o Domingo XXIX do Tempo Comum
Juntos vivamos a fidelidade ao Senhor Jesus, participemos no processo sinodal, vejamos o que nos rodeia, escutemos as vozes dos humanos e os gritos do clima e da natureza, discernamos as vozes que nos chegam e rezemos porque é o Espírito Santo que suscita este processo e quer renovar a Igreja, equilibrar as condições climáticas e humanizar a “face da terra”
Jesus anunciou, por duas vezes e vai fazê-lo uma terceira, o desfecho trágico da sua vida em Jerusalém: A morte por crucifixão e a ressurreição gloriosa. Os Apóstolos não abrangiam nem entendiam o alcance de tal anúncio. Mas não queriam ser apanhados sem hipóteses. Toca a prevenir o futuro iminente. “A sua lógica não é escandalosa. Eles sentem que haverá uma mudança e querem estar envolvidos, mas não compreendem a mudança de perspectivas que vai passar pelo serviço humilde, pelo lava-pés! Procuremos entrar nos sentimentos do mestre que vem ao nosso encontro, ao nosso serviço.” Vers dimanche.
A liturgia da Palavra deste domingo ilumina o segredo que acompanha esta fase da vida de Jesus e a reacção dos apóstolos. Mc 10, 35-45. Com efeito a aspiração a alcançar a meta dos seus sonhos e a ver-se reconhecido constitui um dinamismo vital do coração humano. Ninguém nasce para a mediocridade, nem é feliz ficando a meio do caminho. A desconsideração de si mesmo é um atentado à dignidade e à vocação ao crescimento. O apreço das capacidades e o reconhecimento dos limites, bem geridos, abrem as portas à realização do desejo original que sempre nos acompanha. As circunstâncias em que vivemos condicionam e podem potenciar esta realização. O esforço pessoal e o apoio solidário, incluindo a graça de Deus, completam as “ferramentas” a ter em conta no peregrinar constante da vida ascendente.
“Todo o nosso estilo de vida – afirma Henri Nowen no seu livro “O estilo desinteressado de Cristo” – está estruturado em torno à subida pela escala do êxito e pelo triunfo na cúspide. A nossa própria sensação de vitalidade depende de ser parte do impulso ascendente e do gozo proporcionado pelas recompensas usufruídas no caminho para o cume”.
A atitude dos filhos de Zebedeu realça este modo de ser humano. Tiago e João aproximam-se de Jesus e, com a maior naturalidade, pedem-lhe um lugar qualificado no “pódio” da sua glória: sentar-se um à direita e outro à esquerda. Nada menos! E o seu sonho correspondia ao que era normal: havia o desejo e tinham possibilidades. Tudo dependia d’Ele. A confiança era total.
Jesus acolhe o seu pedido e reencaminha a realização do desejo que expressam. O caminho da glória passa pela aceitação da cruz da vida, pela entrega incondicional ao serviço humilde e desinteressado, pelo esquecimento de si, a fim de terem sempre presente o bem dos outros. A recompensa do sentar-se no trono, a Deus pertence.
E, como contraste, aduz o modo de proceder dos soberanos que mostram a sua grandeza dominando, escravizando, espoliando os seus súbditos. “Não deve ser assim entre vós”.
Os discípulos entenderam, a custo, este ensinamento. A Igreja, em certas épocas da história, não deu grandes provas de lhe prestar grande atenção prática. Hoje, quer ser mais fiel. O Papa Francisco convida a Igreja inteira a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: «O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio». Convite bem diferente do que havia sido feito por Tiago e João.
E o Papa prossegue: Este itinerário, que se insere no sulco da “atualização” da Igreja, proposta pelo Concílio Vaticano II, constitui um dom e uma tarefa: caminhando lado a lado e refletindo em conjunto sobre o caminho percorrido, com o que for experimentando, a Igreja poderá aprender quais são os processos que a podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-se à missão. Com efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que mais implementa e manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário. E o processo sinodal avança: iniciado em Roma a 8 e 10 de Outubro, prossegue na fase diocesana este domingo.
Juntos vivamos a fidelidade ao Senhor Jesus, participemos no processo sinodal, vejamos o que nos rodeia, escutemos as vozes dos humanos e os gritos do clima e da natureza, discernamos as vozes que nos chegam e rezemos porque é o Espírito Santo que suscita este processo e quer renovar a Igreja, equilibrar as condições climáticas e humanizar a “face da terra”. Demos um passo no caminho da glória, assumindo corajosamente a cruz.
Pe. Georgino Rocha