Proscrita
Dezasseis anos, quase, — inda os não tem.
Espera por bebé, é o seu problema.
Ao dar-se conta, fica embaraçada
E, cheia de coragem, diz à mãe.
A mãe segreda ao pai; mas, qual segredo!
Nervoso, despeitado no seu brio,
Reage com violência: insulta a filha,
Dá-lhe encontrões e vai-lhe mesmo à cara.
Indesejada em casa, a moça foge, —
Como a lebre dos montes, perseguida.
Sem nada: apenas o que tem vestido.
No colégio das freiras, não a acolhem.
O namorado fora para a tropa.
Riem-se dela, e mofam, as amigas.
Reinaldo Matos
“Sinfonia de poemas de Reinaldo Matos — 25 anos de poesia — 1959-1984”,
Antologia organizada por Amílcar Amaral, Braga — 1984
Nota de rodapé, na página deste poema: «O poeta condena certos pais que desprezam e rejeitam a filha que caiu na tentação… e ficou grávida. Quanto mais cristão será perdoar… acolher… ajudar…»
José Reinaldo de Sousa Matos, nascido em 21-III-1925, ordenado em 29-VI-1950 e falecido, nos EUA, em 11-X-1993
NOTA: Ontem participei num encontro comemorativa da criação da Obra da Obra da Providência há 71 anos. Na altura da fundação, tinha por objetivos apoiar raparigas e mulheres retratadas neste poema. A sociedade entretanto mudou, mas a Obra adaptou-se aos novos tempos nascidos com o 25 de Abril e voltou-se para as crianças.
Participaram na cerimónia, para além dos dirigentes atuais e alguns antigos, bem como a Câmara Municipal de Ílhavo e da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, representadas por João Campolargo e Carlos António, respetivamente.