Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo IV do Tempo Comum
"E com o Papa alarguemos o nosso olhar e credenciemos o nosso agir, juntando-nos a tantos/as que todos os dias plantam uma semente de um mundo melhor"
Com o núcleo dos discípulos recém-chamados – é significativo que sejam irmãos, sinal da fraternidade, Jesus dirige-se a Cafarnaum, cidade que lhe serve de base para a missão que vai iniciar. Marcos, o autor do relato, após fazer a apresentação do Messias, traz para primeiro plano a situação religiosa das pessoas envolvidas nos episódios narrados. Designa-a por cegueira e vai dizendo de quem: das autoridades, do mundo/multidão, dos discípulos. Mc 1, 21-28.
Elabora um texto emblemático, com as cenas ocorridas na sinagoga onde Jesus, como bom judeu, tinha ido em dia de sábado e começou a ensinar. A primeira, refere a reação das pessoas à sua “homilia”. “Ficaram admiradas com o seu ensinamento” porque “ensinava como quem tem autoridade”. A segunda, relata o exorcismo feito a um possesso que ali se encontrava e bradava: “Eu sei quem Tu és: Tu és o Santo de Deus!”. Jesus responde-lhe: “Cala-te e sai dele”. E assim acontece. A assembleia fica assombrada e pergunta-se: “O que é isto? Um ensinamento novo, dado com autoridade. Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem”. E Marcos acrescenta: “A sua fama espalhou-se por toda a parte, em todas as redondezas da Galileia.
Marie Bernardette Caro, em Vers Dimanche, faz uma boa e interpelante síntese do Evangelho deste domingo. “O seu renome espalhou-se por toda a terra, em toda a região da Galileia. (...) Esta boa nova da vitória sobre as forças do mal, da libertação da humanidade chega até nós. Que fazemos nós desta boa notícia escutada cada domingo? Somos nós zelosos a comunicar àqueles que encontramos o que vivemos durante a nossa celebração? Estamos nós suficientemente atentos às passagens de Jesus que vem livrar-nos das nossas trevas? Senhor, faz-nos ver a tua obra em todas as «Galileias» da nossa vida”.
“Que tens a ver connosco? Vieste para nos perder” – declara o endemoniado em altos gritos. Quantas pessoas pensam do mesmo modo. Mas não é essa a vontade do Santo de Deus, Jesus de Nazaré. Ele vem para libertar e curar, fazer ressoar a verdade e a alegria, refazer a dignidade de todos/as, ser companheiro solícito em todas as circunstância, sobretudo de medo e angústia. Ele vem para salvar das forças maléficas que ameaçam o espírito humano e sua saúde integral, e arruínam a humanidade, a natureza e o ambiente.
Ocorre, hoje, o Dia mundial dos leprosos, decretado pela ONU em homenagem a Raúl Follereau, o apóstolo dos leprosos do século XX, que um dia afirmou que "não há sonhos grandes demais". Apesar do combate sem tréguas em algumas regiões da terra, são muitos milhões os/as vítimas desta epidemia.
“São assustadoramente inquietantes os pedidos de auxílio que chegam”, referem os responsáveis das respectivas organizações e acrescentam “em consequência da pandemia mundial no ano de 2020/21 adivinha-se um agravo medonho da fome no mundo, e o aumento de pedidos de ajuda” e fazem um caloroso apelo à nossa colaboração “para continuarmos a ser um respingo de esperança em quem precisa”.
O episódio ocorre na sinagoga após a “homilia” e a novidade que reveste é manifesta. O agir de Jesus liberta e humaniza o endemoniado, e causa admiração e espanto nas pessoas. E hoje, pode perguntar-se: que força têm as nossas homilias e quem mantém silenciadas e indiferentes as pessoas, fragilizados os movimentos, ensonada a consciência cristã?
“No dia 20 de Janeiro passado, informa o Papa Francisco, um nigeriano de 46 anos, sem teto, chamado Edwin, foi encontrado morto pelo frio a poucos metros da Praça de São Pedro. Sua história junta-se à de muitos desabrigados que morreram recentemente em Roma nas mesmas circunstâncias dramáticas.
Rezemos por Edwin. Lembremo-nos das palavras de São Gregório Magno, que quando confrontado com a morte de um mendigo por causa do frio, disse que nenhuma missa seria celebrada naquele dia porque era como Sexta-feira Santa. Pensemos em Edwin. Pensemos no que este homem sentiu, 46 anos de idade ao frio, ignorado por todos. Abandonado por nós. Rezemos por ele”. Vatican News
E com o Papa alarguemos o nosso olhar e credenciemos o nosso agir, juntando-nos a tantos/as que todos os dias plantam uma semente de um mundo melhor.
Pe. Georgino Rocha