Uma viagem medieval de Gonçalo Cadilhe
Gonçalo Cadilhe é um jornalista e escritor figueirense. A sua especialidade é viajar pelo mundo para, na hora certa (via rádio) ou posteriormente, editar relatos apaixonantes do que viu, sentiu e experimentou. Gosto sobremaneira da literatura de viagens porque, no fundo, somos levados pelos autores a viajar com eles. E deles, ficamos a conhecer pormenores com que nos brindam, sobretudo se os viajantes-escritores prepararam convenientemente a “peregrinação”, apoiados em bibliografia adequada. Foi o caso do livro que li durante uns dias das minhas curtas férias na Figueira de Foz.
Gonçalo Cadilhe oferece os seus leitores, na obra “Nos passos de Santo António — Uma viagem medieval”, um trabalho que contou com o apoio da Rádio Renascença”, onde foi dando conta do que viu, regularmente, de viva voz, pelas formas normais da comunicação à distância.
Na contracapa, sublinha-se que o autor “revisita um percurso feito há oito séculos”, tendo descoberto “um dos maiores viajantes da História de Portugal: Santo António”. E se foi, sem dúvida, um grande viajante, foi ainda um homem extremamente culto e um pregador exímio e convincente.
Salienta-se, também, que, “A par do diário de viagem, recria-se a vida do Santo e a atmosfera do início do séc. XIII: a Reconquista Cristã, o espírito das cruzadas, a guerra civil entre o Papa e o Imperador, a amizade com São Francisco de Assis».
Gonçalo Cadilhe utilizou “transportes apinhados de imigrantes», atacou “estradas de terra a dois mil metros de altitude”, visitou “ermos impenetráveis e Kasbah intimidantes” e com tudo isto construiu “uma biografia humana, laica, por vezes polémica, e profundamente documentada da vida inspiradora de Santo António”, como refere.
Santo António, “um dos maiores viajantes da História de Portugal” é conhecido por ter nascido em Lisboa, onde fora batizado com o nome de Fernando Martins [Curiosamente, também sou conhecido por este nome], tendo adotado o nome de António, quando, em Coimbra, onde estudou, aderiu, apaixonadamente, ao espírito, à vida e aos ensinamentos de São Francisco. E dali partiu para África, inspirado pelo exemplo de franciscanos mártires, em nome da fé que professavam e como era entendida naquele tempo.
A abrir o seu livro, em Nota Introdutória, Gonçalo Cadilhe é claro, quando escreve que o seu trabalho “não é o de um devoto, nem o de um historiador, nem o de um antropólogo da religião». É, contudo, “um olhar o de um viajante”, de “um companheiro de marcha que fez a mesma viagem [de Santo António] algum tempo depois”.
Gonçalo Cadilhe, jornalista-viajante que já conheço de outros trabalhos, exibiu no livro “Nos passos de Santo António — Uma viagem medieval” o cuidado que pôs na documentação consultou, nos contactos que estabeleceu, nas visitas que fez a templos e lugares por onde o Santo terá passado, onde terá pregado, onde meditou, mas ainda na Assembleia magna dos franciscanos, nos encontros com São Francisco.
O escritor-viajante iniciou a sua viagem em Lisboa e concluiu-a em Pádua, onde o Santo é venerado por peregrinos de todo o mundo cristão. Os santos não são tanto referenciados pelo dia e local de nascimento, mas sim pelo dia e local de onde partiram para o Céu. O jornalista e escritor-viajante tentou reconstituir os passos de Santo António sob o ponto de vista histórico, científico e humano. De fora ficaram “as situações relacionadas com atividades paranormais, taumatúrgicas ou sobre-humanas», do seu e nosso conterrâneo.
O livro apresenta-se, com edição de 189 páginas, fotos do arquivo pessoal do autor e de outros, quando assinalados, a cores, mapas com a indicação dos sítios por onde Santo António passou ou esteve, Bibliografia consultada. Edição do Clube do Autor.
Fernando Martins
NOTAS:
1. A publicação deste texto insere-se na perspetiva de sugerir a leitura do mesmo aos meus leitores e amigos;
2. A foto do livro é da rede global.