por pouco que seja, aqueles que sentem que os seus braços já não chegam para lutar contra as dificuldades diárias que enfrentam), estou em crer que as mensagens de esperança, as críticas ou os apelos feitos, ainda que ditos em, todos eles, estilo metafórico, já não bastam para retratar a situação real do país. No mesmo dia em que o Presidente da República pedia aos portugueses para “não baixarem os braços”, foi tornado público um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que é demolidor para a economia portuguesa, logo para a vida dos portugueses, em geral. E o que é mais grave, segundo o FMI, é que a maior parte da crise que vivemos resulta de factores internos e não externos. Sendo preocupante, não é nada de novo e não há dança ou cantoria que disfarce que somos um país permanentemente atrasado. Andamos neste estado de coisas há mais de 30 anos, comandados por uns “ensaiadores” que nunca fizeram o que é verdadeiramente essencial e estrutural fazer. Em vez disso, vão-se entretendo a fazer uns biscates e uns arranjos pontuais! E o que dizer, então, dos empresários portugueses? Seremos, sempre, um país inviável enquanto o défice externo português persistir em ser o que é; enquanto dependermos do petróleo, como temos dependido até aqui; enquanto mais de metade do que comemos continuar que se importado; enquanto não tivermos uma indústria moderna e competitiva; enquanto a nossa justiça for lenta, pouco transparente, não tratando todos os cidadãos da mesma maneira; enquanto os nossos níveis de escolaridade forem baixos; enquanto a formação profissional for uma manta de retalhos, um faz de conta, para passar o tempo e receber o dinheiro dos subsídios que vêm da União Europeia. Fora disto, não existem soluções milagrosas nem países com futuro, em lado nenhum do mundo, e todos os que nos têm governado, ao longo de todos estes anos, sabem muito bem disto. Ainda por cima, todas estas medidas, mesmo que tomadas agora, demoram anos a produzirem efeitos, pelo que é um erro e desonesto fazer crer que isto se resolve com um único partido ou com um só Governo. Têm que haver compromissos de continuidade nas políticas que são estruturantes e fundamentais para o país e para os portugueses, e os factos dizem-nos que isto nunca foi feito! Ilusões para quê?! Braços acima ou braços abaixo pouco importa, até porque retórica não enche barriga. Enquanto isso, os portugueses, em regra, irão continuar a usá-los para ganharem o seu sustento e o dos seus, já que é isso que conta para eles, ainda que não dispensem – estou certo – um bom Vira do Minho ou um excelente Coral Alentejano.
Vítor Amorim

domingo, 20 de julho de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 3

Preparação do terreno para a instalação do Stella Maris pré-fabricado
“OS QUE OLHAM O STELLA MARIS”
O Stella Maris de Aveiro hoje é mais do que assunto, porque é obra erguida. Pequena ou grande, bem ou mal delineada, ali está já na Gafanha, onde tomou corpo e agora, já com cor, começa a falar por si a quantos o interrogam. Paredes levantadas, já o telhado o cobre para que depressa cubra aqueles a quem pertence. A olhá-lo como os outros, parámos a uns passos. Cruzou connosco gente curiosa, interessada. Identificámos um tripulante e quisemos ouvi-lo. Falámos e da nossa conversa guardámos das suas palavras sadias, que passamos a transcrever:
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In "Timoneiro" de Maio/Junho de 1973

PAPA EM SIDNEY

AMOR PURO E ABERTO AOS OUTROS
“Uma nova era em que o amor não seja ambicioso nem egoísta, mas puro, fiel e sinceramente livre, aberto aos outros, respeitador da sua dignidade, um amor que promova o bem de todos e irradie alegria e beleza. Uma nova era na qual a esperança nos liberte da superficialidade, apatia e egoísmo que mortificam as nossas almas e envenenam as relações humanas."

FÉRIAS

Ria de Aveiro: Marina da Costa Nova
HÁ UM PORTUGAL DESCONHECIDO À NOSSA ESPERA
Quando se fala de férias, em qualquer espaço da comunicação social ou mesmo entre amigos, é certo e sabido que logo vêm discrições de lugares paradisíacos, já vistos ou de que se ouviu falar. A natureza, naturalmente, está sempre ligada a recordações de excelentes férias, em Portugal ou no estrangeiro. Importa, no entanto, falar do que o nosso país nos oferece, em qualquer dos seus quadrantes. Do Norte a Sul, saltando para os Açores e Madeira, temos de tudo. Deus, talvez sabendo da nossa pouca capacidade empreendedora ou das nossas limitadas riquezas energéticas, resolveu brindar-nos com paisagens de sonho, que são um desafio para as aproveitarmos em pleno, destinando-as, também, a quem nos visita. Não o temos feito em pleno, mas parece que a tendência está a virar-se para aí. Com a crise instalada, como reflexo do que vai pelo mundo, por causa das tais fontes de riqueza que não possuímos, urge que nos viremos para Portugal, neste tempo de férias, ao jeito de quem se quer ajudar a si próprio. Vai daí, proponho que nos brindemos com o que à nossa volta podemos descobrir, embrenhando-nos em serras e vales, em mar e rios, em cidades e aldeias perdidas, degustando a variedade de comeres e saboreando os nossos vinhos, que os há para todos os gostos e bolsas. Há monumentos decerto ainda ignorados, há paisagens a perder de vista e nunca apreciadas, há gentes de usos e costumes que nunca contactámos, há história nunca descoberta, há estórias nunca ouvidas. Há, afinal, um Portugal desconhecido à nossa espera!

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