para o Domingo XXI do Tempo Comum
“Serão muitos os que se salvam?” A resposta é nossa. A decisão depende de cada um. A urgência aperta. A coerência serve de critério aferidor. A prática da justiça constitui, segundo Jesus, a porta estreita de “entrada na casa” da salvação.
A vida humana tem futuro? O que fazemos agora esgota-se no momento em que acontece ou prolonga-se para além do tempo? O que sobrevive de mim, após a morte, tem algo a ver comigo que procuro realizar-me em cada momento? O que me aguarda definitivamente tem algo a ver com as opções que faço, em cada dia, e a vida que levo?
Estas e outras preocupações – talvez não tão elaboradas – atormentam os acompanhantes de Jesus, no seu “percurso” para Jerusalém. Um anónimo ergue a voz, no meio da multidão, e condensa-a na pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” - pergunta que fica sem resposta directa. Lc 13, 22-30.
Jesus lança mão da metáfora da porta estreita e exorta a que nos esforcemos para entramos por ela na sala da felicidade. Metáfora que nos reporta à Igreja da Natividade, em Belém da Palestina.
A porta estreita tem um símbolo muito expressivo na porta de entrada da Igreja da Natividade, em Belém, onde Jesus nasceu. É a porta da humildade. Tem apenas 125 centímetros de altura, diminuindo a entrada anterior. Temos de nos abaixar para passar por ela para vermos a estrela que indica o local do nascimento. Obriga as pessoas a curvarem-se para poder entrar na igreja. Ninguém pode entrar de outro modo.
Jesus acolhe a pergunta e aproveita a oportunidade para fazer um dos mais belos ensinamentos do seu magistério. Ignora o número pretendido e centra a sua atenção nas pessoas, exortando-as a praticarem uma qualidade de vida expressa em acções coerentes; condiciona o desfecho da existência terrena à luta, ao combate, ao “esforço” feito, por cada uma, como prova de acolhimento ao dono da casa e sintonia com a sua vontade; garante que haverá surpresas que encantarão uns e desiludirão outros; exorta, com insistência, a entrar pela “porta estreita” a fim de poder sentar-se à mesa da felicidade; responde no plural, sinal de que a salvação se realiza em solidariedade fraterna, embora seja pessoal; designa esta realidade englobante por reino de Deus, indicando, claramente, o futuro emergente na história que se desvendará plenamente na eternidade.
A coerência entre o que se ouve e diz e o que se faz; entre o que se convive em festas alegres e amigas e a distância de sentimentos e critérios de vida; entre a presença vistosa, provocadora e hipócrita, em praças públicas e as atitudes honestas, fruto da verdade e do bem; entre os comportamentos sociais, fingidos e corruptos, e o testemunho honrado e corajoso, ainda que incompreendido e desvirtuado; entre as situações discriminatórias e humilhantes e os laços fraternos das pessoas entre si e as relações filiais com o Deus de todos …esta coerência vivida é expressão do reino anunciado por Jesus e tão belamente visualizado na porta estreita, na novidade do Evangelho.
Eu estou à porta e bato, diz o Senhor Jesus. Se alguém abrir, Eu entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo. Se alguém abrir, entrarei; se não passo adiante. A missão não tem fronteiras.
“Serão muitos os que se salvam?” A resposta é nossa. A decisão depende de cada um. A urgência aperta. A coerência serve de critério aferidor. A prática da justiça constitui, segundo Jesus, a porta estreita de “entrada na casa” da salvação.
Pe. Georgino Rocha