sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Dar testemunho de Jesus, o Filho de Deus

Reflexão de Georgino Rocha


 “A alegria do amor 
que se vive nas famílias 
é também o júbilo da Igreja”

Após o ciclo litúrgico e festivo do Natal, a Igreja entra no tempo comum e propõe que voltemos ao que foi celebrado e aprofundemos a sua relação com a nossa vida, o seu alcance para o cuidado da criação, o seu sentido para a história da humanidade. Isto é, que nos familiarizemos com Jesus Cristo e a sua mensagem.
João Baptista surge, hoje, a dar o seu primeiro testemunho a respeito de Jesus. Fá-lo, ao ver que Ele vem ao seu encontro e se aproxima. Recorre a metáforas bíblicas conhecidas pelos ouvintes: O cordeiro e a pomba. Ambas de grande simbolismo. O cordeiro pela mansidão, ternura, vulnerabilidade, relação com o rebanho e o pastor. A pomba pela inocência e pela paz, pelo amor puro e pela esperança anunciada.
O livro bíblico «Cantico dos Cânticos» desenha muito bem a riqueza das metáforas para expressar o amor humano, reflexo do amor divino: “Pomba minha… deixa-me ver a tua face, ouvir a tua voz, pois a tua face é tão formosa e tão doce a tua voz” (2, 14). “Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito” (5, 2). E o rosto do masculino e do feminino, em harmonia deslumbrante, faz surgir a beleza do amor fontal e da torrente criadora. Esta metáfora torna-se recorrente na revelação do amor de Deus por nós e alcança em Jesus e na sua relação com a Igreja a realização plena.
Por isso, o papa Francisco pode dizer: “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja”. (AL 1). E apresenta uma bela e exigente meditação sobre este amor quotidiano no capítulo quarto da sua exortação apostólica. Exigência impregnada de paciência e atenção ao outro, de abnegação e sacrifício.

O cordeiro de que fala João Baptista é Jesus. A paixão e morte do Calvário são interpretadas na sequência da imolação dos cordeiros no Templo de Jerusalém. Não como propiciação a um Deus cruel que necessita do sangue do Filho para se acalmar e refazer a aliança. Seria um Pai sanguinário, um Senhor justiceiro. Dá medo pensar num Deus deste tipo. O “derramamento de sangue” (Heb 9, 22) exigido para o perdão dos pecados, é a manifestação do amor vivido até ao fim por Jesus e o resultado da convergência de factores humanos, religiosos e políticos dos judeus e romanos. É mais a confiança de Deus Pai na generosidade do Filho, a sua condescendência e o seu respeito pela liberdade humana. E após a paixão, surge a ressurreição. E do madeiro verde, a cruz florida. O ser humano manifesta a sua dignidade integral!

João prossegue a narração do que aconteceu com a confissão humilde da sua missão: Não sou quem pensais; vim preparar o caminho; não conhecia aquele que vai chegar e passa à minha frente; baptizo para ele se manifestar; vi o Espírito Santo em forma de pomba descer e permanecer sobre ele; dou testemunho de que é o Filho de Deus. (Jo 1, 29-34). E deu, agora e em muitas outras ocasiões, na vida pública e na prisão, suscitando a adesão de uns e o ódio de outros, de que se destaca Herodíades pela turbulenta e infiel vida conjugal.

Jesus, pela sua doação incondicional e sem limites, tira o pecado do mundo, não apenas nas manifestações, mas nas próprias raízes: o egoísmo que fecha a pessoa em si mesma, a vontade de dominar a sabedoria do bem e do mal, a ganância da posse, a satisfação a curto prazo, o calar a voz da consciência e negar a finitude da humanidade, o corte da relação com Deus amor, fonte de vida e de amor.
A fé da Igreja proclama esta certeza, repetindo na celebração da eucaristia: ”Felizes os convidados para a ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. E a comunhão, feita a seguir, sela a sua aliança connosco para erradicar as forças do mal que desumanizam as pessoas, perturbam e amarguram a convivência na sociedade, fazem passar por verdade aquilo que objectivamente é mentira e manipulação; numa palavra, promovem uma cultura de indiferença, de vazio, de morte.

A fé é a melhor “herança” que os pais podem dar aos seus filhos, afirma o Papa Francisco após o baptismo de 32 crianças na Capela Sistina do Vaticano. E prossegue: “Vós sois aqueles que transmitem a fé, tendes o dever de transmitir a fé a estas crianças: é a mais bela herança que lhes deixareis, a fé!” O Papa recordou que o Batismo foi um mandato explícito de Jesus, que enviou os seus discípulos a baptizar “por todo o mundo”, e que até hoje esta é uma “cadeia ininterrupta” que segue de geração em geração. E desta maravilha, nós somos testemunhas.

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