sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Admirar Jesus, a ternura de Deus Pai

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa do Baptismo do Senhor


O baptismo de Jesus oferece-nos uma bela e cativante mensagem, que nos faz mergulhar no nosso próprio baptismo. Após o rito das águas no Jordão, uma série de ocorrências manifestam o alcance dos gestos e, sobretudo, a “categoria” do baptizado. Abre-se o Céu, desce o Espírito, ouve-se uma voz que diz: “Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus a minha complacência”. Entretanto, Jesus permanece em oração. Lc 3, 15-16. 21-22.
A conjunção destes sinais evidencia a realidade profunda do que acontecia: Deus, trindade de pessoas, está presente e actuante no início da “vida pública” de Jesus de Nazaré, envolve-se na sua missão, compraz-se nas suas opções e credencia o seu estilo de vida. Deixa-se ver e ouvir de forma eloquente e envolvente. Mais tarde, voltará a manifestar-se no silêncio confiante do agonizar no Calvário: “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu Espírito”. Silêncio e palavra, ocultamento e manifestação, constituem modos humanos de comunicação divina e convidam-nos a mergulhar nos ensinamentos que a mensagem comporta: A ternura do Pai que se compraz no Filho, bem-amado, a atitude filial de Jesus que se recolhe em oração, a suavidade da presença do Espírito que desce em forma corporal, como uma pomba. A voz que proclama, o silêncio que escuta, a mansidão que acolhe.
O Papa Francisco na recitação da oração do ângelus diz-nos que “Deus quer habitar connosco, quer habitar em nós, não ficar longe” sublinhando a importância de abrir o coração. “Muitas vezes mantemos distância de Deus, porque pensamos que não somos dignos dele por outros motivos. E é verdade. Mas o Natal convida-nos a ver as coisas do seu ponto de vista: Deus deseja incarnar”. Éste olhar é-no comunicado no baptismo para marcar toda a nossa vida.
Jesus faz-se baptizar no meio do povo, como mais um de tantos judeus, solidário com os pecadores que sentem a força do apelo de João Baptista. É uma opção clara que ao longo da sua vida de missionário itinerante, breve, mas intensa, assume de modo contundente. O seu coração pende enternecidamente para os humildes, os pobres, os excluídos, os sem defesa. Deus é o seu defensor e libertador!
Jesus desce às águas do Jordão, dando mais um passo – o primeiro foi o de encarnar no seio de Maria – no projecto assumido para nos salvar. A exaltação gloriosa virá com a cruz que floresce na Páscoa da ressurreição. A sua atitude manifesta que o caminho da grandeza, aos olhos de Deus, é fazer-se “pequenino”, aceitar os “baixios” da vida e, a partir daí, servir desinteressadamente e sem descriminações. Com este mergulho nas águas, incorpora também todas as realidades naturais no seu projecto de saneamento e elevação de toda a criação.
Admirável acontecimento que desvenda o agir da Trindade Santa. Sublime mistério que pode ser contemplado e vivido por cada baptizado e pela comunidade dos fiéis. Acção exemplar de Jesus que faz oração, vê o céu abrir-se e o Espírito descer sobre Ele.
Entretanto, a voz de Deus-Pai quebra o silêncio e faz-se ouvir. Este silêncio da palavra era tido como castigo pelo pecado pessoal e colectivo. A ausência de profetas era considerada como abandono e esquecimento. Vivia-se no desânimo, na desilusão. Por isso, agora, o povo exulta de alegria, sente-se perdoado e reintegrado no diálogo com Deus, graças ao que acontece no baptismo de Jesus e que atingirá o seu sentido pleno na Páscoa da ressurreição. Agora, a Igreja sente-se envolvida, na medida em que vive, de forma coerente, alegre e confiante, o baptismo recebido e celebrado pelos seus membros, na comunidade cristã. A festa do baptismo de Jesus é a festa do meu/nosso baptismo. Exultemos e cantemos de alegria. Vivamos esta novidade que nos diviniza e responsabiliza.

Pe. Georgino Rocha 

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