sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Diz-nos o Senhor: Endireitai os caminhos da vida

Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo II do Advento

“A Igreja não pode ficar à margem da história, presa nas suas próprias questões, mantendo inflada a sua bolha. A Igreja é chamada a escutar e ver os sinais dos tempos, para fazer da história, com suas complexidades e contradições, uma história de salvação”, escreve o Papa Francisco


A liturgia faz-nos avançar rumo ao Natal com a ajuda da voz profética de João Baptista, o arauto dos tempos novos, de Jesus Salvador. Voz que nos exorta a “endireitar” os caminhos da vida, tendo em conta facetas fundamentais, tais como: a alegria de servir, a busca da verdade, a situação de quem está em necessidade. Prosseguindo nos seus passos, saboreamos, desde já, a novidade única de tão singular nascimento. E podemos ouvir outras vozes que fazem coro com a do seu primo João.
A poetisa chilena, Gabriela Mistral, 1889-1957, (aaldeia.net) dá rosto literário «à imensa alegria de servir» em versos cheios de realismo e de verdade. Transcrevem-se alguns: Toda natureza é um desejo de serviço. Serve a nuvem, serve o vento, serve o sulco. Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu; onde houver um erro para corrigir, corrige-o tu; onde houver uma tarefa que todos recusem, aceita-a tu. Sê tu quem tira a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades dos problemas. Há a alegria de ser sincero e de ser justo; há, porém, mais do que isso, a imensa alegria de servir.
“Caminhos não andados esperam por alguém” cantam de júbilo os nossos corações ao contemplarem o Natal que vai florescendo. Caminhos não andados. Por nós. Por quem é peregrino no advento da Igreja sinodal que estamos a viver. Importa ritmar o passo pela melodia que vem da liturgia, da voz de João, da exortação de Jesus, que “está no meio de vós”.
“A Igreja não pode ficar à margem da história, presa nas suas próprias questões, mantendo inflada a sua bolha. A Igreja é chamada a escutar e ver os sinais dos tempos, para fazer da história, com suas complexidades e contradições, uma história de salvação”, escreve o Papa Francisco, na mensagem dirigida ao Fórum da Ação Católica que, decorreu de 26 a 27 de novembro, em Roma. Isto significa uma Igreja “vitalmente profética, com sinais e gestos que mostrem que existe outra possibilidade de convivência, de relações humanas, de trabalho, de amor, de poder e de serviço. E, como a citada poetisa chilena, observar como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para lutar! Não te seduzam as obras fáceis. É belo fazer tudo que os outros se recusam a executar…
Deus, que nos dá fruto e luz, serve. Poderia chamar-se: o Servidor. E tem os seus olhos fixos nas nossas mãos e pergunta-nos todos os dias: – Serviste hoje?
A mensagem de João Baptista chama-nos à conversão integral, “ecológica”, repensando nossos estilos de vida e nossas relações, a organização de nossas sociedades, Papa Francisco, Todos Irmãos/Fratelli Tutti 33. O que nos faz ver a paciência superabundante envolvida na sua gestação e organização. O que nos é rememorada tão significativamente no Presépio.
António Francisco dos Santos, conhecido por ser o bispo da bondade e por apregoar que “a noite não tem cancelas” e aparecer em reuniões de Equipas de Casais quando o ritmo da sua vida pastoral o permitia, deixa-nos um belo exemplo de como ser misericordioso e reconciliador, ir ao encontro dos outros, fazer-se próximo, acolher sem condições, dar e receber o perdão; de como fazer a ressonância à Palavra de Deus.
As suas ricas mensagens e, sobretudo, o seu estilo de vida, garantem que é possível viver o Evangelho a tempo inteiro no emaranhado do quotidiano, sem alarmismos nem ansiedades. A sua memória abençoada certamente vai fazer-nos ser mais atentos ao nosso próximo e a varrer do coração todo o rancor humano, a ousar perdoar incondicionalmente, seguindo a viva recomendação de Jesus, a pertencer sempre ao Senhor da vida e da morte, o servidor de todos, de acordo com a afirmação de fé de São Paulo, na carta aos cristãos de Roma.
De facto, necessitamos sempre de endireitar os caminhos da vida, como recomenda João, o primo de Jesus.

Pe. Georgino Rocha

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