para o Domingo V da Quaresma
Estamos na semana final da Quaresma. A Liturgia de hoje vem lembrar-nos a atitude fundamental que devemos viver neste tempo; atitude que tem de ser, a de construir a fraternidade e não a de atirar pedras, É o que brilha no episódio ocorrido no Templo de Jerusalém sendo protagonistas a mulher adúltera acusada por fariseus sob o olhar de Jesus. Jo 8, 1-11. “O problema do mal e do pecado não se resolve com o castigo e a intolerância, mas pelo amor e a misericórdia”.
“Vai e não tornes a pecar”, exorta Jesus a adúltera. Esta sentença contrasta radicalmente com o preceituado na Lei de Moisés e constitui uma estimulante orientação de vida. É declarada por Jesus, após o julgamento sumário da mulher apanhada em adultério, e trazida por zelosos escribas e fariseus. Condensa, exemplarmente, a atitude de Jesus e reproduz o núcleo do seu ensinamento face a quem se desvia nos comportamentos dignos da condição humana, reflexo da bondade original de Deus.
Os rigorosos fariseus “deliciam-se” com o sucedido. E não era para menos. Não havia escapatória para Jesus. Por justiça legal, ela devia ser morta por apedrejamento. Por condescendência e misericórdia podia ser salva, mas transgredindo abertamente o preceituado tradicional. “E tu que dizes?” – indagam eles, alimentando o sonho discreto de o “porem à prova” com esta armadilha e terem razões para o acusar ou contradizer.
Não fora a intenção manhosa, a pergunta indicaria um excelente critério de avaliação ética e religiosa das situações de vida e dos acontecimentos familiares e sociais. Querer saber o que Jesus pensa e tê-lo em consideração, à hora de tomar decisões, constitui um precioso recurso para quem quer encontrar a verdade e agir livremente. E como seria mais acertada a gestão de tudo o que contribui para o bem comum em todas as suas facetas e modalidades!
“Deus surpreende-nos sempre, rompe os nossos esquemas, põe em crise os nossos projetos e diz-nos: «Confia em Mim, não tenhas medo, deixa-te surpreender, sai de ti mesmo e segue-Me”, afirma o Papa Francisco. “De bom grado me uno a todos, encorajando-os nos seus sentimentos, propósitos e preces, para que, por Maria e com Maria, reine nos vossos corações a paz de Cristo”. Afirmação feita na mensagem enviada ao Santuário de Vila Viçosa, na celebração Jubilar da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como padroeira de Portugal, realizada há 375 anos.
“Quem, de entre vós, estiver sem pecado atire a primeira pedra” – adianta Jesus, reencaminhando a alegação dos acusadores. Agora, os visados eram eles, “fiéis” cumpridores das leis. Perante este espelho, podem entrar em si mesmos e ver como está a sua consciência. E tomam a atitude coerente: sentem-se pecadores, deitam fora as pedras e vão-se retirando um após outro. Em cena, ficam apenas Jesus e a mulher.
O exemplo de Jesus leva-nos a não discriminar e condenar a gente caída à beira do caminho. “Qual é a nossa atitude, diante dessas pessoas? - A de Cristo? Ele teve "compaixão e compreensão..." Ele não aprovou o pecado... mas não condenou a pessoa.... "Eu também não te condeno... Vai e não peques mais...” - Ou a dos escribas? (com Pedras nas mãos... ou melhor na língua...) * Em Nossas comunidades, há ainda hoje pessoas, que continuam atirando pedras?
Quais seriam as pedras, que ainda hoje continuamos atirando, machucando... e às vezes até destruindo o bom nome delas? - E o que Cristo poderia estar rabiscando hoje, de nós, no chão? Poderíamos enfrentar o desafio de Cristo: "Quem não tiver pecado pode atirar a primeira pedra?" Pe. Antônio Geraldo.
“Vai e não tornes a pecar”. Ergue-te e caminha na vida, olha o presente com amor, aprecia o valor da tua humanidade, deixa o egoísmo que amesquinha, abre os teus braços à solidariedade que eleva e irmana. Jesus ensina a respeitar a pessoa e a detestar o mal que faz, seja de que espécie for. Só o amor perdoa e restitui a liberdade.
Pe. Georgino Rocha