O meu saudoso pai, Armando Lourenço Martins, faleceu neste dia, 26 de Fevereiro de 1975. precisamente há 47 anos. Tinha 61 anos de vida, de trabalhos e canseiras. Não interessa falar da dor que se sente pela morte de um pai ou de uma mãe. O mesmo de irmãos e amigos próximos. Sobre a partida para Deus de meu pai, já escrevi e já falei muito. Penso que a tristeza e a dor do que sentimos em horas dolorosas jamais serão esquecidas, mas hoje não vou por aí.
Lembrando o meu pai, tenho vontade de me felicitar, recordando os momentos felizes que ele me proporcionou. Os meus familiares e amigos nem imaginam o sorriso aberto e as gargalhadas mais que sonoras com que ele saudava as brincadeiras que eu mantinha com o meu irmão, o Armando (que eu tratava por Menino), três anos mais novo do que eu.
Sentado numa cadeira no terraço de nossa casa, sempre de cigarro na boca ou bem seguro entre os dedos grossos e amarelados pelo fumo ou queimados pelo calor da "beata", que ele aproveitava até quase ao impossível. E logo a seguir outro cigarro e outro e outro. Marca Porto, diga-se de passagem, Talvez por ele torcer pelo Porto, nem sei porquê.
Ralhar não era com ele. Deixava isso para a minha mãe. Ria-se quando ela nos ameaçava e jamais permitiria que ela nos batesse. Quando nos queria repreender, até parecia que nos pedia desculpa pelo que nos dizia. Talvez por andar meses e meses embarcado ou, aposto eu, pelo seu coração bondoso e temperamento pacífico. Quando ele morreu, até perguntei a Deus: — Por que razão chamaste para Ti, Senhor da vida, tão cedo, o meu bom pai?
Fernando Martins