para o Domingo XXVII do Tempo Comum
A família surge como o fruto mais saboroso do matrimónio. Nela, o casal vai crescendo no amor de doação fiel. Nela, os filhos encontram o ambiente favorável à sua identidade masculina e feminina, ao equilíbrio do seu desenvolvimento relacional e afectivo. Nela, a sociedade e a Igreja espelham a sua acção “subsidiária” e, dela, recebem as crianças, prendas do presente e garantes do futuro, como cidadãos que podem vir a ser cristãos.
A atracção do homem pela mulher, e desta para com ele, faz parte da natureza humana e expressa-se em crenças e ritos de relação, segundo as culturas e as religiões; entre nós, normalmente é no casamento natural e no matrimónio cristão. Aponta, por isso, para Deus, a fonte de todo o amor e o criador dos bens originais. É a partir do projecto divino que a relação humana conjugal tem pleno sentido e adquire força de irradiação como ideal a atrair todos aqueles que se sentem chamados a “ser uma só carne”. É a partir desta matriz existencial que se podem valorar outras experiências de relacionamento que configuram aquela atracção natural Mc 10, 2-16.
O Papa Francisco, na habitual entrevista com jornalistas no avião de regresso da Peregrinação Apostólica à Eslováquia, disse, entre vários assuntos, que falou com as autoridades húngaras sobre a pluralidade de situações que se verificam hoje no campo da relação sexual. E um jornalista adianta que o Conselho da Europa tinha tomado uma resolução a pedir o reconhecimento dos casamentos homossexuais e queria saber o que pensava o Santo Padre.
Subdivido a resposta em dois períodos para clareza do meu texto.
“É importante que os Estados tenham a possibilidade de apoiá-los civilmente, de dar-lhes segurança de herança, saúde etc, não só para os homossexuais mas para todas as pessoas que queiram se associar. Mas casamento é casamento. Isto não significa condená-los, eles são nossos irmãos e irmãs, devemos acompanhá-los. Há leis civis, por exemplo, para viúvas que querem se associar a uma lei para ter serviços… há o Pacto Civil de Solidariedade e Concubinato na França/PACS, mas nada a ver com o casamento como sacramento que é entre um homem e uma mulher. Às vezes, criam confusão”.
Jesus anda em missão por terras da Galileia e Judeia. Saem-lhe ao encontro alguns fariseus que pretendem “entalá-lo” e arranjar um motivo de acusação. Lançam-lhe a pergunta ardilosa sobre o divórcio, entendido como acto de generosidade do homem para com a mulher, com quem estava casado. À pergunta manhosa responde Jesus com pergunta de “garrote”. Os fariseus deviam conhecer bem as sentenças de Moisés. E sabiam que, em certos casos, era permitido passar um certificado de divórcio. De facto assim acontece. Respondem “certinho”. E Jesus explica o proceder de Moisés e re-situa a relação conjugal na sua matriz original.
O repúdio da mulher pelo homem, e deste por ela, é fruto da “esclerose” do coração, da dureza e secura dos sentimentos e gestos que asfixiam o amor, do progressivo distanciamento e frieza nas relações afectivas que forçam a agonia de qualquer “interesse” conjugal. Jesus constata, não condena. Mas anuncia a beleza do matrimónio vivido segundo o projecto de Deus confiado ao homem e à mulher, sua imagem e semelhança. Duas pessoas sexualmente diferentes chamadas à unidade de reciprocidade complementar de “uma só carne”, isto é, de assumirem a alegria da doação mútua, de viverem a construir um “nós” na realização de cada um e na fecundidade do casal, de transmitirem a vida que acolheram com tanta disponibilidade.
Continua o Papa Francisco: “Todos são irmãos e irmãs, o Senhor é bom, ele quer a salvação de todos, mas, por favor, não faça a Igreja negar sua verdade. Muitas pessoas com orientação homossexual aproximam-se da penitência, pedem conselhos ao padre, a Igreja as ajuda, mas o sacramento do matrimónio é outra coisa”.
A família surge como o fruto mais saboroso do matrimónio. Nela, o casal vai crescendo no amor de doação fiel. Nela, os filhos encontram o ambiente favorável à sua identidade masculina e feminina, ao equilíbrio do seu desenvolvimento relacional e afectivo. Nela, a sociedade e a Igreja espelham a sua acção “subsidiária” e, dela, recebem as crianças, prendas do presente e garantes do futuro, como cidadãos que podem vir a ser cristãos.
Pe. Georgino Rocha