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P.e Manuel J. Rocha, Vigário Geral da Diocese |
A maior parte das notícias que nos invadem trazem atrás de si um cortejo de violência que vai desde as bombas da guerra com o rasto da destruição, aos ataques de vingança a troco de um qualquer jogo, das mentiras ensaiadas ou dos gestos de indiferença que ferem e marcam os passos de quem sofre. É um rosário pintado de cores negras e tristes, onde a esperança parece definhar. Atrás de todos estes acontecimentos há sempre um denominador comum: todos nos achamos senhores dos nossos direitos, acompanhados da razão que sempre está do nosso lado. E, para fazer valer tal filosofia de vida, qualquer caminho serve desde que eu e as minhas coisas estejam à frente, eu as minhas circunstâncias quer pessoais, políticas ou sociais, públicas ou privadas. Nesta forma de encarar a vida, dificilmente os outros terão lugar e o próprio Deus terá as suas dificuldades.
Afinal foi Ele que nos criou, pôs nos outros a Sua imagem e deu-nos os olhos para melhor a podermos enxergar, chegando até – humilhação divina – a encarnar neste modelo de ser humano que tinha dado à luz do mundo naquele início da criação, no sexto dia à tarde.
Estamos a viver a Páscoa, a festa da vitória de um Cristo que ultrapassou os caminhos velhos dos homens e trouxe a vida para além da morte, fez novas todas as coisas. Passados mais de dois mil anos é essa, ainda hoje, a grande novidade que a Páscoa exala: enxergarmos Deus, mesmo quando se tem a sensação da derrota, dos direitos não respeitados, da justiça que é injusta, do silêncio que parece de morte, dos outros que nos abandonam, da fé que parece distante e até da morte como beco sem saída.
Viver esta novidade nos dias de hoje é demandar a estrada de Emaús feita de dúvidas, tristezas e remorsos e descobrir Aquele viandante ressuscitado, deixar que Ele se meta, de novo, no caminho das nossas vidas e permitir que nos aqueça o coração; é assumir a cruz como sinal e instrumento de vida a partilhar, é sentir que é no silêncio que se escuta o sonho de Deus e no encontro com os outros que Ele se manifesta, criando, a partir d´Ele, um Homem Novo numa estrada nova num caminho de regresso.
Deixemos que as notícias das primeiras comunidades cristãs invadam as nossas vidas e reavivem a nossa terra para que a fé seja celebrada com alegria e a vida partilhada em gestos de compromisso que fazem, de cada um, o homem novo… peregrino desta terra e anunciador desta novidade: Cristo está vivo! Para isso, “o nosso tempo urge – diz o papa Francisco - quando queres agarrar o hoje, já é ontem; e se queres alcançar o amanhã, ainda não chegou”. Hoje é Páscoa - Vida Nova!
Manuel J. Rocha, Padre
Nota: Transcrição do Correio do Vouga, com a devida vénia.