Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo IV do Advento
Deus sonha. E São José aparece no Evangelho deste 4º domingo como um homem que sonha, que configura o sonho de Deus ao fazer-se humano. E acontece o Nascimento. O Papa Francisco, grande devoto de São José, dedica-lhe uma Exortação Apostólica com pertinentes e sábias observações.
O sonho na Bíblia e nas culturas antigas, simboliza a vida espiritual. É através dele que Deus se manifestava e falava no íntimo de cada um. No entanto, adianta o Papa Francisco, dentro de nós não existe apenas a voz de Deus, existem muitas outras vozes: a voz dos nossos medos, de experiências passadas, de esperanças, e até a voz do maligno que nos quer enganar e confundir. Por isso, é importante discernir qual é a voz de Deus.
São José, porque se acostumou ao silêncio e à oração, foi capaz de dialogar com Deus no seu interior. Isso mesmo testemunham quatro sonhos que teve. No primeiro, o anjo ajuda-o a resolver o drama que lhe causou a inesperada gravidez de Maria; a partir do segundo decide fugir para o Egito, porque a vida de Jesus corria perigo; já em terra estrangeira, José espera um sinal de Deus, que chega no terceiro sonho e lhe permite voltar para casa; por fim, quando José regressava, ao saber que a Judeia ainda não era lugar seguro, sentiu medo, mas graças à mensagem do quarto sonho, não se deixou abater e decidiu ir para Nazaré, na Galileia.
Estas preocupações e estes sonhos de José fazem-me pensar em muitas pessoas esmagadas pelo peso da vida, que já não conseguem dialogar com Deus. Que São José as ajude a reencontrar o Senhor, que afugenta os medos, e a redescobrir na oração a força do amor que eleva. Por isso, Lhe rezo com fervorosa piedade: São José, vós sois o homem que sonha, ensinai-nos a recuperar a vida espiritual como o lugar interior onde Deus se manifesta e nos salva. Retirai de nós o pensamento de que rezar é inútil; ajudai cada um de nós a corresponder ao que o Senhor nos indica. Que o nosso raciocínio seja irradiado pela luz do Espírito, o nosso coração encorajado pela Sua força e os nossos receios salvos pela Sua misericórdia. Ámen.
O peso da vida que esmaga tantos seres humanos feridos na sua dignidade e nos seus direitos. Vida exuberante de frescura e ““choramingas” de esperanças mortiças que se esvaem. Vida que Jesus agarra com determinação e valentia e quer levar à plenitude. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Jo 10, 10
A parábola do Bom Pastor visualiza emblematicamente “a arte divina de curar”, o jeito de ser cuidador “a toda a prova”. Semeia o desconcerto entre os ouvintes e antecipa o futuro em acção: Deus é amigo de uma vida digna e sadia. Para todos/as; para cada um/a. Apresentou a sua actividade curadora como sinal para mostrar aos seus seguidores em que direcção temos de actuar para abrir caminhos a esse projecto humanizador do Pai que Ele chamava “reino de Deus”.
“Curar feridas” é tarefa urgente, afirma o Papa Francisco, que adianta: “Vejo com claridade que o que a Igreja necessita hoje é uma capacidade de curar feridas e dar calor e proximidade aos corações… Isto é o essencial: curar feridas, curar feridas”. Fala também de “caminhar com as pessoas nas noites da vida, saber dialogar e inclusive descer à sua noite e escuridão sem se perder”. Jesus ao confiar a sua missão aos discípulos realça a dimensão de fazerem um serviço de cura: “Anunciar a proximidade do reino de Deus e curar os enfermos” J. António Pagola, teólogo espanhol. E o Natal vai acontecendo no nosso dia-a-dia.
Pe. Georgino Rocha