para o Domingo XXIV do Tempo Comum
“Quem dizes tu que eu sou?” – continua Jesus a perguntar-nos, como fez outrora aos discípulos, em Cesareia de Filipe. Esta pergunta, segundo alguns autores, constitui o coração do Evangelho porque se dirige a cada pessoa e pretende provocar uma decisão relacional que dê sentido à identidade cristã. Mc 8, 27-35. Identidade cristã que flui da identidade de Jesus, o Messias de Deus.
A história regista várias respostas. Citemos algumas: um reformador do sistema religioso, um mestre espiritual de utopias, um crucificado fracassado, um homem do mistério e do sagrado… o Cristo, filho de Deus vivo e nosso salvador que desencadeia um movimento que vem a tomar corpo no povo de Deus organizado à maneira de corpo animado pelo Espírito Santo. A sua figura humana proporciona um filão inesgotável para estudos sérios e para “investigações criativas” em que a fantasia emoldura a presumida realidade em romances, filmes e outras “artes”, nem sempre ao serviço da verdade.
A minha resposta tem de ser genuína e sincera, correcta e definitiva. Para ti, quem sou EU? Que espaço me dás na tua vida? Que lugar ocupo na tua escala de valores? Por meio de ti, que imagem de Deus descobrem os outros? Que marca deixas no teu ser e no teu agir?
Ocorre a 5 de Setembro a celebração do Dia Internacional da Caridade instituído Pela ONU. A data foi escolhida para evocar Madre Teresa de Calcutá, a mãe dos pobres. Para o secretário-geral da ONU, caridade é um dos “melhores investimentos” que podem ser feitos no futuro comum. Este Dia “serve como uma chamada a todas as pessoas para que ajam com solidariedade e compaixão diante do sofrimento humano”. Chamada que os cristãos acolhem como a voz de Jesus Cristo.
E responder com seriedade supõe um encontro pessoal com Ele, um diálogo de amor no santuário da consciência, um seguir as práticas do amor solidário que se faz serviço. Responder é viver no dia-a-dia a certeza confiante de que Ele connosco quer fazer um mundo melhor, construir uma sociedade de todos. Responder é contemplar o rosto crucificado pelas causas nobres defendidas.
A 14 de Outubro deste ano, a British Airways fazia um voo transatlântico. Juntos na mesma fila de assento, ia uma senhora que chamou a hospedeira e reclamou por ao seu lado ir um homem de raça negra. Delicadamente, responde que o avião estava cheio, mas que ia ver se havia algum lugar vago em 1ª classe. Os outros passageiros estavam admirados com a cena. De facto havia. Com licença do capitão piloto, procedeu à mudança. A senhora queixosa, levantou-se rapidamente com ar triunfal. A hospedeira dirige-se ao homem de raça negra e diz: queira acompanhar-me ao seu novo lugar. E imediatamente os restantes passageiros ovacionaram de pé a acção da hospedeira. Magnífica lição para quem está habituado a pensar sempre e só em si, em contraste com o convite de Jesus, após a reprimenda a Pedro. Cf. Homilética 2021/5, 532.
Senhor, para mim, és o Salvador que lanças “pontes de união” entre os homens, para vivermos todos em comunhão fraterna, em doação constante, em atenção recíproca, em serviço aos mais vulneráveis e empobrecidos.
Senhor, para mim, és o missionário do Pai que confias à tua Igreja o anúncio do Evangelho em todos os centros da vida e ao longo de toda a história: celebrando na alegria o que de bom o engenho humano vai conseguindo realizar, denunciando todos os atropelos à dignidade humana e ao equilíbrio ecológico, apontando caminhos por onde chegam, seminalmente, “novos céus e nova terra”.
Senhor, tantas vezes me engano na resposta que a minha vida te dá. Ensina-me Tu, como bem sabes, leva-me pela mão, marca o ritmo da nossa caminhada, escolhe o percurso e a cadência de cada passo, explica-me os teus projectos. Quando encontrar na tua vida toda os fragmentos da minha, quando no teu sofrimento e na tua cruz descobrir o valor de todas as cruzes, quando fizer da tua causa a minha causa, quando não procure salvar-me, mas perder-me na tua vontade… Então, Jesus volta a perguntar-me: E tu quem dizes que eu sou? (F. Ulibarri, catequeta espanhol).
Senhor Jesus, tu não vieste para ser servido, nem admirado ou simplesmente adorado. Tu desejas ter discípulos missionários, fiéis imitadores que se “pareçam” contigo na proximidade compassiva e na decisão livre de ir até ao fim na confiança filial, garantia da Páscoa florida que nos deixaste.
Pe. Georgino Rocha