Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo de Ramos,
Pórtico da Páscoa
"A paixão de Jesus consiste em viver para os outros, correr os riscos desta opção e pagar a respectiva factura de incompreensão e morte. Não é simples compaixão ou ingénua comiseração."
Hoje, domingo de Ramos, não somente recordamos um feito histórico, mas um acontecimento de fe; fazemos solene profissão de fe em que a cruz e morte de Cristo são, definitivamente, uma vitória. Palmas e ramos, sinais populares de vitória, manifestam que a morte na Cruz é caminho de vitória. Lc 22, 14 – 23, 56
A paixão de Jesus condensa e realiza, de forma sublime, o seu amor pelo bem dos outros. Mostra, com clareza, o centro da sua vida e missão. Une, de modo feliz, a dedicação às pessoas, com o desejo intenso de Deus Pai salvar a todos/as. Leva ao extremo a capacidade de doação que perdoa aos verdugos, suporta o abandono dos amigos, vibra e chora com a dor da multidão, aceita a ajuda dos que o acompanham na caminhada pública, solidariza-se com a sorte dos excluídos e condenados e condói com toda a humanidade.
“Trata-se da humildade do homem que vive em autenticidade e coerência e que, portanto, mantem e defende a sua dignidade. Ser humilde é renunciar à auto-suficiência e reconhecer-se nas mãos de Alguém maior que o próprio eu…; é despojar-se de si mesmo, esvaziar-se sem ficar vazio ou derrotado; é viver a radicalidade da verdadeira obediência, ou o que é o mesmo, aprender a escutar a voz de Deus nos acontecimentos que nos rodeiam ou nos cercam e não claudicar, ser coerentes, seguir em frente fiéis ao projeto de Deus para a humanidade”. José Antonio Homilética 2022/2.
Toda a vida de Jesus está centrada nos demais que, em nome de Deus, quer libertar da indiferença e insensibilidade, do preconceito e do medo, da satisfação instalada e da relação egoísta. Centrada neles para lhes abrir horizontes como os seus e suscitar uma entrega tão generosa como a sua. A paixão de Jesus consiste em viver para os outros, correr os riscos desta opção e pagar a respectiva factura de incompreensão e morte. Não é simples compaixão ou ingénua comiseração.
“O projeto libertador de Jesus entrou em choque com as autoridades, que se sentiram incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar poder, influência, domínio, privilégios. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e pregaram-no na cruz. A morte de Jesus é a consequência do anúncio do Reino que provocou tensões e resistências”. P. António Costa.
O amor de misericórdia fá-lo partilhar a ceia memorial com os amigos, ser compreensivo com os discípulos no Jardim das Oliveiras, olhar compassivo a Pedro negador, a acolher com ternura o choro das mulheres de Jerusalém, confrontar Herodes e Pilatos com a verdade, aceitar a desejada colaboração de Simão de Cirene, acolher as imprecações dos soldados e as lamentações dos condenados, contemplar o grupo de fiéis seguidores junto à cruz, entregar o cuidado da Mãe a João e deste àquela, morrer confiante nos braços do Pai, que surpreende na manhã da Ressurreição. É a Pascoa que, em festa, celebramos.
O amor de Jesus faz-se oração de perdão pelos seus algozes e por aqueles que o condenaram, faz-se oferta de salvação ao ladrão arrependido: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”, faz-se morte que suscita vida nova. E o centurião romano, ao ver o que ocorria, reconhece Jesus como um homem justo e dá glória a Deus. De facto, afirma Boff “tão humano, só Deus”.
Pe. Georgino Rocha