sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Jesus, é Ele o Filho de Deus

Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo II do Tempo Comum

Georgino Rocha

“Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto… Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!"

Papa Francisco 

A Igreja, após o ciclo das festas natalícias, inicia uma nova fase na celebração da sua Liturgia. Designa-a por tempo comum e vai repassando de forma global a realização do projecto de salvação da humanidade que Deus tem em curso. Hoje, centra-nos no testemunho de João, após o baptismo de Jesus.
No dia seguinte ao baptismo, narra o Evangelho, viu João que Jesus ia ao seu encontro. E dá voz ao que antes tinha vivido no Jordão. Liberta as energias acumuladas e, sem rodeios, confessa: “Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Jo 1, 29-34.
Esta declaração manifesta a convicção profunda a que chega João Baptista, após um processo lento de busca e reconhecimento. Processo que fica como exemplo de quem se sente peregrino na fé e assume o desafio de procurar resposta para as interrogações do coração humano. Processo que revela, de modo especial, a inter-acção fecunda de Deus com o homem/mulher e a qualidade do encontro pleno desejado.
“O Jesus que João apresenta e que os Evangelhos mostram é o Jesus revelado pelo Espírito de Deus, não a projecção das miragens do homem; é o Servo obediente…, não um ídolo concebido pela mente humana ou fabricado pelas mãos do homem… Somos tentados a tornar velho, ultrapassado, anquilosado, atrofiado, o nosso conhecimento do Senhor, e podemos encontrar-nos a adorar um ídolo em vez do Senhor vivente”, afirma Manicardi, o prior da Comunidade Monástica de Boze, que prossegue com outras advertências para mantermos renovado o conhecimento do Senhor.
João não conhecia Jesus, facto estranho que indicia uma nova dimensão de conhecimento. Sendo primos de sangue, a sua relação era familiar e, consequentemente, de parentesco próximo, de pertença à mesma tribo, de membros da comunidade que tinha encontros e convívios por ocasião de festas rituais. A este nível, o conhecimento era normal, espontâneo, natural. Mas João não mente. O seu amor à verdade está comprovado com o testemunho de vida honrada e com o assumir corajoso do risco ocorrente – a condenação à morte por ordem de Herodes. Que pena, haver quem desconhece Jesus ou fica apenas pelo conhecimento humano, respeitando-o como guru, benemérito da humanidade ou agente revolucionário da não-violência!
A nova dimensão insinuada refere-se ao conhecimento interior iluminado pelo Espírito, acolhido no coração dócil e expresso na fé inteligente. É ele que abre horizontes diferentes à realidade humana e “define” a identidade profunda de cada pessoa. É ele que “mergulha” nos acontecimentos e desvenda o sentido que comportam em (des)conformidade com o projecto de salvação universal que Deus tem em curso na história. Não deixemos de prosseguir este conhecimento interior que nos faz penetrar no mistério de Cristo, acolher a sua novidade radical com um coração dócil e comunicar o seu amor misericordioso com ousadia confiante.
O P. Arrupe, que foi Mestre Geral dos Jesuíta, exorta-nos ao enamoramento e enaltece a sua importância no conhecimento de Jesus. E afirma: “Aquilo de que te enamoras, o que arrebata a tua imaginação, afectará a tudo. Determinará o que te faça levantar pela manhã, o que farás com os teus entardeceres, como passas os teus fins de semana, o que leias, a quem conheças, o que te destroça o coração e o que te enche de assombro, com alegria e agradecimento. Enamora-te, permanece enamorado, e isto decidirá tudo”. 
João expressa os passos do seu percurso com diversas designações. Refere-se a Jesus, afirmando ser: Cordeiro de Deus, homem ungido pelo Espírito, Filho de Deus. Noutras ocasiões, recorre a mais formas igualmente significativas. Todas convergem para esta realidade sublime: Jesus, o Filho de Deus, vem salvar-nos. Liberta-nos do pecado que desumaniza a pessoa e dessolidariza os cidadãos. Unge-nos com o óleo da alegria e do crisma para a missão de discípulos enviados. Dignifica-nos, como filhos de adopção, pelo baptismo que nos faz membros do seu povo, a Igreja, e templos do seu Espírito. A afirmação de João é confirmada por Deus Pai na ressurreição de Jesus, seu Filho.
A fraternidade humana nasce desta matriz comum. Somos todos irmãos. Daí, a importância de sabermos acolher a todos, sobretudo os perseguidos por causa da justiça e os emigrantes em busca de melhores condições de vida. Daí, a urgência imperiosa de caminharmos para a unidade e vivermos em amor recíproco, especialmente os que reconhecemos Jesus como Filho de Deus e Senhor da história humana. “Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto… Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!" – alerta o Papa Francisco. (A Alegria do Evangelho 99 e 101). E pratiquemos “uma benevolência fora do comum” , como outrora os habitantes de Malta ao recolherem os náufragos no Mediterrâneo, entre os quais São Paulo e 276 pessoas. (Este é o lema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que está a decorrer)

Pe. Georgino Rocha

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