Reflexão de Georgino Rocha pata o Domingo IV da Páscoa
A liturgia faz-nos dar um passo em frente. Após as aparições que confirmam Jesus como o Vivente ressuscitado, surge esta declaração solene em resposta às autoridades dos judeus que o haviam rodeado no Templo de Jerusalém e interpelado de forma clara e incisiva: “Se és o Messias, diz-no-lo abertamente”. Jo 10-30.
“As obras que faço em nome do Meu Pai dão testemunho de Mim; vós, porém não quereis acreditar”, responde Jesus. São as obras que dizem quem Ele é, que dizem quem nós somos. Obras que dão testemunho coerente e interpelante, atraente e irradiante.
Hoje, a Igreja celebra o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. E o Papa Francisco dirige-se aos jovens em termos vigorosos: "Não sejam surdos à chamada do Senhor! Se Ele os chamar, não se oponham, mas confiem nele. Não se deixem contagiar pelo medo, que nos paralisa, diante da proposta do Senhor. Lembrem-se sempre que o Senhor promete, aos que deixam tudo para segui-lo, a alegria de uma vida nova, que enche o coração e anima nosso caminho".
Seguir Jesus é escutar a sua voz que nos chega em tantos sons e tons; é colocar os nossos passos nas pegadas que nos deixa nos caminhos da vida; é (re)conhecer o chamamento que nos faz; é aceitar ser membro da sua comunidade que, em linguagem pastoril própria da época e da cultura do seu tempo, se designa por rebanho de ovelhas de que Ele é o belo e o bom Pastor.
O único Pastor, Jesus Cristo, comunica aos Seus discípulos, aos cristãos, à Igreja, a missão de serem pastores. São “pessoas que presidem e animam nossas comunidades cristãs: Bispos, padres, ministros… pessoas que devemos escutar e seguir; pessoas que ensinam a mensagem de Cristo: os pais, os mestres, os catequistas...;os companheiros de trabalho que se comportam com honestidade; a mãe, que marcada pela dor, tudo suporta com paciência e com amor, o pai que educa o filho para o perdão, para a reconciliação, para a partilha”, exemplifica o Padre António no seu comentário dominical.
A relação do pastor com o rebanho visualiza a relação de Jesus connosco: conhece o nome, a consciência; acompanha-nos nos caminhos da vida, alerta-nos para a responsabilidade do presente e indica-nos a satisfação do futuro. Não nos substitui, mas oferece-nos o seu amparo e protecção, garante-nos segurança e respeita a liberdade.
A ilustrar o tipo desta relação, conta-se que um actor deliciava os convivas durante o serão realizado num castelo na Inglaterra. Declamava textos de Shakespeare. No fim e perante o agrado geral, dispôs-se a que lhe pedissem um bis. Os convidados ficam em silêncio. Então um padre católico, perguntou-lhe se sabia o salmo 22. “Sim, sei. Mas só o declamarei se, depois de mim, o recitar o senhor”. Tímido, o padre aceita. (Este salmo narra com grande beleza e realismo a acção de Deus como pastor solícito). A declamação do actor entusiasma os convivas a ponto de o aplaudirem de pé. Depois segue-se a intervenção do padre que faz uma recitação diferente. À medida que avançava, um silêncio mais profundo se sentia e, num ou noutro rosto, assomava uma lágrima sentida. Gerou-se um ambiente especial em que se respirava algo espiritual. Não houve palmas, mas surgiu a voz do actor a dizer: “Senhoras e senhores, espero que tenham compreendido o que aconteceu aqui esta noite. “Eu declamei como um artista que sabe o salmo, o padre mostrou bem que conhece o Pastor. Parabéns!”
Que belo depoimento! E como são precisos os padres que conhecem e testemunham o bom e belo Pastor!
Pe. Georgino Rocha