Somos o país europeu com as fronteiras definidas há mais tempo
«Estou convencido que a entrega pura e simples de Olivença a Portugal não vai acontecer, mas se tivermos habilidade e engenho nós poderemos conseguir, a exemplo de outras situações, aquilo que se chama um condomínio internacional, isto é, um condomínio entre Portugal e Espanha», afirmou Freitas do Amaral na conferência que proferiu na quinta feira, 27 de abril, no salão anexo à igreja matriz da Gafanha da Nazaré. A iniciativa partiu da Universidade Sénior do Centro Social Paroquial Nossa da Nazaré, com coordenação de Disciplina História e Comunicação.
«Estou convencido que a entrega pura e simples de Olivença a Portugal não vai acontecer, mas se tivermos habilidade e engenho nós poderemos conseguir, a exemplo de outras situações, aquilo que se chama um condomínio internacional, isto é, um condomínio entre Portugal e Espanha», afirmou Freitas do Amaral na conferência que proferiu na quinta feira, 27 de abril, no salão anexo à igreja matriz da Gafanha da Nazaré. A iniciativa partiu da Universidade Sénior do Centro Social Paroquial Nossa da Nazaré, com coordenação de Disciplina História e Comunicação.
Freitas do Amaral, conhecido político e catedrático de áreas ligadas ao Direito, apresentou um relance sobre a História de Portugal, partindo das fronteiras terrestres que nos separam do país vizinho, que saíram do tratado de Alcanizes, celebrado entre Portugal e Castela, em 1297, sendo rei D. Dinis. E sublinhou que «somos o país europeu com as fronteiras definidas há mais tempo».
Recuando séculos, o orador frisou que já os romanos haviam registado fronteiras semelhantes, com base em critérios naturais, designadamente rios e outros acidentes geográficos.
Evocou a entrada do povo nas cortes, pela primeira vez, no tempo de D. Afonso III, «um grande rei de Portugal», participando nessa assembleia «os homens bons dos concelhos». Isto prova que Portugal foi «o primeiro país europeu, e provavelmente o primeiro país do mundo, que teve o povo a participar nas cortes, o parlamento medieval». «A Inglaterra seguiu essa linha 15 anos depois e França 60 anos depois de nós». E frisou que os homens bons não estavam nas cortes a título meramente consultivo, mas deliberativo, nomeadamente em «matérias financeiras». E a título de curiosidade, informou que no nosso país nunca mais o povo deixou de participar «até vir o absolutismo, com D. Pedro II, D. João V, D. José e D. Maria. Mas voltou na Revolução Liberal e nunca mais deixou de marcar presença nas cortes», disse.
Salientou a crise de 1383–1385 e o papel do povo na escolha de um Rei que iniciou uma nova dinastia, D. João I, que não estaria na linha da sucessão, o que terá acontecido pela primeira vez na Europa. Foi uma dinastia brilhante, pois foi nela que aconteceu o período áureo da nossa história, com os descobrimentos, adiantou o orador. Aliás, o mesmo aconteceu aquando da restauração, em 1640, em que vencemos o poderoso vizinho, com quem lutámos durante 28 anos, estando o povo na linha da frente e na escolha de um rei «que não tinha direito ao trono».
Não negando a componente comercial e científica dos descobrimentos, Freitas do Amaral salientou a importância da missão espiritual e cultural, com marcas indeléveis nas igrejas, casas, palácios e fortalezas, que perpetuam a presença dos portugueses nos quatro cantos do mundo. Valorizou, naturalmente, a nossa língua que ficou como testemunho do encontro de portugueses com povos sem conta e referiu a presença de inúmeros sacerdotes que foram arquitetos, missionários, professores e médicos em todos os quadrantes.
Freitas do Amaral, que passo a passo evocou a intervenção das populações em tantas circunstâncias, terminou a sua conferência com a escolha dos políticos que mais apreciou, desde o início da nacionalidade. D, Afonso Henriques, o fundador, e D. João II, a figura que mais admira da monarquia, «justamente por ter tido uma visão planetária» e por «tocar com as suas mãos em todas as partes do mundo».
Da primeira república distinguiu Afonso Costa, seguindo na sua linha de pensamento Oliveira Salazar e Mário Soares. O primeiro e o último, democratas e Salazar, o ditador. Em Salazar viu um estadista no tempo da Guerra Civil de Espanha e na II Grande Guerra. De Mário Soares disse ter sido o melhor político depois do 25 de Abril, pois «ajudou a construir uma democracia estável, já com 43 anos. E se Afonso Costa perseguiu a Igreja, Mário Soares sempre teve em consideração os princípios religiosos do povo português, marca que deixou dentro do seu próprio partido. De tal modo que hoje, um governo de esquerda, apoiado por partidos de esquerda, respeita as convicções do povo. E até concedeu tolerância de ponto no dia 12 de maio para os funcionários públicos poderem participar, se o desejarem, nas cerimónias de Fátima, com o Papa Francisco.
Fernando Martins