sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Aprendei a lição da figueira

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXXIII do Tempo Comum



Os sinais do mundo novo estão a surgir no apreço pela dignidade humana, na solidariedade, na justiça e equidade, no amor de doação, expressões qualificadas do amor com que Deus nos ama. Antecipemos o futuro, envolvendo-nos no presente, fazendo nossa a luta por estas causas e valores.


Uma figueira constitui o recurso pedagógico a que Jesus “lança a mão”, nos seus ensinamentos, sobre o que irá acontecer no final dos tempos: a instauração do reinado de Deus na humanidade, a realização das promessas. “Será um processo lento e longo no qual o Deus humanizado em Jesus se fará presente entre os humanos, até humanizar este mundo libertando-o da desumanização que origina tanto sofrimento e opressão” (J. M. Castillo, La religión de Jesús, Ciclo B, De Brouwer, 2017). A convulsão cósmica que culmina os acidentes marcantes da história humana é narrada nas fases da vida da figueira.
Os discípulos estão habituados a observar o que acontece com ela nas várias estações do ano. Sabem que é a última árvore a desabrochar os rebentos nos ramos e a cobrir-se de folhas, deixando a letargia da hibernação e abrindo-se às novas aragens dos começos do Verão. E sabem também que, só depois, virão os figos apreciados e saborosos. Antes, porém, passa por fases de total despojamento, fustigada pelas forças agressivas e devastadoras de vendavais e chuvas intensas. Paciente, o agricultor observa os sinais da evolução do ritmo normal da vida “congelada” e, confiante, aguarda a hora promissora da nova estação. Mc 13, 24-32.
Com este “visual”, Jesus anuncia que o final dos tempos não consiste na destruição das coisas e do mundo, na redução ao nada, no aniquilamento. Mas na transformação radical em que subsiste – como na figueira - a seiva nova fertilizante, portadora de energias do futuro. Aqui está Deus que, no seu amor de Pai bondoso, acompanha cada um, sustenta o ânimo de todos e encoraja as forças dos que vivem estas horas de aflição.
Tudo passa, só permanece para sempre o amor com que Deus nos ama e quer que seja a relação normal entre todos. A história regista, com testemunhos inquestionáveis, que “estamos em trânsito”. Não apenas no nosso interior, mas em tudo o que nos rodeia e condiciona rumo à casa do Pai. E Jesus afiança esta caminhada monumental: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão”.
Escurece e passa o sol da economia, a lua do prestígio, as estrelas das personalidades, as forças dos sistemas e das redes de controle e manipulação… Os sinais do mundo novo estão a surgir no apreço pela dignidade humana, na solidariedade, na justiça e equidade, no amor de doação, expressões qualificadas do amor com que Deus nos ama. Antecipemos o futuro, envolvendo-nos no presente, fazendo nossa a luta por estas causas e valores.
“Este processo grandioso, de esperança e gozo... será um processo de crescente humanização e libertação.  Tal é o anúncio de esperança que Deus nos promete em Jesus. Trata-se de uma promessa que se realizará mediante a progressiva humanização dos indivíduos, dos grupos, das instituições e das nações. Eis aqui a tarefa que Jesus nos propõe a todos”. (J. M. Castillo). A todos.
Aprendei a lição da figueira. Quando isto acontecer, sabei que Ele está à porta. É sugestiva esta expressão que indica a proximidade dos «últimos dias». E o livro do Apocalipse acrescenta: «Eis que eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo» (3,20).
Aprendei a lição da figueira. Senhor não te perguntarei mais quando chega o teu dia, mas por onde atravessas o presente; por que existe o malvado, mas de que modo o salvas agora; quando sanará a sua ferida, mas como a curas neste instante; quando acabarão as guerras, mas onde constróis a justiça. Cf. Homilética 2021/5.

Pe. Georgino Rocha

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