domingo, 17 de setembro de 2023

Quando a cerâmica preserva a memória

Milú e Jorge Saraiva na Oficina da Formiga 

 Prato da abundância (meu arquivo)
A discreta casa de Jorge Saraiva e Milú, na rua da Coutada, em Ílhavo, é um ponto de encontro para amantes da cerâmica com memória. A Oficina da Formiga nasceu há 30 anos com o objetivo de “reproduzir desenhos tradicionais que eram feitos em faianças e que ninguém estava a reproduzir”. Hoje não têm mãos a medir para tantas encomendas.
No início era apenas um hobbie de Jorge, ceramista de profissão e formação, e da mulher, trabalhadora num laboratório de análises clínicas. Os dois começaram a pesquisar e reproduzir as figuras que viam. Já fizeram de tudo, do prato à bilha, mas confessam que neste momento, a peça que mais gostamos de pintar é o alguidar. É uma peça tradicional portuguesa que desapareceu quando surgiu o plástico, mas agora está a ser retomado pelos nossos clientes”.
Na altura da crise, o trabalho do casal deixou de ser apenas um passatempo. “Equacionámos sair do país, mas, entretanto, demos a volta”, contam ambos. A solução passou por agarrarmos nas nossas peças e transformámo-las em peças utilitárias, deixaram de ser só decorativas. Conseguimos apanhar o mercado externo e neste momento cá estamos”.
Com cerca de 90% das vendas a ser realizadas nos mercados internacionais, o Japão, a França, a Austrália e a Finlândia surgem como os mais importantes. Os clientes são distintos, desde retalhistas, chefes de cozinha e hotéis de luxo. Das mãos de Jorge e Milu nasceram artigos exclusivos para o hotel de luxo Six Senses Douro Valley e para o restaurante L’Epi D’Or, de Jean François Piège, chef francês com duas estrelas Michelin (uma das mais importantes distinções do mundo da gastronomia).
Como fonte de inspiração e de encontro com a memória, a Internet ajuda muito. “Há 30 anos, visitávamos as feiras de velharias e os antiquários com a máquina fotográfica escondida. Depois era pegar na fotografia, ampliá-la para o desenho caber no prato”, conta Milu a rir.
Também graças ao digital, vendem muito através da loja online. Mesmo assim, são muitas as pessoas que vêm a Ílhavo para comprar. Quando assim é, Milú ajuda os clientes “a pensarem um pouco fora da caixa”, para que “as pessoas levem para casa uma coisa que realmente gostam e vão usar”.
Na Oficina da Formiga, o sentimento de casa é forte. A loja e showroom recriam o ambiente acolhedor de uma cozinha que promove encontros e conversas e, amiúde, workshops onde a partilha está sempre presente.
O segredo do sucesso da Oficina da Formiga? “O trabalho consistente e permanente, e a identificação das pessoas com estes objetos que habitam na memória de cada um”.

Nota: Texto e foto da Revista ÍLHAVO de Abril de 2022

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