O tom religioso presente em muitas das expressões usadas na pesca do bacalhau demonstra a relação entre as devoções populares portuguesas e as vivências de alto mar que marcam o temperamento dos pescadores. No mar o homem apela ao divino e os gestos repetidos diariamente são intercalados por breves ladainhas evocativas das suas devoções. Com apenas algumas horas de descanso os homens eram acordados por um camarada que ao som dos louvados anunciava um novo dia de trabalho. “Seja Louvado e adorado Nosso Senhor Jesus Cristo, olha são 6 horas, olha o almoço!”1 - Assim recorda «Paxita» o despertar de todos os dias. Numa outra versão dos louvados dizia-se: “Louvado e Adorado Santo Nome de Jesus, por causa de vós irmãos Jesus morreu na cruz. Jesus morreu na cruz e morreu para nos Salvar, ó de baixo salta acima que o de cima está acabar... ”2
Depois do almoço, assim apelidavam a primeira refeição do dia, preparavam o trole e os botes. Os louvados não eram a única ladainha que pela manhã se ouvia a bordo dos navios. Com a seguinte ordem do capitão - “Vamos arriar com Deus” - os dóris eram lançados à água, os pescadores içavam as velas e zarpavam para mais um dia de pesca.
1 «Paxita» alcunha de António Pereira da Silva, natural da Figueira da Foz
2 Louvados no filme ‘Terra Nova Mar Velho’ (1983), realização de Francisco Manso
Nota:
1. Da agenda "Viver em Julho" da CMI
2. Foto da Rede Global