Armando França |
O livro de Armando França, “O AMOR E A GUERRA COLONIAL – Escreve-me cartas bonitas”, contou com a colaboração de sua esposa, Celina França, na altura sua namorada. São cartas e aerogramas do tempo da Guerra, onde está sempre presente o amor, a política e a situação económica e social do nosso país, entre outros temas do dia a dia e dos ambientes de ambos.
"Durante dois anos e meio, entre outubro de 1972 e o meu regresso da guerra colonial em Angola, em março de 1975, mantive uma comunicação epistolográfica regular e quase diária, por carta e aerogramas com a Celina, então minha noiva e hoje minha mulher, mãe dos nossos filhos e avó dos nossos netos, que, à época, estudava em Coimbra”, lê-se na abertura da Introdução. Onde se diz, também, que escreveram nesse período, um ao outro, cerca de 1100 cartas e aerogramas.
Armando França esclarece que a ideia de escrever e publicar este livro nasceu da constatação de haver muita ignorância entre os portugueses atuais, sobre o “serviço militar obrigatório e sobre a guerra colonial”.
“O AMOR E A GUERRA COLONIAL – Escreve-me cartas bonitas” é uma obra de 230 páginas de conteúdo epistolar referente a um casal de namorados, onde a ternura e o amor marcam presença indelével, mas sai enriquecida pela introdução que enquadra o leitor na época. Era um tempo autocrático e dominado por um regime de partido único de Salazar e Marcelo Caetano, defensores de um Portugal multicultural e multicontinental, não obstante o surgimento de contestação no país, logo combatida pela polícia política.
O autor evoca os seus tempos do quartel em Mafra, onde “Um homem fica completamente alienado”, mas foi ali que verdadeiramente conheceu “o paradoxo da guerra colonial”, numa época em que “os ventos de libertação dos povos colonizados e da paz há muito que tinham soprado em todo o mundo”.
Por outros quartéis por onde estagiou nunca lhe faltaram as palavras de amor e de estímulo da sua Celina, que os leitores desta obra não se cansarão de ler e reler, apreciando a sua reciprocidade. E Angola veio a fechar, com destaque para a Declaração do General Spínola e o cessar fogo no Maionde. E com o acordo de Alvor, em janeiro de 1975, surgiu o regresso antecipado a Portugal. “As férias em Portugal e o casamento recompuseram-me. A Celina e eu pudemos então compensar com muito amor a dolorosa separação que nos havia sido imposta”, sublinha Armando França.
Mas se o contexto é riquíssimo pela informação histórica que nos fornece, as cartas, meus amigos, quais retratos genuínos de dois namorados apaixonados, ficam na sua pureza para os meus leitores se deleitarem.
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Fernando Martins