Ícone de Santa Joana |
Celebra-se hoje, 6 de fevereiro, o nascimento da Princesa Joana, que veio a ser a padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro. O povo canonizou-a pelas suas singulares virtudes, bem emolduradas por gestos de grande humildade. Eu sei que não faltam registos da sua vida plena em prol dos desfavorecidos, que seriam inúmeros no século XV, com a laguna aveirense, de águas estagnadas, a semear doenças por estas bandas. A Princesa não fugiu da sua "pequena Lisboa", porque era corajosa e seguidora do Senhor da vida.
Seria interessante continuarmos a falar da nossa Padroeira, sobretudo aos mais jovens, para que a sua memória perdure no tempo, aproveitando as datas marcantes da sua estada entre nós. É o que faço hoje.
Neste dia, socorro-me do livro "Aveiro, suas gentes, terras e costumes", que mais não é do que uma seleção de textos de D. João Evangelista de Lima Vidal, organizada pelo Padre João Gonçalves Gaspar e publicada em 1967, com edição da Junta Distrital de Aveiro. Nele, D. João Evangelista, primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro, diz assim:
"Não há dúvida de que S. Francisco de Assis teria alma para renunciar, não apenas a um lugar de mercador ou de caixeiro na casa paterna, mas a uma realeza, a uma coroa, a um ceptro, a todas as grandezas e vaidades do mundo; objectivamente, não fez um sacrifício tão grande como Santa Joana que, por amor de Deus e para poder dizer ao mundo que não, renunciou a um trono e, em vez de ser uma rainha, foi uma serva!
Todos os escritores de Santa Joana são unânimes em dizer que a escolha de Aveiro não teve outro propósito senão recolher-se a prófuga dos Paços Reais de Lisboa ao mosteiro mais pobre que se conhecia por esse tempo na Pátria. O seu túmulo é grandioso, é certo; mas lá dentro, daquelas cinzas humilhadas pela pobreza voluntária, pela penitência, pelos sacrifícios, sai cá para fora, através de todos aqueles mármores, de todos aqueles mosaicos, de todo aquele esplendor tumular, o grito desconcertante da alma da Santa: — Não!
O nosso mandato no mundo é fazermo-nos semelhantes a Cristo; não a Cristo com arminhos ao ombro, não a Cristo sentado em leito das voluptuosidades — isso não é Cristo — mas a Cristo pregado na cruz. E tudo o que seja uma traição a este mandato, um esquecimento desta missão, que oiçam a voz que clamam daqui, do fundo deste sepulcro, as cinzas da Santa: — Não!"
Fernando Martins
Notas:
1. A Princesa Joana, filha de D. Afonso V e de D. Isabel, nasceu a 6 de fevereiro de 1452, tendo sido batizada oito dias depois. Nessa altura, foi declarada herdeira do trono. Faleceu em Aveiro, em 12 de Maio de 1490, cerca das duas horas da madrugada, e a sua morte causou grande consternação. A notícia espalhou-se tão rapidamente, diz o Calendário Histórico de Aveiro, que, momentos depois, a igreja de Jesus estava apinhada de fiéis.
2. Em 4 de Abril de 1693, a Princesa Joana foi beatificada e em 1711, no dia 23 de Outubro, os seus restos mortais foram transladados para o túmulo de mármores polícromos, que pode ser apreciado no Museu de Aveiro.