para o Domingo de Pentecostes
O Espírito Santo é dado a todos, mas é recebido conforme a medida de cada um. Vale a pena dar-lhe o espaço todo da nossa consciência e relação com os outros, do nosso amor e empenho na sociedade, na família e comunidade eclesial
O Espírito Santo é oferecido aos discípulos por Jesus, o enviado de Deus Pai, após a ressurreição. Esta oferta constitui um acontecimento de excepcional importância e, segundo a narrativa de São João, reveste características especiais que ajudam a captar a sua novidade. Ocorre no primeiro dia da semana, ao anoitecer, quando os discípulos estão fechados em casa e cheios de medo. Que escolha contrastante!
Jesus manifesta-se no meio deles, deseja-lhes a paz e mostra-lhes os sinais da paixão. Eles exultam de alegria por verem o Senhor. E neste ambiente cordial e nesta relação pacífica, Jesus faz o seu envio em missão, após lhes ter recordado que é Deus Pai, a fonte do envio missionário. E, enquanto sopra sobre eles, afirma: “Recebei o Espírito Santo” para o perdão dos pecados. Abri o coração ao sopro do Senhor. Jo 20, 19-23.
Fica assim definida a novidade que o Espírito gera continuamente em nós, na Igreja e no mundo. Dá seguimento à nova fase da história da salvação inaugurada por Jesus ressuscitado. Dissipa as noites do espírito e abre a consciência humana a novos horizontes de luz e de esperança. Elimina a tormenta dos medos e dá consistência às convicções firmes, geradoras da segurança interior inabalável. Realiza, de forma especial, a presença de Jesus no meio dos seus discípulos reunidos em assembleia ou dispersos pelo mundo em trabalhos da missão. Cria uma atmosfera convivial e fraterna entre todos, dando alento ao que está de ânimo abatido e amedrontado, reforçando os laços de união entre os que desejam cultivar relações amigáveis construtivas. Que riqueza nos é oferecida. Que disponibilidade nos é exigida.
“Vem Espírito Santo, Tu que suscitas línguas novas e pões em nossos lábios palavras de vida, livra-nos de nos convertermos numa Igreja museu, formosa, mas muda, com muito passado e pouco futuro”, reza o Papa Francisco. E nós com ele.
Recebei o Espírito Santo, o sopro de Deus que purifica a humanidade de tanta poluição que intoxica as consciências e desvirtua os valores - espelho da beleza da criação e das criaturas, especialmente da dignidade da pessoa, indivíduo solidário. Recebei o Espírito Santo, o defensor da verdade do ser humano e do seu habitat, de acordo com o sonho divino em realização. Recebei o Espírito Santo, o amor e a ternura de Deus que ampara os pobres da terra e desvalidos da sociedade, a brisa de compaixão e misericórdia, o fogo sempre aceso e a luz sempre a irradiar, o rosto de Cristo ressuscitado que brilha na diversidade das culturas e religiões, a força e a esperança dos que anunciam a paz e lutam por um mundo mais justo e fraterno. Recebei o Espírito Santo que dispensa o perdão sem medida a quem não lhe fechar o coração e puser condições.
O Senhor chega ao coração dos seus fiéis para acender neles o fogo do seu amor. A força do Senhor invade-nos. O Alento de vida transforma o nosso deserto em mil jardins. Chama de amor viva: Dá-nos a linguagem da entrega, dá-nos o dom da comunicação e a humildade. Faz-nos comunidade de amor; faz-nos Igreja aberta a todos. Irrompe com o teu vento impetuoso em nossas casas, projectos e instituições. Assombrosa presença! Que fermentas os mostos de amor e de esperança e nos abraças um por um com a tua presença nomeando os nossos nomes ”tatuados em tuas mãos”. Homilética 2022/3, 323.
O Espírito Santo é dado a todos, mas é recebido conforme a medida de cada um. Vale a pena dar-lhe o espaço todo da nossa consciência e relação com os outros, do nosso amor e empenho na sociedade, na família e comunidade eclesial. Abri o coração ao sopro do Senhor.
Pe. Georgino Rocha