Li ou ouvi um dia destes, já não sei bem, (penso que se referiam à mensagem do Papa Francisco para o Dia do Idoso), que “viver a velhice é um dom”. Concordo, aceito e tento vivê-la como tal.
Olhar para o passado, fazer balanço à caminhada, pensar em tantos que foram meus familiares, amigos da escola e de infância, colegas a nível profissional, e não só, que já partiram, alguns há bastante tempo, e eu continuar a viver, ainda que com alguns problemas de saúde, é de facto um dom que todos os dias agradeço ao Autor da vida.
O problema é que, para uma grande parte dos idosos, mormente nas aldeias do interior (mas não só, nas cidades também acontece, e muito) velhice é sinónimo de isolamento e, mais do que isso, de solidão. O povo das nossas aldeias sempre foi muito solidário mas… estão quase todos na mesma situação. Os mais válidos e com idade para trabalhar, tiveram de procurar nos grandes centros lugar onde “ganhar” a vida. Nem toda a gente tem um familiar perto que prontamente acorre em momentos de aflição, ou que, embora distantes, todos os dias contactam a saber do estado de saúde … Nem todos, nem pouco mais ou menos, têm possibilidade de uma pessoa que lhes preste assistência ao menos algumas horas por dia para as necessidades básicas, nem posses para frequentar um Centro de Dia, quando o há, e muito menos um Lar de Terceira Idade com condições básicas mínimas, para já não falar em Lares de qualidade. Mesmo nestes, e falo com conhecimento de causa, apesar dos esforços evidentes do pessoal, não há grandes possibilidades de atender a cada um que quer conversar, desabafar, contar e recontar as estórias da sua história.
É preciso que nas nossas comunidades se encontrem pessoas que queiram sacrificar algum do seu tempo, por certo precioso e necessário ao seu legítimo descanso, para o partilharem com os idosos e doentes das nossas comunidades. Precisamos de fazer mais pelos idosos, pelos mais velhos.
E termino citando a enfermeira CARMEN GARCIA, com muita experiência no tratamento e, principalmente no acompanhamento de idosos, que, no seu livro “A ÚLTIMA SOLIDÃO”, escrevia: “Morrer de amor pode valer a pena; morrer de solidão é, provavelmente, o final mais triste que podemos encontrar neste mundo.”
Manuel Araújo da Silva
NOTA: Texto publicado no "Correio do Vouga"