quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A felicidade por uma janela

João Gonçalves 
«Por uma janela, nem que seja estreito postigo, limitado por qualquer grade ou desgosto, queremos sempre deixar e proporcionar a entrada da Luz, da Vida e da Esperança... Janelas com horizonte, donde se espreite e criem, com o auxílio de mãos e de corações, certezas de Felicidade!» 

Há dias, num encontro internacional da Pastoral Penitenciária Católica, realizado em Roma, e onde Portugal também se fez presente, o Papa Francisco lançou um forte convite às Pessoas em privação de liberdade, convidando-as a que não desistam de aproveitar o vidro das janelas para espreitar horizontes de liberdade!
Todos sentimos e vivemos a certeza de que não é possível mudar de vida, para melhor, se não se vê um horizonte que aponte caminhos de mais felicidade, de melhor e maior realização pessoal e social.
Nunca temos como exagerada a referência frequente, e sempre necessária, do "código da Felicidade", tão bem desenvolvido e concretizado no capítulo das Bem-aventuranças, onde o Mestre chama Felizes a todos os que aceitam fazer percursos por caminhos muito contestados por tantos...
A missão do Pastor - e da Igreja, na sua bela tarefa de Mãe e de Pastora - não é empurrar nem forçar o rebanho a prosseguir caminhos nem critérios; oferece e aponta, e pode apresentar provas do que traz melhores resultados. Ainda assim, as fragilidades do barro que somos nem sempre deixam a liberdade suficiente para uma actuação correcta e consentânea com o Evangelho, aceite como critério de vida.
As escolhas e a oferta que fazemos de nós mesmos, na concretização e na resposta ao Chamamento, sugerem e supõem sempre parte dos mistérios gozosos, e também dos mistérios dolorosos: ao dizer sim, estamos a supor um não; ao decidir pela oferta, supomos e aceitamos o seu contrário. É o mistério da natureza que somos, mesmo com a envolvência do Deus Criador... E sem excepção! Por isso, todos fazemos a experiência da "prisão": mesmo se as grades são de metal dourado, não deixam de ser grades, que limitam e reduzem os campos da liberdade.
Uma vida, qualquer que seja a sua base de opção, tem sempre as zonas de escolhas e de renúncias, assumidas com responsabilidade e com júbilo.
Os Cristãos, com a consciência da sua grandeza na Fé, terão de ser alegres na vida e no testemunho: "Quando falta a alegria a um Cristão, esse cristão não é fecundo; quando falta a alegria no nosso coração, não há fecundidade", diz-nos o Papa. E continua, com uma afirmação, digna de um caixilho nas salas de acolhimento...e nos nossos salões de formação: "A Igreja não avançará, o Evangelho não pode avançar com evangelizadores enfadonhos, amargurados. Não... Só pode avançar com Evangelizadores alegres, cheios de vida" (28 Jan.2020).
Faz um apelo a toda a gente: Casados, Solteiros, Consagrados, Padres, Reclusos... para que, nas "prisões" da vida, não deixemos de ter "janelas e horizontes"!
Porque uma vida humana não acaba ali, de encontro ao primeiro muro, à primeira grade; nem perde o seu sentido e valor, em todas as fases da existência, mesmo se existe uma doença, uma detenção, ou uma qualquer outra limitação, que leve à tentação de promover, impor e fazer executar processos desumanos, ou de desistência limite.
Por uma janela, nem que seja estreito postigo, limitado por qualquer grade ou desgosto, queremos sempre deixar e proporcionar a entrada da Luz, da Vida e da Esperança... Janelas com horizonte, donde se espreite e criem, com o auxílio de mãos e de corações, certezas de Felicidade! 

Pe. João Gonçalves, 
Coordenador Nacional da Pastoral Penitenciária. 

Crónica publicada no Correio do Vouga desta semana 

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