Toca a fugir |
Tourada |
Estátua aos Touros |
Paixão pelas touradas |
Praça de Touros |
Há coisas que se fossem combinadas não
correriam tão bem. O tema que escolhi para esta semana foi a “tourada à corda”.
O Prof. Fernando Martins pensou no mesmo, por o seu filho Pedro estar de visita
aos Açores. Ainda bem, pois um trabalho complementa o outro. Assim sendo, passo
a dar a conhecer o que já tinha escrito a este respeito.
Touradas
A ilha Terceira é terra de touros e touradas. Em
Angra do Heroísmo existe uma praça de touros frequentada por muitos aficionados.
Os irmãos Pamplona, a cavalo, e os “Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica”
(de Angra) e os “Forcados Amadores do Ramo Grande (da Praia da Vitória)” são dos
nomes
mais sonantes na ilha.
Mas a verdadeira paixão dos
terceirenses são as “touradas à corda”, realizadas nas ruas da ilha entre 1 de
Maio e 15 de Outubro de cada ano. Durante este período realizam-se mais de 400
touradas que atraem milhares de aficionados à “festa brava”.
O primeiro registo de um evento
desta natureza ocorreu em 1622, ano em que a Câmara Municipal de Angra do
Heroísmo organizou a primeira “tourada à corda” enquadrada nas celebrações da
canonização de S. Francisco Xavier e de Santo Inácio de Loyola.
Numa tourada de
rua participam quatro touros, num percurso que
ronda os 500 metros. O animal é controlado por uma corda comprida, com cerca de
100 metros, puxada, quando necessário, por sete a doze “pastores” que
trajam blusa branca, chapéu preto e calça acinzentada.
A festa arranca logo pela manhã,
na pastagem, para escolher os touros para a festa. Segue-se um almoço ao ar
livre, muitas vezes acompanhado por música.
Algumas horas
antes da tourada, os quatro touros separados são colocados em gaiolas de
madeira, sendo o transporte para o local da corrida seguido por uma caravana de
carros enfeitados com hortênsias.
Às 18H30 é
lançado um foguete anunciando o início dos festejos, altura em que o primeiro touro
sai da gaiola. Até ao pôr-do-sol sairão os restantes. Cada animal anda na rua perto
de 20 minutos.
Entre a lide de cada
touro existe um intervalo, que ronda um quarto de hora, aproveitado para dar
escoamento ao trânsito e para os homens petiscarem nas “tasquinhas” ambulantes mesmo
ali à mão. Por ali também andam vendedores de batatas fritas, pevides, amendoins,
pipocas e donuts, para além de outras
guloseimas. As touradas são uma
excelente fonte de receita para as gentes da região. Basta dizer que os
negócios ligados aos touros movimentam quase 40 milhões de euros por ano! Uma
particularidade: os que moram na zona do arraial preparam mesas fartas para familiares
e amigos e mesmo para alguns forasteiros que são convidados a associarem-se ao
repasto.
Qualquer pessoa
pode arriscar enfrentar o touro e ninguém paga bilhete para assistir ao
espectáculo. É tradição as mulheres ficarem nas varandas, ou nos terraços, enquanto
os homens se divertem no arraial. São considerados os mais destemidos aqueles
que não se afastam muito do bicho.”
Alguns dos que por ali andam ainda
não compreenderam que o peso dos anos já lhes roubou a agilidade de outrora e,
por mais voltas que dêem, acabam quase sempre por se ensarilhar nos chifres do touro.
Quando chega a hora, os que tiverem pernas para fugir correm até se sentirem
seguros. Não havendo tempo, trepam muros, portões, árvores, postes de
iluminação ou àquilo que estiver mais a jeito.
Outros, menos ágeis, ao verem
as coisas mal paradas, atiram-se para o chão, protegendo a cabeça com as mãos,
na esperança de não serem colhidos. Muitas vezes safam-se! Mas, mais cedo ou
mais tarde, o touro acaba por atirar alguém contra um muro ou, pegando-lhe
pelos fundilhos das calças, lança o desgraçado ao ar provocando-lhe uma queda
aparatosa.
Mas nem só os que andam na
estrada podem sofrer com a passagem do touro. Há pessoas sentadas nos muros que
atiçam o bicho. Ora os muros, às vezes, são de construção frágil, compostos por
calhaus soltos, uns por cima dos outros, rematados por uma camada de cimento. O
bicho investe com tal ferocidade que esfrangalha aquilo tudo, pondo em perigo
quem se julgava a salvo dentro do pátio. Se isto acontecer o pânico é geral,
com toda a gente a esquivar-se, esbaforida, para a rua.
Se por um lado há pessoas que saem muito
combalidas da refrega, outras há que são verdadeiros artistas na arte de escapar
às investidas do touro. São os “capinhas” que, com ares de diestro, toureiam com capas improvisadas, guarda-chuvas
abertos, uma peça de roupa, etc.
Há também quem enfrente o bicho
completamente desarmado. Homem contra o touro. No campo das “touradas à corda”,
luta mais leal não há! A única safa que têm, para não serem colhidos, é correr
com passo miudinho, em círculos muito apertados, para vergar o touro,
cortando-lhe a investida. Chegam a andar tão perto que roçam com a mão, durante
alguns segundos, a testa do bicho.
Após a lide, os animais voltam
aos campos para voltarem a ser utilizados quando necessário, mas nunca num
período de tempo inferior a uma semana. Nas pastagens os touros têm alimentação
saudável. São vacinados pelo médico veterinário que também os assiste em caso
de doença.
A realização de corridas de “touros à corda” foi adquirindo um conjunto de
regras de cariz popular respeitadas por todos. Estas normas definem, através
dos riscos brancos pintados na via pública, até onde o touro pode ir, o lançamento
de foguetes que anunciam o início e o fim de cada lide, para além de haver o
cuidado de os touros terem as pontas dos chifres cobertas por algo que
proporcione alguma protecção dos espectadores. Também as casas, muros, varandas
e janelas, são tapados com protecções de madeira para evitar prejuízos quando o
animal investe contra as coisas.
As touradas podem realizar-se mesmo em dias de condições atmosféricas
desfavoráveis.
No final da tourada, a festa continua com “comes e bebes” ao qual os
terceirenses chamam o “quinto touro”, que dizem “pegar mais” do que os touros
verdadeiros.
Quem estiver interessado em conhecer melhor o que é uma “tourada à corda”,
basta digitar, por exemplo: Imagens da
Tourada à corda CAJAF na Feteira de 21 de Agosto de 2014.
Obs.- Fotos extraídas da rede social.