Georgino Rocha
Jesus vive momentos decisivos da sua missão pública e de grande tensão interior. A hora da despedida aproxima-se. Os discípulos dão sinais de ainda não haverem entendido os seus gestos mais expressivos como o lava-pés, e as palavras mais claras como a parábola do Bom Pastor. Filipe faz-se porta-voz deste estado de ânimo e diz-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai”. Judas, não o Iscariotes, interroga-o sobre o seu modo de proceder. Pedro promete segui-lo ainda que tenha de morrer, e recebe a resposta aviso: “Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes”. O desnorte parecia claro. A lentidão aliava-se à confusão. E o tempo corre, aproxima-se do fim.
João, o discípulo amado e narrador do ocorrido, apresenta estes e outros sinais no chamado “Livro da Glorificação: O dinamismo da fé e o Amor”. Aqui se encontram a parábola do Bom Pastor e a alegoria da videira, além de discursos vários em que Jesus reafirma a mensagem já várias vezes apresentada. Hoje, a liturgia faz-nos contemplar a originalidade da comunhão de Jesus com Deus Pai e a novidade da relação com os discípulos. E como rostos humanos desta realidade, traz-nos Paulo, o convertido, e a audácia do início da sua missão apostólica; e João no apelo solícito a que amemos com obras e verdade. Rostos humanos que se prolongam em tantos cristãos que o são nos locais de lazer e trabalho, nas horas de aflição e de perturbação.
Jesus retoma a afirmação mais incisiva da sua mensagem: “Eu sou a videira e vós sois os ramos”. (Jo 15, 1-8). Esta expressão remete para a identidade pessoal e comunitária. É metáfora que nos indica a seiva nutriente da vida apostólica; é declaração envolvente da união desejada e da permanência assumida; é garantia de eficácia em obras fecundas que manifestam a glória de Deus Pai.
A linguagem da vinha era popular e familiar aos discípulos e despertava sentimentos de comunhão e participação. Os israelitas reviam-se nela, avivavam a memória de serem pertença do Senhor que os havia escolhido, e como o agricultor, sentiam-se responsáveis pelos cuidados indispensáveis à produção de bons frutos. E rezam cheios de confiança: “Vem visitar a Tua vinha (Senhor), a cepa que a Tua direita plantou, e que tornaste vigorosa… Que a Tua mão proteja o Teu escolhido, o homem que Tu confirmaste”. E nós, discípulos de todos os tempos, podemos cantar: A vinha do Senhor é a casa de Israel!
O Papa Bento XVI, perante numerosa multidão que afluiu à Praça de São Pedro para rezar e o ouvir, a 06 de Maio de 2012, afirma: Estimados amigos, cada um de nós é um ramo, que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação nos Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor”… Supliquemos à Mãe de Deus, a fim de permanecermos solidamente enxertados em Jesus, e para que cada uma das nossas obras tenha n’Ele o seu início e o seu cumprimento”.
“Permanecei em Mim” exorta Jesus os discípulos com desvelo. Não para se acomodarem numa burguesia espiritual de pasmar, mas para assumirem o ritmo do seu amor vibrante que não sossega à procura de meios para que a sua seiva revigorante a todos/as dê vida em abundância, a todos/as faça apreciar os frutos saborosos alcançados e as fases por que passaram para atingirem a maturidade desejada, a todos/as entusiasme no testemunho saudável, sempre necessário, na sociedade poluída e enferma, apesar das aparências em contrário.
“E dareis muito fruto”. Não para acumular com egoísmo ou se autocomprazer, mas para que o Espírito Santo manifeste a abundância dos dons com que nos enriquece e humaniza a Igreja e a sociedade, e se fazem gestos de misericórdia e solidariedade, de voluntariado e serviço estável, de doação definitiva à promoção do bem comum e ao serviço pleno aos mais empobrecidos. Na formação integral para a intervenção social. No seguimento de Jesus, na esteira de tantos homens bons da humanidade e da Igreja.
O Papa Francisco, na alocução de 3 de Maio de 2015 perante milhares de fiéis adianta que: “ Se alguém estiver intimamente unido a Jesus, usufruirá dos dons do Espírito Santo, que - como nos diz são Paulo - são: «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança» (cf. Gl 5, 22); e por conseguinte faz muito bem ao próximo e à sociedade, é uma pessoa cristã.
De facto, a partir destes comportamentos reconhece-se se uma pessoa é um cristão verdadeiro, como dos frutos se reconhece a árvore. Os frutos desta união profunda com Jesus são maravilhosos: toda a nossa pessoa é transformada pela graça do Espírito: alma, inteligência, vontade, afectos e até o corpo, porque somos unidade de espírito e corpo. Recebemos um novo modo de ser, a vida de Cristo torna-se nossa: podemos pensar, agir, ver o mundo e a realidade com os seus olhos, como Ele. Consequentemente, podemos amar os nossos irmãos, a partir dos mais pobres e sofredores, como Ele fez, amando-os com o seu coração e assim produzir frutos de bondade, caridade e paz”. nutriente.
Que alegria ser cristão, a sério. Unido a Jesus como o ramo à videira por meio da seiva