publicado no Correio do Vouga
Na região de Aveiro há referências suficientes para se criar um roteiro queiroziano, cujo centro primordial é o lugar de Verdemilho, na freguesia de Aradas, onde se situa o que resta da velha e arruinada casa da quinta da Torre, propriedade que pertenceu ao avô do dr. José Maria Eça de Queiroz (Joaquim José de Queiroz) e onde ele passou algum tempo da sua infância e adolescência. Mais tarde, ele esteve em Verdemilho em visitas saudosas, numa delas acompanhado pelo político e poeta Guerra Junqueiro.
Depois de Verdemilho, a Costa Nova do Prado é a terra mais queiroziana aveirense, por ser o local onde o escritor várias vezes gozou férias, não só na companhia da sua esposa, Emília de Castro Pamplona, mas também com vários vultos das Letras e da Cultura, como Oliveira Martins e Antero de Quental, entre outros. Em julho de 1893, escreveu ele: – «Eu considero a Costa Nova um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente palheiro de José Estêvão». Numa outra carta, datada possivelmente do ano seguinte, o escritor referiu: – «Sendo filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que me mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido palheiro de José Estêvão».
José Maria Eça de Queiroz, que nasceu na Póvoa do Varzim em 25 de novembro de 1845, era um grande amigo do dr. Luís Cipriano Coelho de Magalhães, a quem ele confidenciou que foi no famoso palheiro de José Estêvão que acertou o seu casamento com Emília Castro Pamplona, numa estadia em que também esteve presente a sua futura sogra, a condessa de Resende.
O pai de Eça de Queiroz, José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz, residiu na cidade de Aveiro, na então Rua Larga (hoje, Rua de José Estêvão) numa casa onde atualmente se ergue o palacete que pertenceu ao Visconde de Vale de Mouro e onde esteve o Centro Diocesano de Pastoral, o qual foi adaptado para um hotel. Nos primeiros meses de 1852, o pai foi advogado e redator principal do jornal Campeão do Vouga, jornal que começou a publicar-se no dia 14 de fevereiro de 1852. Numa das raras visitas que Eça de Queiroz realizou a Verdemilho, esteve na quinta da Medela, onde com a avó paterna vivera parte da sua infância e adolescência.
Recuando no tempo, surge o lugar de Quintãs, então da freguesia de Eixo, onde nasceram Joaquim José de Queiroz (09-01-1774) e Fernando José de Queiroz (03-06-1781), respetivamente, avô e tio-avô do escritor. O primeiro notabilizou-se por liderar a falhada Revolução Liberal em 1828 e, posteriormente, por exercer diversos cargos públicos e políticos; e o segundo foi um notável ator, dramaturgo e diretor do Teatro Nacional da Rua dos Condes (Lisboa).
Os pais de Joaquim José de Queiroz – José Marcelino Próspero (natural da freguesia de S. Salvador de Riba Tâmega) e Joana Leonor (natural das Quintãs) – casaram em Eixo, na igreja matriz de S.to Isidoro, no dia 10 de fevereiro de 1771. Eça de Queiroz morreu em 16 de agosto de 1900, em Neully-sur-Seine (França). Em 17 de dezembro de 1932, Emília de Castro Pamplona, viúva de Eça de Queiroz, escreveu a Luís de Magalhães, filho do parlamentar José Estêvão Coelho de Magalhães, solicitando-lhe que os restos mortais do escritor fossem trasladados para o cemitério de Aradas – o que nunca aconteceu. Finalmente, no dia 08 corrente foram transladados para o Panteão Nacional. Numa rotunda da freguesia de Aradas levantou-se um monumento em sua honra e na toponímia de Aveiro foi dado o seu nome a uma rua.
Nota: Artigo publicado no Correio do Vouga de 15 de Janeiro deste ano.