sexta-feira, 18 de março de 2022

Em Jesus, Deus dá sempre uma última oportunidade

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo III da Quaresma

Agora é tempo de dar frutos. Há que vencer resistências e fazer como o vinhateiro; apesar de tudo o que se vê e parece aconselhar outras atitudes. É possível dar frutos novos e saborosos. O amor transforma e faz ser ousado.

As notícias que circulam nos meios de comunicação indicam que há mais de 25 guerras mortíferas, sendo a da Ucrânia a que nos chega em directo, ao vivo, de modo que a temos em casa. Zenit 11.03.22. Dramática realidade que nos abre o coração para aceder ao Evangelho de liturgia de hoje. Com efeito São Lucas narra os episódios da matança dos galileus por Pilatos, procurador do imperador de Roma, por motivos políticos, e o desabar da torre de Siloé, em Jerusalém, que por casualidade esmaga 18 homens. E quem traz estas informações a Jesus pretende saber de quem era a culpa e o pecado. Pretensão que tem resposta em duas interpelações de Jesus e na parábola da figueira que vamos meditar. Lc 13, 1-9.
“No caminho da vida há acontecimentos trágicos, comenta a Bíblia Pastoral. Estes não significam que as vítimas são mais pecadoras do que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos factos e na urgência da conversão para se construir a nova história. A parábola salienta que, em Jesus, Deus sempre dá uma última oportunidade”.
As interpelações convergem no apelo ao arrependimento a fim de que não nos aconteça algo semelhante. E indicam a atitude do cuidador da vinha onde se encontra uma figueira que não dá frutos há três anos. Jesus recorre a este facto/parábola para visualizar a mensagem que pretende transmitir aos discípulos e, por eles, a toda a humanidade. Que faz lá a figueira? Nada de útil, apenas ocupa o terreno. “Corta-a” – ordena o dono. “Senhor, deixa-a ficar mais um ano, eu vou cuidar dela, vou cavar em volta e deitar-lhe adubo” – responde o encarregado. E, confiante, acrescenta: “Talvez venha a dar frutos”.
A narrativa deixa a parábola em aberto. O dono consentiu? A figueira produziu frutos? O esforço do vinhateiro foi compensado? O ano pedido foi alongado? Estas interrogações não interessam agora ao ensinamento que Jesus pretendia dar aos discípulos. A abertura surge da atitude surpreendente do encarregado da vinha: em vez de obedecer, intercede pela figueira; em vez de partilhar a decepção do dono, ousa confiar em alguma possibilidade de mudança; em vez de considerar esgotado o tempo da tolerância, recorre à paciência esperançada.
Esta nobre atitude é a que Jesus propõe aos discípulos de todos os tempos. Como ele, nunca os prazos estão esgotados durante a vida. Como ele, a confiança no futuro justifica o empenho no presente. Como ele, a energia da paciência acompanha todas as urgências. Como ele, acredita na força do amor que transforma e fecunda o que parece estéril.
A imagem da figueira pode ajudar-nos, como um espelho, a examinar o nosso proceder pessoal e comunitário: cristãos que recebem boa educação na fé nas catequeses e reuniões e… depois tudo parece perder-se; famílias cheias de recursos para serem fermento novo na Igreja e na sociedade e… sem impacto evangélico à sua volta e no meio ambiente; grupos de cristãos, movimentos e comunidades, privilegiados com encontros e reuniões e… nada de compromisso apostólico; cristãos com participação assídua na Igreja e… sem envolvimento nos grupos de intervenção libertadora de tudo o que impede o bem de todos/as e da sociedade. Figueiras estéreis a quem o Deus, o dono da vinha, concede uma última oportunidade.
Agora é tempo de dar frutos. Há que vencer resistências e fazer como o vinhateiro; apesar de tudo o que se vê e parece aconselhar outras atitudes. É possível dar frutos novos e saborosos. O amor transforma e faz ser ousado.
“Deve ser nosso trabalho como crentes saber ver os fios de luz e verdade que estão tecendo uma história profunda de amor e salvação na própria realidade da qual fazemos parte. Perguntamo-nos como tecer a partir dos sinais da humanidade e do amor, que precisam ser colocados em evidência para que iluminem todos em casa, dando razão de esperança contra todo desespero, cremos que o Calvário será o lugar da luz”. José Moreno Losada, RD.

Pe. Georgino Rocha

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