para o Domingo V da Quaresma
A CAMINHO DA PÁSCOA
Uns gregos foram ter com Filipe e disseram-lhe: “queríamos ver a Jesus”. Filipe foi dizê-lo a André e ambos foram dizê-lo a Jesus. Este episódio ocorre em Jerusalém e é muito significativo na fase final da quaresma que vivemos. Como os gregos somos buscadores natos do rosto de Jesus. Como discípulos estamos mandatados para sermos mediadores, ponte de relação e proximidade. Quando desistimos de procurar e nos acomodamos, o coração inquieto atrofia-se e mergulha na mediocridade, ele que nasceu para a glória. Jo 12, 20-33.
Jesus assume o pedido e alarga horizontes, desvenda a parte final do seu percurso histórico. Recorre à à semente lança à terra para iniciar a resposta a André e Filipe. O encontro dá-se em Jerusalém, junto ao templo, por ocasião da festa da páscoa judaica e condensa o alcance da “hora” que se aproxima: A paixão e exaltação de Jesus constituem a maior manifestação de Deus, a sua suprema glorificação. Deste modo, é satisfeita a aspiração mais profunda do coração humano. Ver a Jesus é entrar nesta relação existencial, captar a sua verdade, viver o seu dinamismo e comungar os seus sentimentos.
“Felizes de nós se já sentimos a atracção de Jesus de Nazaré. Se nos sentimos seus seguidores no viver de cada dia: em casa, na rua, no trabalho, na comunidade…Aí é onde podemos dar glória a Deus. A chave da glória está na mão: «Se cai na terra, morre, dá muito fruto» E continua a ”Homilética”: Não há outra chave de glorificação de Deus que a glória do homem/mulher, entendida no marco amoroso do perdão e da alegria de uma verdadeira aliança”.
A lição da semente retrata bem o sentido da vida humana. Escolhida por Jesus, constitui um “ícone” da sua missão, sobretudo na hora de transmitir, de forma exemplar, o que em breve irá acontecer. Garantir o futuro supõe consumir, desde já, as energias em benefício da vida nova que se deseja, exige a aceitação da verdade realista de quem está “em trânsito” e é peregrino, alimenta a esperança de que “nada se perde, tudo se transforma” para melhor (a semente e a árvore), vive a dinâmica do provisório dando valor a cada instante como a única forma de “comungar” o tempo da história e “tocar” desde já a eternidade.
Os gregos peregrinos manifestam o desejo de ver Jesus, isto é, de conhecer a sua novidade, de prestar atenção à sua mensagem, de entrar em sintonia com ela, de assumir a escala de valores preconizada, de encontrar a medida da verdade ansiada pelo coração. Expressam uma constante de todo o ser humano que santo Agostinho condensa de modo tão feliz: Fizestes-nos, Senhor, para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto em Vós não repousar.
A cruz pode ser fecunda e fazer progredir a sabedoria da humanidade. Como em Jesus que, por amor, vive a sua opção por fazer a vontade de Deus: para servir e elevar a dignidade humana, para lançar as bases de uma sociedade inclusiva e fraterna, para constituir o núcleo fundamental da Igreja como comunidade de iguais, com dons e funções diferentes, para abrir as fronteiras do tempo à eternidade. Outras cruzes podem tornar-se símbolo de um mundo perverso que é preciso transformar, a partir dos seus fundamentos, da sua organização e da sua escala de valores.
A vida de Jesus, lembra o Papa Francisco, ensina que «quem ama sai sempre de si mesmo», porque «a força do amor» «despedaça o egoísmo, rompe as barreiras das seguranças humanas demasiado calculadas, abate os muros e vence os medos», e é por isso que quem ama «prefere arriscar no dar-se mais do que atrofiar-se, contendo-se por si».
Pe. Georgino Rocha