P.e Georgino com D. António num encontro de diáconos permanentes |
P.e Georgino Rocha |
Coube-me a honra de dirigir algumas palavras de gratidão ao P.e Georgino Rocha, que nos acompanhou, durante quase 30 anos, como delegado do nosso bispo para o diaconado permanente. Faço-o numa perspetiva da fé que nos anima e da amizade que nos une, na certeza de que muito dele recebemos ao longo deste tempo, tanto ao nível eclesial como humano. Não apenas nós, aqui presentes, mas também os que não puderem estar connosco e, ainda, os que já partiram para o regaço maternal de Deus, que hoje queremos evocar, considerando-os vivos em nós e connosco.
O P.e Georgino pautou a sua ação, na nossa ótica, por uma amizade franca e espírito aberto, tendo como matriz a Boa Nova de Jesus e a leitura dos sinais dos tempos, fundamentais nos nossos quotidianos, assentes no serviço aos homens e mulheres das gerações atuais, crentes ou não crentes. Realmente, todos os povos necessitam de testemunhos concretos, que exprimam o rosto misericordioso que Cristo legou à Igreja.
Na hora do acolhimento, onde quer que estivéssemos, o P.e Georgino foi o amigo solidário, o responsável compreensivo, o mestre de cultura multifacetada, o presbítero disponível e o conselheiro com a arte de saber escutar, sem nunca descurar o fim pedagógico da sua postura na vida. Nas conversas, formais ou informais, que mantinha connosco, a ponderação e a objetividade sobressaíam nas suas intervenções, como pistas abertas a novos desafios.
Vezes sem conta o vi silencioso durante as nossas reuniões, deixando-nos falar abertamente. Cada um dizia o que entendia ser o melhor, mas sem consenso à vista. Tomando a palavra, o P.e Georgino, serenamente, com uma capacidade de síntese notável, ditava as palavras certas, os conceitos fundamentais e os conselhos oportunos. Eram, no fundo, lições para o dia a dia de cada um de nós e para a nossa sociedade, em constantes e rápidas mutações, tão frequentemente ao arrepio dos nossos princípios e valores cristãos.
Do ritual da ordenação diaconal, permitam-me que recorde, hoje e aqui, o que então nos marcou, reforçando a nossa vocação, direcionada para uma disponibilidade de serviço em nome da Igreja no mundo secularizado, onde presbíteros e bispos nem sempre podem agir. E destaco uma expressão muito simples e muito clara, que, julgo, jamais olvidaremos:
«Crê o que lês,
ensina o que crês
e vive o que ensinas»
Tendo em consideração este lema, com lugar reservado nas gavetas das nossas memórias, o P.e Georgino foi, fundamentalmente, um responsável atento nas formações que orientou ou promoveu e nas palavras amigas que habitualmente nos dirigiu, abrindo portas para novas caminhadas de fé e janelas para novos horizontes. Dessas gavetas brotam, a partir da oração e da reflexão, as decisões adequadas para os nossos comportamentos e ações, no meio em que nos movemos, pela palavra, pela escrita e pelo testemunho.
O P.e Georgino mostrou, ao longo destes anos, uma rara capacidade de ouvir e de dizer: Simples, objetivo, direto…. O suficiente para uma reflexão que cada um tem ou deve fazer. Dificilmente se discorda do seu pensar assente nos livros sagrados, permanentemente atento aos alertas, desafios e apelos dos Papas e dos nossos bispos. E também de outros bispos, teólogos e mesmo de humildes santos das nossas comunidades, que nos dão exuberantes lições de vida alicerçadas nos Evangelhos e demais textos sagrados. Lições, exemplos e testemunhos que não chegam às parangonas da comunicação social, mas que ficam no coração de quem tem tempo e sentimento para as apreciar no dia a dia. E disso nos tem dado nota testemunhal o P.e Georgino, no muito que escreve, nas reflexões semanais que publica, e nos livros com que nos brinda a um ritmo frequente. No dia 17 de janeiro, lançou mais um livro — Rostos de Misericórdia – Estilos de vida a irradiar — que merece ser lido com urgência, tal é a sua oportunidade, o seu estilo e a riqueza do seu conteúdo.
O Padre Georgino é um homem sereno, estudioso, consciente da importância de estar no mundo com a missão de anunciar o reino, que tem de ser nossa prioridade enquanto batizados, pelas formas mais diversa. Pelo exemplo, pela palavra e pelo testemunho, em casa, no ambiente de trabalho, na política, nas escolas, no lazer, no adro das igrejas e muito para além dele, nas redes sociais onde convivem o mau e o bom, o santo e o pecador, o cristão, os seguidores de outros credos e os ateus ou agnósticos. E não é por acaso que o Padre Georgino não se cansa de partilhar reflexões que há bons anos publica no meu blogue e noutros sítios do ciberespaço, cujo privilégio de as ler e editar muito lhe agradeço.
Apesar de algumas limitações físicas, de que não se queixa, o Padre Georgino brinda-nos frequentemente, aproveitando o tempo, todo o tempo, para além das suas obrigações enquanto presbítero com diversas responsabilidades, para desafiar cada leitor a contemplar os problemas e angústias, as alegrias e tristezas, os progressos e os retrocessos civilizacionais da nossa era. Na matriz dos seus escritos, nunca falta a coerência cristã, a análise reflexiva e a atenção ao bem comum. Jesus Cristo e a sua mensagem — a maior revolução da história da humanidade —, tão atual como desde a primeira hora, é, indiscutivelmente, a razão de ser do que diz, escreve ou prega. Nós tivemos a felicidade de o ter por companheiro qualificado na nossa caminhada durante quase 30 anos. Mas o P.e Georgino vai continuar connosco.
Fernando Martins
NOTA: Tópicos para as palavras que proferi em jeito de agradecimento ao P.e Georgino Rocha pelo seu contributo na formação dos diáconos permanentes da Diocese de Aveiro, durante cerca de 30 anos.