Artigo/Crónica por António Moiteiro
no Diário de Aveiro
Não existem dúvidas de que a imprensa regional é a grande fonte de informação da população e é relevante na divulgação de acontecimentos locais e crucial para o desenvolvimento de uma comunidade. É com alegria que saúdo o jornal Diário de Aveiro na celebração dos seus 36 anos de existência ao serviço das gentes de Aveiro.
Celebrar esta efeméride é ocasião propícia para fazer uma reflexão com os leitores que procuram nas suas páginas as informações mais destacadas da sua terra. Não é possível fazer a história da cidade e da própria Diocese nestes anos sem recorrer às suas páginas. Este Diário tem contribuído para a preservação do património cultural, histórico e social e regional, dando visibilidade a pessoas, instituições e eventos.
Como bispo da diocese de Aveiro, gostaria de partilhar com os leitores alguns dos desafios que se colocam à comunidade crente, que participa das alegrias e tristezas das pessoas que vivem nesta zona do nosso país. O primeiro é a promoção da dignidade do ser humano. A este propósito, no passado dia um de junho, foi reformulada a legislação da Igreja Católica no que respeita aos delitos e às penas, sublinhando que na base da desordem moral estão os atentados contra a dignidade humana. Quando lemos o Evangelho constatamos como a grande preocupação de Jesus na construção do reino de Deus eram os mais pobres e os últimos da sociedade. Todos eram acolhidos, mas estes tinham lugar privilegiado no seu coração.
Um outro aspeto que a todos preocupa é a pandemia que tem afetado a vida das nossas comunidades, e mesmo a vida pessoal de cada um de nós. As acomodações a que a Igreja teve e tem de se adaptar à realidade que nos condiciona como seja o encerramento das igrejas nos momentos mais críticos, o medo que se instalou em tantos cristãos que aos domingos participavam na vida da comunidade, a catequese que teve de se reinventar, o exercício da caridade a ter que estar atento e disposto a socorrer os novos tipos de pobreza do qual o isolamento social é o mais gritante. Como afirmam os bispos portugueses no documento Recomeçar e Reconstruir, é preciso repensar o sistema económico e social, tendo em vista a construção de um futuro mais justo e solidário. Devemos construir um sistema em que os valores da solidariedade não sejam apenas as ações de apoio social, mas penetrem também na economia e no mercado.
Um outro desafio remete para o cuidado da casa comum que se deve traduzir numa atuação mais amiga do ambiente, sem descurar, em primeiro lugar, o cuidado do ser humano, pois o que fizermos ao planeta estamos a fazê-lo à humanidade; tudo está interligado, destruir a natureza equivale a destruir o ser humano e destruir o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é atentar contra o próprio Deus Criador.
Que o aniversário do Diário de Aveiro seja mais uma oportunidade para tomarmos consciência da necessidade de, todos juntos, nos empenharmos em preservar esta "casa comum" em que nos encontramos. Todos somos necessários.
*Bispo de Aveiro
Este artigo foi escrito ao abrigo
do novo Acordo Ortográfico