Georgino Rocha |
Santíssima Trindade
"Quando o amor é o caminho, a pobreza torna-se história. Quando o amor é o caminho, a Terra será um santuário. Quando o amor é o caminho, vamos baixar as espadas e os escudos junto ao rio para não estudarmos mais a guerra. Quando o amor é o caminho, existe muito espaço para todas as crianças de Deus. Porque quando o amor é o caminho, tratamo-nos uns aos outros como se fôssemos verdadeiramente uma família"
Michael Curry's,
bispo da Igreja Episcopal dos Estados Unidos.
A Igreja celebra hoje a festa da Santíssima Trindade, insondável no seu ser, acessível no seu agir. Tudo na vida cristã começa e termina nesta realidade admirável. “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” abre e fecha toda a celebração; está presente e actuante, de modo singular, na Eucaristia; acompanha e guia a Igreja na sua missão no mundo; anima os seres humanos no cuidado da natureza e da criação; abre-lhes horizontes de beleza nas obras de arte e de músca; atrai-os com a harmonia do universo.
Os sábios de todas as culturas descobrem os seus vestígios e dão-lhe nomes diversos; os profetas intuem o seu mistério e apontam possíveis vias de acesso; os estudiosos deixam-se seduzir pelo insondável e lançam-se na aventura da investigação; filósofos e teólogos ponderam o Infinito que os atrai, fazem reflexões ousadas e formulam doutrinas que visam dar alguma explicação. O magistério da Igreja alicerça as suas certezas na Escritura e na Tradição e codifica-as em verdades que, por vezes, são definidas como dogmas em linguagens culturais próprias da época. E para segurança doutrinal, celebra concílios e sínodos que definem com rigor o que se deve crer. Sirva de exemplo os do século IV (Niceia e Constantinopla) e que ainda hoje rezamos na missa. Será tremendamente difícil aos fiéis cristãos atingirem o alcance desta profissão da fé.
Apesar disso, vamos seguir de perto os seus enunciados fundamentais no que se refere à Santíssima Trindade, procurando o rosto humano de Deus nas pessoas divinas e no seu agir histórico, em cada um de nós e em todos os seres humanos. E façamos o nosso pequeno credo.
“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”. Deus é Pai, fonte de vida, de amor e ternura; é força que protege e defende, amigo que nunca nos abandona. Pai querido como Jesus nos ensina, berço da nossa vida e mãos robustas de Pai que nos recebe na morte e conduz ao lar da sua família. Pai que faz da bondade o seu rosto preferido que brilha em todas as pessoas bondosas. O Teu Nome quase desapareceu do nosso quotidiano. Não sabemos motivar bem as crianças e os jovens; nem as pessoas idosas que podem conservar na consciência a tua representação deformada. E é tão urgente fazer a sua reconfiguração original.
“Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”. Que alegria reconhecer Jesus de Nazaré, o Filho único de Deus. Por natureza, claro; pois, graças a Ele, os humanos são-no por adopção, sobretudo depois do baptismo. Olhando-O, vemos o Pai, podemos sentí-Lo como humano, amigo, próximo. Jesus recomenda-nos: Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste. E assim realizareis a missão que vos confio. A nossa humanidade, apesar de ferida pelo pecado, é sanada e torna-se o espelho do amor de Jesus por Deus Pai e por nós.
“Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida”. A generosidade de Deus repercute-se na fecundidade humana: na transmissão da vida, na cultura do espírito, na relação fraterna, no cuidado da “mãe” natureza, na promoção do bem comum, no anúncio da Palavra e na celebração dos sacramentos, nos gestos de bênção, na esperança do futuro que está a germinar e, um dia, atingirá a plenitude. O Espírito é alento e guia, hóspede do coração humano que quer ajudar a estar em sintonia com o coração de Deus. É força de solicitude que nos encaminha em todas as direcções, sobretudo na dos pobres e descartados. É amor de doação que brilha na relação dos noivos que celebram o casamento/matrimónio.
Há dias, foi realizado o casamento real britânico de Meghan e Harry. Preside Michael Curry's, bispo da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Descendente de escravos negros afro-americanos, faz sua a alegria da assembleia e, na sua homilia, afirma emocionado: "Quando o amor é o caminho, a pobreza torna-se história. Quando o amor é o caminho, a Terra será um santuário. Quando o amor é o caminho, vamos baixar as espadas e os escudos junto ao rio para não estudarmos mais a guerra. Quando o amor é o caminho, existe muito espaço para todas as crianças de Deus. Porque quando o amor é o caminho, tratamo-nos uns aos outros como se fôssemos verdadeiramente uma família". E uma grande salva de palmas ecoa nas naves do grandioso templo.
“Deus partilha connosco o Seu amor de Trindade: O Pai de ternura; o Filho de misericórdia; e o Espírito Santo de relação entre eles e faz da terra um espaço sagrado”. Esta síntese admirável provém das Monjas beneditinas de Monserrat, Barcelona. Vamos seguir algumas das suas reflexões sobre os caminhos do amor que irradiam nesta festa singular.
ConTigo, ó Pai, estamos no cimo dos cimos. Com dignidade, depois de cada ferida, de cada derrota. Que amplitude, Senhor! Tu nos ensinas o Amor: nada melhor, nada mais audaz, nada mais lúcido. Contigo Jesus, irmão de pobres e ricos, de livres e encarcerados, de generosos e mesquinhos. Tu nos ensinas a beleza da dignidade humana de cada um e de todos nós. Contigo, Espírito Santo, brisa suave no calor e na aflição, encanto e alegria nas horas felizes, força suave que discretamente nos guia, com verdade, nos caminhos da vida e da história. Sem pores condições. Livremente.
A 22 de Maio corrente, a Igreja celebra a festa de Maria, a Mãe da Igreja, por ser a Mãe de Jesus a convite de Deus Pai e com a cooperação do Espírito Santo. Ela, com José, seu esposo, torna-se símbolo familiar deste ser divino que se faz humano. Ela acompanha os discípulos de Jesus na Igreja nascente, no Pentecostes.
O Papa Francisco, na homilia desta festa, faz considerações pertinentes de que destaco duas: Como Maria, a Igreja é mãe se faz brilhar, na relação dos seus membros e no funcionamento das suas instituições, o amor e a ternura; de contrário, converte-se numa associações de beneficência ou numa equipa de futebol; de contrário, “quando é uma Igreja masculina, converte-se tristemente numa igreja de solteirões, incapazes de amor, incapazes de fecundidade”. Que a ternura da mamã se faça sentir entre nós, Igreja de Jesus Cristo, por vontade de Deus e com a força animadora do Espíroto Santo.
Georgino Rocha