Reflexão de Georgino Rocha - Quero ficar em tua casa
«O Papa Francisco, numa das meditações sobre Zaqueu, afirma que Jesus, ao chegar junto do sicómoro, para sem pressas, olha-o com atenção delicada, olha-o com paz. Olha-o com olhos de misericórdia, olha-o como ninguém irradiando afeição. Olha-o com olhos de misericórdia; olha-o como ninguém o havia olhado antes. E esse olhar abriu o seu coração, fê-lo livre, o sanou, deu-lhe uma esperança, uma nova vida…”.
O gesto de Jesus era inusitado. Jamais um judeu “de bom nome” tinha tal ousadia. Hospedar-se em casa de um publicano – considerado pecador público e, por isso, mal visto pelo povo fiel às leis e tradições comuns – significava participar da sua situação, ficar com o mesmo rótulo social e religioso, privar-se do estatuto que tinha alcançado e das bênçãos de Deus. Por isso, um coro de murmurações e protestos se faz ouvir na rua e nas imediações da casa de Zaqueu. E não seria para menos, tal a má fama de um e o bom nome de outro.»
Jesus, a caminho de Jerusalém, decide ficar em casa de Zaqueu e comunica-o em público. Faz-se convidado. E não espera resposta. Parece senhor da situação e ter a certeza de ser correspondido. E, de facto, assim acontece. Há uma sintonia profunda entre a sua vontade e o desejo ardoroso de Zaqueu. Jesus vem procurar e salvar o que anda “perdido” e o chefe de publicanos de Jericó manifesta uma consciência inquieta e uma preocupação ansiosa. O encontro dá-se e a alegria brota espontânea de um coração agradecido. Que bom ter-nos chegado esta preciosidade para nosso exemplo e imitação!
“A grandeza de Zaqueu, anota Manicardi, está no modo inteligente como assume a limitação da sua estatura e se vale de um sicómoro, a que trepa para poder ver Jesus. As limitações precisas que nos habitam (físicas, morais, intelectuais…) se forem assumidas com maturidade e inteligência, não nos impedem de encontrar o Senhor, antes permitem fazer acontecer esse encontro na verdade. Aquela assunção também nos dá inteligência para saber recorrer às criaturas que vivem junto a nós, para suprirem a nossa indigência”, afirma o mesmo autor.
O que terão conversado enquanto estavam à mesa e tomavam a refeição de acolhimento e boas-vindas? Que afeição iria crescendo em Zaqueu à medida que Jesus falava e lhe mostrava o amor libertador de Deus por todos, sem fazer excepção de pessoas, nem das circunstâncias em que vivem? Como se foi deixando envolver, progressivamente, até abraçar incondicionalmente a boa nova que Jesus lhe anunciava! Que revolução interior de critérios de avaliação e de opções balizadoras de um novo estilo de vida foram, entretanto, germinando no seu coração! A declaração final é muito elucidativa: “Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se defraudei alguém, restituirei quatro vezes mais”. Que maravilha de propósitos a realizar logo que possível.
O Papa Francisco, numa das meditações sobre Zaqueu, afirma que Jesus, ao chegar junto do sicómoro, para sem pressas, olha-o com atenção delicada, olha-o com paz. Olha-o com olhos de misericórdia, olha-o como ninguém irradiando afeição. Olha-o com olhos de misericórdia; olha-o como ninguém o havia olhado antes. E esse olhar abriu o seu coração, fê-lo livre, o sanou, deu-lhe uma esperança, uma nova vida…”.
O gesto de Jesus era inusitado. Jamais um judeu “de bom nome” tinha tal ousadia. Hospedar-se em casa de um publicano – considerado pecador público e, por isso, mal visto pelo povo fiel às leis e tradições comuns – significava participar da sua situação, ficar com o mesmo rótulo social e religioso, privar-se do estatuto que tinha alcançado e das bênçãos de Deus. Por isso, um coro de murmurações e protestos se faz ouvir na rua e nas imediações da casa de Zaqueu. E não seria para menos, tal a má fama de um e o bom nome de outro.
Jesus não perde a oportunidade e dá a conhecer o sentido profundo do que está a acontecer. Tira todas as “teias de aranha” que impedem de ver, com limpidez, o alcance do seu gesto libertador. “Hoje entrou a salvação nesta casa”. Zaqueu é também filho de Abraão, herdeiro das bênçãos prometidas por Deus. Eu, humano como vós, vim procurar e salvar o que anda perdido.
A salvação acontece no encontro de cada pessoa com Jesus Cristo, o Filho humanizado de Deus. Sem esta relação pessoal, que se faz de muitos modos, ninguém será salvo, ninguém reencaminha a sua vida para o Bem supremo, a Verdade plena, a Bondade perfeita. Relação pessoal que tem a sua fonte em Deus e se expressa na atenção delicada e solícita por todos os humanos, no respeito devido a toda a criação. Os bens entram, necessariamente, neste processo admirável de reconstrução original, neste dinamismo vital que visa propiciar a realização do sonho de Deus ser tudo em todos.
Quero ficar em tua casa, continua a dizer-nos Jesus: na consciência, na família, nas associações de bem-fazer, na sociedade, em todas as realidades do mundo, nas instâncias que defendem e promovem a vida, na Igreja. Acolhamos esta oferta/apelo e sentiremos a alegria de ser amados e responsabilizados.
Georgino Rocha