para o Domingo V do Tempo Comum
O evangelho deste domingo faz-nos sentir o mar, a brisa, o azul celeste, e a liturgia da Palavra centra-se na vocação de Isaías que Deus escolhe para ser seu mensageiro, na vocação de Saulo/Paulo que Deus chama a ser Apóstolo de Jesus Cristo, e na vocação de Simão Pedro e seus companheiros de pesca que Jesus convida a seguirem-no, como discípulos a tempo inteiro. É este o cenário da nossa reflexão sobre o que acontece no mar da Galileia e sua incidência nos dias de hoje. Lc 5, 1-11.
“Deixando tudo o seguiram”. Decisão radical que vem coroar o encontro de Jesus com Pedro, Tiago e João, pescadores, entre outros, naquele mar. Que experiência tão marcante e que entrega tão confiante nascem deste encontro! E tomam um rumo novo para toda a vida. Novos mares não de águas, mas de pessoas e terras. Deixam tudo pela decisão tomada: o medo que os assaltava, os barcos e as redes, o ambiente acariciador da brisa suave. E respondem ao convite para serem “pescadores” de homens.
Deixam tudo porque testemunham a abundância da pesca conseguida e descobrem a ação extraordinária de Jesus, sinal de que é nas tarefas da vida e nos afãs da produtividade que Deus se pode encontrar. Relato eloquente, pois, Jesus associa a “presença de Deus” com a abundância. O Deus de Jesus não quer a escassez, a falta de recursos. Assim se revelou nos relatos da multiplicação dos pães, no bom vinho da boda de Caná, na pesca milagrosa do Ressuscitado Jo 21, 6-11. A religião de Jesus não quer que o nosso trabalho se faça com vistas “à ganância”, mas à produtividade” que gera “abundância” de bens que, chegam a todos conforme as suas necessidades. J. M. Castillo, La Religión de Jesús, ciclo C pg 87. O relato termina com a afirmação chave: deixando tudo, O seguiram.
Esta opção justifica aquele desligar-se de tudo para ficar livre, inteiramente livre e dedicado à nova missão, cultivar o amor de Jesus em atitudes de serviço, andar com ele, ir por cidades e aldeias a anunciar o Evangelho e a convocar as pessoas para uma nova relação entre si e com Deus. E partem imediatamente, seguindo os passos do Mestre, procurando captar a sua mensagem, adoptando o seu estilo de vida, dispostos a todas as ocorrências, até ao heroísmo, apesar das limitações e dúvidas que os surpreendem no percurso apostólico que fazem.
Ser pescador é metáfora marítima cheia de realismo. O símbolo do peixe converte-se em profissão da fé que identifica os discípulos/cristãos. O ciclo da pesca e das marés proporciona horas de acerto no esforço conjunto e nas folgas de grande companheirismo. Comporta a precariedade do trabalho e as oscilações a que está sujeito: leis laborais, horários por turnos, desemprego, fome e doença, situações agitadas, esperança frustrada. Exige tenacidade, confiança, sabedoria. Exige avivar, continuamente, as razões da opção feita e reconhecer que não se está só nem se trabalha para si mesmo. Jesus, o divino pescador, serve-se da nossa barca para navegar outros mares e anunciar outras ousadias: Fazer ouvir a palavra de Deus às multidões que se aglomeram à sua volta e convidá-las à fraternidade. Hoje, de forma mais subtil, mas igualmente desejosa e expectante.
O Papa Francisco na encíclica «Todos Irmãos» afirma com vigor: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura…. Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos. FT 8.
Pe. Georgino Rocha