Reflexão de Georgino Rocha
para este fim de semana
"Move-nos o exemplo de tantos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos que se dedicam a anunciar e servir com grande fidelidade, muitas vezes arriscando a vida e, sem dúvida, à custa da sua comodidade. O seu testemunho lembra-nos que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora”
Papa Francisco
Após o seu baptismo, Jesus como Filho bem-amado do Pai começa a missão que a liturgia nos faz contemplar domingo após domingo, missão que revela o processo humano de Jesus na vida adulta. Marcos no seu evangelho narra cenas vivas do itinerário concreto que Jesus percorre e dá a conhecer como “caminho, verdade e vida”. Da nossa própria vida quando afirmamos: “sou cristão”. Este itinerário começa com o encontro dos primeiros discípulos com Ele, encontro que lhes muda o rumo da vida. Jo 1, 35-42.
João, o evangelista, narra este encontro feito de palavras e de movimentos, de perguntas e convites, de olhares: olhar de João Baptista sobre Jesus; de Jesus sobre os discípulos e sobre Pedro. E sobre cada um de nós. “Seria bom fazer memória dos olhares que nos têm ajudado a crescer como irmãos e irmãs. Peçamos ao Senhor que venha converter o nosso olhar e as nossas palavras, a fim de termos por nossa vez palavras e olhares, portadores de vida para os outros”. Vers dimanche, Rede mundial de oração em união com o Papa.
“Vinde ver”, responde Jesus à pergunta dos discípulos: “Mestre, onde moras?” Esta resposta é, no mínimo, surpreendente e profundamente apelativa. Os discípulos, pescadores de profissão e habituados a arriscar, vão, vêem e ficam. E em consequência, desencadeiam um notável dinamismo vocacional.
A resposta de Jesus, embora situada no tempo, é dirigida a todos os que buscam sinceramente alguém que a sua consciência pede, ainda que de formas diversificadas. De facto, que procuramos na vida? Tem sentido o que fazemos? Se reservássemos uns instantes para “balanço”, que saldo positivo verificaríamos? Estamos a atender o que é prioritário e se enriquece à medida que a vida desliza ao longo dos anos?
O diálogo ocorre nas proximidades do Jordão, rio de forte tradição bíblica pelos episódios que no seu leito e nas suas margens ocorreram. Um deles, o mais importante, é o baptismo de Jesus e a revelação de Deus trindade. Por isso, a resposta-apelo tem um alcance maior: vinde ver quem eu sou, conhecei o meu estilo de vida, descobri a comunhão que vivo com o Pai, captai a missão que realizo. E, como outrora, também agora, somos convidados a conviver com Ele, a partilhar a sua vida.
Um dia, os discípulos de João Baptista fizeram-lhe queixa de Jesus por ele baptizar e diziam: “todos vão ter com Ele” (Jo 3, 26). Surgia assim um certo ciúme e disputa de competências a que João põe termo com uma sentença luminosa: “É preciso que Ele cresça e eu diminua”.
Inicia-se amanhã, dia 18, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que tem por lema «Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos» Jo 15, 1-17. Expressa a vocação para a oração, reconciliação e unidade na Igreja e na família humana. Lema muito feliz e oportuno que nos envolve a todos/as e se projeta nas sociedades.
A experiência feliz, como a dos discípulos que aceitaram o convite de Jesus, faz desabrochar o desejo de a comunicar a outros, sem demora. Surge, assim, a base humana do envio, da missão que toda a vocação comporta e dinamiza. Deus, de forma velada ou manifesta, está sempre a agir naqueles que escolhe e envia. Os protagonistas são os seres humanos, mas a “seiva” revigorante é a força divina que percorre todas as suas “veias”: a vocação à vida por meio dos pais, à existência cristã por meio da família e da comunidade eclesial.
Os discípulos, na companhia do Mestre, aprenderam os modos de realizar a missão: fazer-se próximo, curar doentes e alimentar famintos, partilhar e viver na alegria sincera, deixar-se conduzir pelo amor universal e generoso, que Deus nos tem, acolher os mais débeis e afastados das fontes da vida, a reconhecer que só a civilização do amor manifesta, o melhor possível, a convivência sustentada em sociedade e redimensionada na cultura, a vocação de toda a humanidade.
O Papa Francisco na Exortação pós-sinodal sobre os Jovens, afirma: “Move-nos o exemplo de tantos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos que se dedicam a anunciar e servir com grande fidelidade, muitas vezes arriscando a vida e, sem dúvida, à custa da sua comodidade. O seu testemunho lembra-nos que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora”. Exultai e alegrai-vos, nº138.
Pe. Georgino Rocha