Os grafites têm a vantagem de chamar a nossa atenção para algo importante. Cenas do quotidiano, crítica social e política, evocações do passado, o que se discute no presente. Os artistas de rua, chamados grafitis, que abordavam estes e outros temas, ora denunciando, ora sublinhando realidades do presente e do passado, deixaram de ser ostracizados e malquistos, passando a ser considerados e respeitados, com toda a dignidade.
Há muito que eu passava por este recanto de Aveiro, a caminho do Hospital, e sempre no meu íntimo criticava o estado de abandono daquela parede, provavelmente à espera de um arranjo condigno. Burocracias ou direitos estariam a atrasar obras necessárias.
Há tempos, porém, verifiquei que, afinal, a parede a cair de velhice estava pichada, homenageando uma profissão a cair em desuso entre nós.
As marinhas de sal ou salinas da nossa ria. em maré de extinção, deram lugar a alguns espaços para turista ver. E nesta velha parede a figura típica do marnoto de outrora mostra a sua arte de rer/raer o sal que seria depois transportado, em canastras, pelos moços contratados, no olho da cidade, na época da Feira de Março, para a safra salineira. Os típicos montes de sal, cónicos e branquíssimos, emprestavam, realmente, uma beleza rara à nossa região. Tempos depois, porém, eram cobertos por bajunça seca, aplicada com saber e arte, para enfrentarem o Inverno.
Fernando Martins
NOTA: Com a pressa, não vi o nome do artista. Quando lá passar, tentarei saber.